ENIFarMed discute o desenvolvimento tecnológico do setor, com a especialista internacional Steffi Friedrichs



O mundo se articula para criar o arcabouço necessário para usar a nanotecnologia na medicina com segurança para a saúde e o meio ambiente. A avaliação foi feita pela especialista Steffi Friedrichs, da Nanotechnology Industries Association (NIA), na abertura do 5º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed), nesta segunda-feira (29/08), em São Paulo. Ela defendeu que governo e agências reguladoras devem se juntar para solucionar as questões regulatórias, problema existente ainda em todos os países, oferecendo maior confiança ao público consumidor, que ainda tem no imaginário suspeitas sobre possíveis efeitos maléficos de produtos de base nanotecnológica.


Essa articulação, no Brasil, ainda é precária, na opinião de Helvécio Rocha, da Fiocruz. Poucas instituições representativas da indústria, como a Abifina, cumprem o papel de intermediar a discussão junto ao governo. O resultado é que aumenta a aversão ao risco nos investimentos do setor. Na tentativa de equacionar a separação entre Estado e iniciativa privada no tema, Rocha questionou: “O cenário nos leva à reflexão: quem deve ficar à frente da nanotecnologia? O setor público ou privado? As empresas nacionais ou internacionais? Ficaremos somente como produtores de genéricos ou teremos nanomedicamentos verde e amarelo?”.


Para Rocha, outro gargalo no País é a falta de profissionais com conhecimento especializado em microscópios mais avançados e em processos produtivos. “Mesmo mestres e doutores não conhecem os processos de escalonamento industrial”, disse.


Steffi Friedrichs também apresentou entraves apresentados pelo Brasil à pesquisa e desenvolvimento, identificados no levantamento internacional Nano2Market, produzido pela NIA. Segundo o estudo, o País tem pouca infraestrutura e competência técnica para a inovação farmacêutica, o que representa risco adicional para o desenvolvimento da nanotecnologia.


Mundo


Ainda de acordo com o levantamento, em todo o mundo a nanotecnologia encontra barreiras para proliferar. Transferência de tecnologia, falta de pessoal qualificado para reconhecer a propriedade intelectual, o escalonamento e a confecção de protótipo são algumas delas. “A substância desenvolvida funciona fantasticamente no laboratório, mas acaba ficando algo pendente quando se passa para a etapa seguinte”, explicou Steffi.


Nos países em que a nanotecnlogogia é prioridade de Estado, governos investem no desenvolvimento e estudo da segurança, como a Alemanha, que aplicou, em 2004, 50 milhões de euros em nanotecnologia. Há, ainda, governos atuantes no estabelecimento de diretrizes adaptadas para aceitação mútua de dados entre países na OCDE – um acordo ao qual o Brasil aderiu recentemente.


Investimento


Steffi apontou, em sua apresentação, que as prioridades da indústria farmacêutica são estudos como os de órgãos artificiais com engenharia de tecido e de tratamento do câncer. Para as pequenas indústrias brasileiras que pretendem crescer no mercado, ou mesmo vender o negócio para uma grande empresa, a especialista indicou a necessidade de se estudar previamente o quanto será necessário gastar na aprovação do produto, outro gargalo do setor. “O desenvolvedor também precisa saber se está debaixo da regulamentação médica ou farmacêutica”, alertou a representante da NIA, entidade que oferece colaboração para P&D, estudos para transferência tecnologia, apoio na formação de parcerias público-privadas e suporte jurídico.


Apesar de todas as dificuldades, o setor tem investido pesado em P&D. Segundo dados mostrados por Helvécio Rocha, hoje 400 estudos clínicos com nanotecnologia estão em andamento no Food and Drugs Administration (FDA), a agência reguladora americana para alimentos e medicamentos. De 70 a 80% deles estão voltados para o câncer.


Rocha aposta que o saldo dessas pesquisas para a inovação radical pode estar na integração da nanotecnologia com a biotecnologia. “A fusão entre as duas áreas pode trazer essa era de inovação tão prometida. Talvez seja a única alternativa viável para a aplicação da genômica e da proteômica”, disse.



(Fonte: Natália Calandrini para Abifina – 30/08/2011)

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