O laboratório Globe Química protocolou pedido de registro de patente para um novo processo de isolamento da lamivudina, insumo farmacêutico antirretroviral.
O uso das compras governamentais acaba de comprovar sua eficiência no fomento à inovação. Após cinco anos de desenvolvimento de tecnologia e produção para o Ministério da Saúde, o laboratório Globe Química protocolou no dia 10 de janeiro, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o pedido de registro de patente para um novo processo de isolamento da lamivudina, insumo farmacêutico antirretroviral. O processo, desenvolvido pelo pesquisador Julien Espindola, reduz o uso de solventes (para cada quilo do princípio ativo, eram usados oito de outras substâncias), permite a utilização de somente um reator (liberando os demais para fabricação de outros produtos) e promove uma melhor recuperação dos subprodutos da reação química, o que significa uma produção mais limpa. Ainda sem falar em valores, o presidente da Globe, Jean Peter, adianta que a redução de custos vai se traduzir em melhores preços para o Governo.
Também presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), Peter lembra que a produção nacional por meio da contratação pública de produtos e serviços a longo prazo assegura a estabilidade necessária ao desenvolvimento tecnológico e ao ajuste de preços.
O primeiro episódio em que um órgão público deu preferência para produtores nacionais aconteceu em 2006, quando o laboratório Farmanguinhos contratou o desenvolvimento e produção da lamivudina, a cargo da Globe, e do antirretroviral AZT, pela Nortec. Jean Peter ressalta que o preço contratado inicialmente para lamivudina era de R$ 780 por quilo. O valor no último ano do acordo foi de R$ 600 por quilo, apesar da inflação no período. Nos cálculos do executivo, uma economia acumulada de 23%.
“Em cinco anos, ganhamos escala e aprimoramos o processo de produção, o que possibilita a redução de preços”, explica. Os investimentos feitos na indústria nacional vão se desdobrar, ainda, na cadeia produtiva. “Vamos passar em breve para a etapa de comercializar os resíduos melhorados para as outras indústrias”.
Agora, está sendo negociado novo contrato, com o consórcio formado por Globe, Nortec e Cristália, para o fornecimento das formulações conhecidas como 2 em 1 (tenofovir e lamivudina) e 3 em 1 (tenofovir, lamivudina e efavirenz). Ambas tecnologias recentes, sequer importadas pelo Brasil, mas que trazem enormes benefícios para os pacientes, como a redução de efeitos colaterais. Na previsão da Globe, os medicamentos serão fornecidos ainda este ano.
O diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-inovação Tecnológica (Protec), Roberto Nicolsky, reforça a importância da política de compras governamentais, que chegou a provocar polêmica nacional, quando, em 2006, os importadores iniciaram uma guerra jurídica contra a aplicação da preferência ao conteúdo nacional naquela licitação.
A proposta, ousada, havia sido encaminhada a partir do Encontro Nacional da Inovação Tecnológica (Enitec), promovido pela Protec. “Na ocasião, fizemos questão de levar a Petrobras para mostrar seu caso de compra com preferência a fornecedores nacionais, sob a condição de inspeções surpresas, o que acabou sendo usado como expediente pelo então diretor de Farmanguinhos, Eduardo Costa. Os importadores, que entraram depois na Justiça, alegavam que não havia competência tecnológica no Brasil. Não só desenvolvemos a tecnologia como a melhoramos. O processo de fabricação estimula as indústrias a avançarem tecnologicamente”, argumenta.
(Fonte: Natália Calandrini para Notícias Protec – 12/01/2011)