REVISTA FACTO
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Mai-Ago 2023 • ANO XVII • ISSN 2623-1177
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Crescer de forma sustentável
//Editorial

Crescer de forma sustentável

A ABIFINA lançou iniciativas nos últimos dois meses que evidenciam a força da indústria de química fina no tema da sustentabilidade. O Relatório ESG mostrou experiências bem-sucedidas dos nossos associados nos aspectos ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês). O webinar “Práticas ESG na química fina: impulsionando a sustentabilidade e a inovação” debateu como empresas e governos estão lidando com essas práticas no mundo. É uma enorme satisfação ver que as companhias brasileiras do setor estão engajadas e têm potencial de se desenvolverem ainda mais no tema, especialmente com os planos de incentivo apresentados pelo atual governo.

O Brasil despertou para o fato de que a política climática impulsionará o crescimento econômico daqui para a frente e será a base da concorrência entre os países. A indústria que sobreviverá será aquela capaz de produzir soluções para o meio ambiente e a sociedade, com boa governança nos negócios.

Antes de avançar no assunto, considero válido começar pelo começo. O que diferencia o tão falado ESG da sustentabilidade? O consultor Rodolfo Guttilla explica, na entrevista desta edição, que o primeiro contempla ações que buscam garantir a sobrevivência da empresa para gerar valor para acionistas, investidores e proprietários. A sustentabilidade visa, como bem final, reduzir as desigualdades e promover a inclusão por meio de uma atividade econômica responsável com o meio ambiente e as pessoas.

Como medir e comparar o desempenho ESG é uma discussão em andamento. Porém, certo é que o surgimento desse novo enfoque exige mais compromisso das companhias. Na química fina, a preocupação com as práticas ESG demonstra um amadurecimento das empresas, algumas delas de capital aberto. As ações de sustentabilidade já existiam, mas notamos que o aspecto da governança, que envolve controles e prestação de contas, está evoluindo ano a ano, conforme o Relatório ESG disponível no site da ABIFINA.

Identificamos ações como a criação de comitês para temas estratégicos, contratação de auditorias externas independentes, verificação do cumprimento de compliance por fornecedores, aplicação de política de combate à corrupção, entre outras.

A isso somam-se ações de tratamento de efluentes, economia de energia, carbono zero, logística reversa, apoio às comunidades e aos colaboradores, além do desenvolvimento de produtos ou processos de química fina que são mais eficientes, geram menos resíduos e reaproveitam materiais.

Guttilla indica que o grande desafio ainda é fazer investimentos no campo social de forma alinhada à estratégia do negócio, com medição e acompanhamento dos resultados para garantir impactos verdadeiramente transformadores. Essa é uma dificuldade mundial, segundo o consultor, diferentemente da área ambiental, na qual se tem critérios objetivos de avaliação. Portanto, as empresas precisam estar atentas à governança das ações sociais.

A Matéria Política, que traz a cobertura do webinar “Práticas ESG na química fina”, agrega o ponto de vista das políticas públicas. O Brasil retoma sua política industrial com foco na economia verde. Espera-se recuperar o espaço da indústria no PIB. A proposta é incentivar principalmente os setores que já possuem know-how, que podem gerar maior valor adicionado ou que têm maior capacidade de serem competitivos. A química fina se destaca por sua transversalidade nas cadeias produtivas.

O recriado Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) fará a governança do processo e já possui orientações regulamentadas para as ações da nova política industrial. Pautas caras à ABIFINA estão contempladas, como a inclusão socioeconômica, o desenvolvimento produtivo e tecnológico, a inovação, o aumento da competitividade, a sustentabilidade e a inserção internacional qualificada.

Fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) é uma das missões da nova política industrial, com o objetivo de reduzir a dependência externa e fomentar o desenvolvimento tecnológico nacional. Algumas novidades no sentido de estimular o uso sustentável da biodiversidade – que pode ser um diferencial brasileiro no mercado global – estão previstas: selos verdes nas compras públicas sustentáveis, um observatório da bioindústria, a ampliação das exportações de insumos de saúde para o sistema da Organização das Nações Unidas (ONU) e a definição de padrões e metodologias analíticas de plantas medicinais e fitoterápicos.

