Cerca de 50% de todos os agrotóxicos registrados no Brasil não são colocados à disposição dos agricultores. É o que apontam os dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nesta quarta-feira (11/4), durante 2º Seminário Mercado de Agrotóxicos e Regulação, em Brasília (DF).
Além disso, 24% das empresas de agrotóxicos instaladas no Brasil não produziram, nem comercializaram nenhum produto durante a última safra. “Além de apontar para uma estratégia de reserva de mercado, essa prática representa uma perda para os agricultores, que são privados de ter acesso aos produtos registrados”, afirma o diretor da Anvisa, Agenor Álvares.
Outro ponto destacado no estudo é que 53% das empresas de agrotóxicos instaladas no Brasil não possuem fábrica. “São empresas que atuam como verdadeiros escritórios de registro, sendo responsáveis pelo aumento do entulho burocrático, sem agregar nenhum benefício para a sociedade”, constata o diretor da Agência.
Na avaliação do coordenador do Observatório da Indústria de Agrotóxicos, Victor Pelaez, o registro de um produto agrotóxico agrega valores intangíveis ao patrimônio das empresas. “O registro é a menor barreira para a entrada de produtos no mercado, tendo em vista que a estrutura deste mercado não muda”, ponderou Pelaez.
Perfil
Na última safra, que envolve o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2011, o mercado nacional de venda de agrotóxicos movimentou 936 mil toneladas de produtos. A produção gerou 833 mil toneladas de agrotóxicos e a importação foi de 246 mil toneladas de produtos.
Os dados apontaram, ainda, que 90% da produção nacional de agrotóxicos foram de produtos formulados, ou seja, agrotóxicos prontos para serem utilizados na agricultura. Os outros 10% corresponderam a produtos técnicos, que são os ingredientes utilizados na formulação dos agrotóxicos. “Isso significa dizer que a grande maioria das indústrias de agrotóxicos instaladas no Brasil apenas envasam matéria prima vinda de outros países”, explica o diretor da Anvisa.
De acordo com a pesquisa, existem uma concentração do mercado de agrotóxicos em determinadas categorias de produtos. Os herbicidas, por exemplo, representaram 45% do total de agrotóxicos comercializados. Os fungicidas foram 14% do mercado nacional, os inseticidas 12% e as demais categorias de agrotóxicos 29%.
Quando comparadas às vendas por ingredientes ativos, o glifosato lidera o ranking, com uma fatia de 29% do mercado brasileiro de agrotóxicos. Já o óleo mineral possui 7% e o 2,4D e atrazina 5% cada.
O estudo divulgado pela Anvisa analisou a movimentação de 96 empresas de agrotóxicos instaladas no Brasil, que juntas representam quase 100% do mercado nacional. Atualmente, existem 130 empresas de agrotóxicos no país.
Concentração
No Brasil, as dez maiores empresas de agrotóxicos foram responsáveis por 75% do mercado de venda, na última safra. No que diz respeito à produção, esse índice cai para 65%. “Trata-se de um mercado extremamente polarizado e de difícil espaço para concorrência”, comenta Álvares.
Outra tendência apontada na pesquisa é a de que o mercado brasileiro de agrotóxicos se estrutura de tal maneira que as dez maiores indústrias não competem entre si. “Mesmo no caso em que as patentes estão vencidas, tirando raras exceções, as empresas focam a produção em agrotóxicos com ingredientes ativos que não são comercializados pelas demais empresas, o que gera uma espécie de monopólio sobre os produtos”, diz o diretor da Agência.
De acordo com a pesquisa da Anvisa, essa tendência de polarização do mercado também ocorre em escala global. As 13 maiores empresas de agrotóxicos detêm o controle de 83% do mercado mundial do setor.
Segundo o coordenador do Observatório da Indústria de Agrotóxicos, esse mercado se configura como um oligopólio com elevado grau de concentração. “A própria estratégia oligopolistas estabelece cooperação entre as empresas que já estão no mercado e barreiras para as que estão de fora”, concluiu Pelaez.
Mercado mundial
Enquanto, nos últimos dez anos, o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, o mercado brasileiro cresceu 190%. Em 2008, o Brasil passou os Estados Unidos e assumiu o posto de maior mercado mundial de agrotóxicos.
Em 2010, o mercado nacional movimentou cerca de U$ 7,3 bilhões e representou 19% do mercado global de agrotóxicos. Já os Estados Unidos foram responsáveis por 17% do mercado mundial, que girou em torno de U$ 51,2 bilhões.
Fonte: Anvisa