A ABIFINA comemorou, no dia 18 de junho, seu aniversário de 35 anos com uma apresentação do embaixador Rubens Barbosa, diretor-presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE) e a entrega de premiações. A palestra e as homenagens aconteceram durante a reunião do Conselho Administrativo da entidade, realizada virtualmente em função da pandemia.
A palestra do embaixador Rubens Barbosa abordou o cenário atual da diplomacia brasileira e seus desdobramentos para o setor industrial de química fina. Para ele, nos últimos 100 anos nunca houve uma gestão tão desastrosa quanto à de Ernesto Araújo na política externa brasileira. “Agora o novo ministro, Carlos França, está trazendo o Itamaraty de volta ao seu eixo normal, mas os danos já foram feitos. Perdemos nossa liderança regional e o Mercosul está em uma encruzilhada”.
De acordo com o embaixador, o modelo de desenvolvimento industrial brasileiro dos últimos 60 anos não funciona mais e abrir a economia nacional de forma unilateral é muito complicado. “Deveríamos fazer uma abertura gradual para que nossas empresas tivessem tempo para se preparar para a concorrência com as estrangeiras. Em função do Custo Brasil, desburocratização e reforma tributária deveriam ser prioridade”.
Para Barbosa, os desafios internos são inovação, tecnologia, inteligência artificial e aproveitamento do 5G. “Já no âmbito externo a realidade mudou e as negociações tarifárias, por exemplo, são obsoletas. Hoje a política interna de cada país deve dialogar com o mercado externo”, pontuou. Um exemplo é o acordo entre Mercosul e União Europeia, no qual a questão ambiental é cada vez mais importante e pode causar problemas caso não tenha a devida atenção da parte do Brasil.
O setor de química fina terá que se preparar para enfrentar a abertura da economia e, para tal, deve discutir uma estratégia com o governo no sentido de aumentar a competitividade nacional. “Isso deveria ser uma bandeira do setor privado, que deveria pressionar o debate no Congresso. Outro ponto consiste em exigir mais transparência do governo em relação às negociações dos acordos comerciais”.
Rubens Barbosa considera que o setor privado deve pleitear do governo o incentivo à reindustrialização. “A desindustrialização já aconteceu. Temos que saber aproveitar o 5G – as redes privadas vão revolucionar as indústrias. O governo deve criar condições para incentivar a indústria nacional em áreas estratégicas, como saúde, defensivos agrícolas e Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs). Poderíamos começar por nos inserir na cadeia produtiva de fármacos internacional. Caberia ao governo mudar o ambiente regulatório, tornando-o mais amigável, e às empresas buscar tecnologias e investidores”, concluiu.
Homenagem – Maurizio Billi e Mauricio Zuma receberam premiações
O “Prêmio Alcebíades de Mendonça Athayde de Mérito Industrial” foi entregue a duas personalidades que se destacaram no segmento. Sergio Frangioni, presidente do Conselho Administrativo da ABIFINA, anunciou o nome de Maurizio Billi, presidente da Eurofarma, como homenageado da quarta edição do prêmio – programada para 2020, mas adiada em função da pandemia de Covid-19. A escolha se deve ao compromisso de sua empresa com o desenvolvimento amplo e sustentável da sociedade.
“Fico muito orgulhoso com esse prêmio, ainda mais por levar o nome do professor Athayde, um dos pilares do nosso segmento”, disse Billi.
O segundo prêmio foi concedido pelo presidente-executivo da entidade, Antonio Bezerra, ao diretor de Bio-Manguinhos, Mauricio Zuma, indicado para a quinta edição. Bezerra destacou a importância da liderança de Zuma neste momento crucial em que a Fiocruz se esforça para prover o Brasil com vacinas contra a Covid-19.
“Graças ao forte conjunto de competências formado ao longo de quatro décadas, fomos capazes de oferecer uma resposta rápida à pandemia. Ressalto também a relevância das articulações entre os institutos de pesquisas e as indústrias, o segredo do sucesso nesse setor”, afirmou Zuma.
Aniversário da ABIFINA
A parte final do evento foi destinada a uma apresentação sobre os 35 anos da ABIFINA: sua fundação, em 1986; o protagonismo nas rodadas de negociação do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e, posteriormente, na formulação da Lei da Propriedade Industrial (LPI); o trabalho durante a elaboração da Lei da Biodiversidade, sancionada em 2015; e vários outros momentos marcantes até a vitória histórica contra a extensão dos prazos de patentes, obtida com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pela inconstitucionalidade do parágrafo único do artigo 40 da LPI em maio deste ano.