A reconstrução do Brasil acompanha o movimento de EUA e Europa, que sustentam pacotes bilionários para promover a sustentabilidade em setores estratégicos, como agricultura e energia, no pós-pandemia. A forma como o Mercosul está lidando com esse cenário é a pauta da reportagem do Setorial Saúde. Os países do bloco tentam encontrar complementaridades para estabelecerem trocas comerciais na região e reduzir a dependência de fornecedores indianos e chineses, principalmente.

A ABIFINA participou da 10ª edição do Fórum Empresarial do Mercosul, em junho deste ano, na Argentina, que teve como resultado uma lista de recomendações para os ministros da Saúde do bloco. Duas propostas da entidade foram incorporadas. Uma é aproveitar a experiência da associação no monitoramento de patentes farmoquímicas e farmacêuticas para criar plataformas conjuntas, como um Observatório para acompanhar pedidos de patentes de interesse dos sistemas nacionais de saúde do Mercosul. A segunda proposta consiste na elaboração de uma “cesta de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) estratégicos” na região para que os países do bloco possam trabalhar juntos, cada um na área onde tiver mais vantagens comparativas.

Torcemos para que os ministros da saúde dos países do Mercosul aprovem as recomendações, que incluem também a elaboração de um mapa das capacidades públicas e privadas no bloco, visando avaliar as complementaridades na produção de IFAs, produtos biológicos, vacinas e medicamentos inovadores. A inovação, aliás, é crucial para que o bloco se especialize em áreas de maior complexidade tecnológica, ganhando competitividade para exportar.

Um acordo de compras governamentais no bloco é outro mecanismo importante para incentivar a indústria local. O Mercosul possui um Protocolo de Contratações Públicas, que está sendo internalizado pelo Brasil. O artigo de Denise Mazzaro Naranjo e Fernanda Costa nesta edição analisa essas e outras ações de comércio exterior conduzidas pelo atual governo. O capítulo de compras governamentais no Acordo Mercosul-União Europeia, apresenta algumas desvantagens à indústria nacional, porém, diante de possíveis desgastes políticos, deve seguir como está. Por outro lado, o governo brasileiro retirou a oferta de abertura do mercado interno do Acordo de Compras Governamentais como contrapartida para aceder à Organização Mundial do Comércio (OMC).

As autoras trazem ainda novidades, como as vantagens do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Portal Único do Comércio Exterior para os exportadores, além da aprovação do novo Regime de Origem do Mercosul, no qual um produto pode ter no máximo 45% da matéria-prima comprada de um país de fora do bloco para ser considerado nacional.

Todos os avanços almejados dependem de políticas públicas, que devem versar ainda sobre a formação profissional, como indicam Anaely Machado e Acsa Guimarães em seu artigo. Elas mencionam pesquisa do MangroupPower segundo a qual quatro em cada cinco empresários relatam dificuldade para encontrar profissionais talentosos para as vagas abertas. Isso envolve lacunas da educação básica até a atualização contínua em novas competências exigidas por um mercado em constante transformação. Essa perspectiva também pode ser considerada como ação social se o Brasil pretende alavancar seu crescimento a partir das atividades econômicas do futuro.

Esta FACTO expressa a trajetória da química fina no tema da sustentabilidade, no qual a ABIFINA atua desde as conferências Eco-92 e Rio+20. Estamos certos de que a entidade contribuiu significativamente para o avanço dessa agenda no Brasil: trabalhamos no marco legal de acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado, em fóruns temáticos do Governo Federal e do Senado, e nas ações da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com a atual retomada da política industrial, depois de anos de paralisia, acreditamos que as empresas produtivas conseguirão fazer o Brasil crescer com o bom uso da biodiversidade local, justiça social e governança nos negócios.

Antonio Carlos Bezerra
Antonio Carlos Bezerra
Presidente-executivo da ABIFINA
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