Diretor da ABIFINA defende mudança de postura do Brasil em relação à China. País precisa superar a pauta de comércio baseada em commodities e desenvolver um plano de “substituição de exportações” por produtos de maior valor agregado
Dia desses, um pesquisador brasileiro estava entusiasmado com a tropa de elite de um grupo alemão do setor químico-farmacêutico que desembarcou no Brasil para apresentar seu modelo de tecnologia para hemoderivados. Soube que fretaram um avião grande, desceram no reduto de uma das alternativas à produção mande in Brazil, a ponto dos gestores do projeto se sentirem ilusionados com a expectativa de contar com um laboratório grande por trás da iniciativa nacional. Quem vai se lamentar disso, foi o que se disse, é a pesquisadora brasileira que está à frente das pesquisas de tecnologia nacional há algum tempo.
Em outros dias como aqueles, uma tradicional empresa nacional foi indicada para receber um prêmio de qualidade e inovação por relevantes serviços de interesse da indústria nacional com quatro décadas de existência. Em todo esse tempo, a partir de uma tecnologia nacional, presente em eletroeletrônicos e eletrodomésticos, a indústria seguia produzindo no país, gerando empresas para os brasileiros. Constrangido, o dirigente nacional pediu desculpas, não poderia aceitar o prêmio e o reconhecimento: há alguns anos suspendera a produção nacional, transferindo-a à China, onde é bem mais fácil produzir. Os produtos chegam a Manaus e de lá saem para o país.
Nesta semana, a presidente Dilma Rousseff está na China. Tive a oportunidade de acompanhar missões empresariais à Índia, países africanos, europeus e aos Estados Unidos. Os protocolos de intenção e as iniciativas e tratados são um esforço de apoiar as relações comerciais, mas, em todos os casos, em particular para os brasileiros, dependem da boa vontade de quem está à frente do comércio exterior, desde a burocracia simples ao primeiro escalão. Estabelecer metas é fácil e tarefa de todo governo. Cumpri-las, no entanto, vai outra agenda.
A China manda no comércio da América Latina em áreas que, há menos de uma década, o Brasil tem agido com simpatia e amistosidade para poder liderar e se colocar como o país de suporte. Temos tentado criar uma balança equilibrada com os chineses, mas eles consomem demais e compram demais, têm ritmo de crescimento que estão a uma velocidade impensável para nossos dirigentes. A China é o maior concorrente brasileiro na América do Sul. A carga tributária brasileira, em comparação à chinesa, é um desastre para as empresas brasileiras e o fator que torna qualquer missão de aproximação comercial uma encenação com baixa platéia e poucas palmas.
Outro aspecto que faz a China ser a China e o Brasil ser o Brasil é o modelo e acordos de trabalho. O tempo passa e ninguém é capaz de oferecer uma solução que sugira flexibilidade. Ao contrário, torna-se cada vez mais inacessível, lembrando que quase 80% dos empregos são gerados por médias, pequenas e microempresas que, em sua maioria absoluta, morrerão em uma década, deixando um rastro de dívidas com o Estado e sem ter feito patrimônio suficiente para negociar as dívidas.
As missões fazem parte da maneira como os governantes modernos se aproximam uns dos outros, em um primeiro momento, para depois espelharem suas dúvidas, desconfianças e protestos em órgãos internacionais como a Organização Mundial do Comércio – OMC. A China tem tudo a ver com isso. Tudo a ver com isso. Faz parte da maneira de lá negociar como negociam, com alguma intransigência e com a base de uma multidão expressiva de consumidores. O Brasil tem de aprender qual é seu modelo. Não pode mais viver de um plano baseado em commodities. Precisa de um plano de substituição de exportações para médio e longo prazo.
Por que isso? Porque o processo de desindustrialização do Brasil continua acelerado, ano a ano, inferindo nas cadeias produtivas que sustentam a dinâmica da economia do país e o ponto de soberania necessários para uma nação. De vez em quando, economistas levianos vêm a público para questionar os números da desnacionalização e da desindustrialização, encomendados por quem quer que seja que necessite ganhar tempo até chegar um tempo que só nos restará ser importadores de bugigangas, alta tecnologia e consumo cotidiano. As soluções estatizantes são apenas fórmulas de assegurar o poder sem nenhuma aplicação econômica real. O verdadeiro país precisa produzir o que consome e, para isso, internamente, precisa de políticas públicas historicamente comparáveis às nações com as quais se sente em competição.
*Josimar Henrique é Presidente da Hebron Farmacêutica – www.hebron.com.br e Diretor Temático de Assuntos Parlamentares da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades – ABIFINA – www.abifina.org.br.
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