REVISTA FACTO
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Set-Dez 2022 • ANO XVI • ISSN 2623-1177
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EMBRAPII compartilha riscos na inovação sustentável
//Entrevista José Luis Gordon

EMBRAPII compartilha riscos na inovação sustentável

A bioeconomia, ou economia sustentável, oferece o melhor caminho para o mundo conseguir conciliar desenvolvimento socioeconômico e preservação ambiental.

Os países que pretendem ter sucesso nessa empreitada – que define um novo patamar de competição global – deverão fazer um grande esforço para estabelecer políticas, articular colaborações, gerar novos conhecimentos e inovar. A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) cumpre importante papel nesse sentido. A instituição trabalha com institutos de pesquisa científica e tecnológica credenciados, que oferecem apoio à inovação em empresas industriais, compartilhando os riscos na fase pré-competitiva. O presidente da Embrapii, José Luis Gordon, explica a forma de apoio oferecida e as perspectivas para a bioeconomia.

Quais são os desafios da bioeconomia no Brasil e no mundo?

Sem dúvida, o principal desafio é o de identificar as melhores oportunidades e o valor gerado a partir da produção de riquezas usando a biodiversidade, de forma sustentável, como fonte. Nosso País tem muito a avançar nessa área e pode, inclusive, ser um modelo mundial no que chamamos de economia verde. Mas entendo que, para alcançarmos todo esse potencial, há um fator central
a ser observado: o estímulo à inovação tecnológica, especialmente com esse viés.

Estamos falando de viabilizar inovação de processos produtivos e de desenvolvimento ou aprimoramento de produtos a partir da adoção de fontes renováveis e de bioinsumos, do fomento à economia circular, ao estímulo de novos paradigmas de consumo e à transição energética. Para isso, precisamos de um ecossistema pronto para ajudar o setor empresarial a trilhar esse caminho,
que inclua acesso aos recursos materiais e intelectuais na mesma proporção do desafio que está posto.

Essa é uma questão de escala global, para a qual faltam muitas respostas ainda. Acabamos de sair da COP27 (Conferência sobre a Mudança do Clima da Organização das Nações Unidas), no Egito, e da COP15, no Canadá. Houve muito debate em torno de temas complexos, como o das fontes de financiamento, metas de descarbonização e de preservação da biodiversidade. Não há um
caminho traçado. Para o Brasil crescer nessa área, devemos promover um esforço coordenado para posicionar a bioeconomia como um dos motores do desenvolvimento sustentável e da prosperidade.

Quais são os tipos de projetos em bioeconomia que podem ser auxiliados pelas Unidades Embrapii?

É importante explicar como funciona o modelo Embrapii. Trabalhamos em cooperação com centros de pesquisa, públicos ou privados, de alto nível, em todo o Brasil, credenciados como Unidades Embrapii para atender às demandas do setor empresarial por inovação. Hoje temos uma rede composta por 97 instituições, com competências técnicas distintas. O risco envolvido na superação
de um desafio tecnológico é compartilhado entre Embrapii, unidades e empresa.

Na área de bioeconomia, há unidades de excelência em biotecnologia aplicada à saúde, bioquímica de renováveis, biocontroladores, transformação de biomassa, polímeros, biofotônica, novos materiais, biossintética, química verde, fibras florestais e muitas outras.

Temos uma vasta experiência adquirida, com apoio concreto a pelo menos 330 projetos.

Considerando todos os aportes, chegamos a cerca de R$ 400 milhões aplicados em pesquisa, desenvolvimento e inovação, em parceria com 341 empresas. Todo esse esforço resultou em 80 depósitos de propriedade industrial.

Como é o formato dos editais da Embrapii?

É importante destacar que, na interface com as empresas, não trabalhamos com editais ou chamadas. O modelo Embrapii é ágil, com fluxo contínuo de recursos. Na prática, a contratação de um projeto pode ser feita em um ou dois meses. A empresa que possui um desafio tecnológico
deve identificar a Unidade Embrapii que possui a expertise de que precisa e estabelecer contato direto para iniciar a negociação. Não é necessário sequer estruturar um projeto. Quem faz isso é a própria unidade, depois de avaliar o potencial. Um dos diferenciais da Embrapii é justamente essa baixíssima burocracia.

Quais políticas públicas podem auxiliar o trabalho da Embrapii no setor de bioeconomia?

Acredito fortemente em um modelo baseado na cooperação entre instituições, nacionais e internacionais, e na aproximação entre a pesquisa e as demandas do mercado. Temos um exemplo muito interessante. Em setembro deste ano, lançamos a Rede MCTI/Embrapii de Inovação em Bioeconomia, uma estratégia para aproximar nossas unidades que são referência no tema.
Já são 30 centros de pesquisa trabalhando em rede, em uma estrutura que inclui um Conselho Consultivo do qual fazem parte diversas entidades empresariais e de fomento. Entre elas, está a própria ABIFINA, além da ABBI, Abihpec, Abiquim, Abiquifi, ABNC, Anbiotec, Unica, Ubrabio e Ibá. Também estão o BNDES, a Finep, o Sebrae, a CNI e a CNA.
O trabalho em rede contribui para as melhores práticas e políticas públicas, sobretudo diante da grande relevância para o País do desenvolvimento de todos os setores ligados à bioeconomia. Nesse caso, a sociedade civil tem papel essencial e vem qualificando os debates e o entendimento sobre os desafios do dia a dia.

Como a cadeia produtiva da bioeconomia está organizada no Brasil e como pode ser fortalecida?
É difícil falar em cadeia produtiva de bioeconomia de modo amplo no Brasil.

Uma característica da bioeconomia é ter produção descentralizada e regionalizada, estabelecendo e consolidando cadeias produtivas novas e menores.

Essa característica representa alguns desafios e uma significativa oportunidade de desenvolvimento econômico, uma vez que gera investimentos, empregos e outros benefícios em nível local.

Foi por esse motivo que a Rede MCTI/Embrapii de Inovação em Bioeconomia já nasceu com um Comitê Técnico dedicado ao tema de desenvolvimento de ecossistemas.

Sabemos que, no caso da Amazônia, há peculiaridades como assegurar padrão de qualidade e regularidade na oferta de insumos, considerando o contexto logístico da região. Então, em bioeconomia, falamos em fortalecer determinadas cadeias produtivas de forma a impactar o desenvolvimento sustentável e regional.

Como a bioeconomia pode fortalecer a economia e o meio ambiente no Brasil?

O fortalecimento da bioeconomia poderá levar o Brasil a um novo patamar de competitividade econômica e ambiental, sobretudo no campo internacional. É uma área com amplo campo de oportunidades de uso de recursos renováveis, para criar bioprodutos na agricultura, indústria e serviços. Além de impulsionar o desenvolvimento regional, que já mencionei, existem diversas tecnologias e inovações envolvidas. Delas surgem produtos e serviços que dinamizam nichos e setores, geram externalidades positivas. Cito como exemplo biocombustíveis avançados, biomateriais, biofertilizantes, soluções para fixação de carbono, novas variedades de vegetais, proteínas cultivadas, entre tantas outras. A contribuição para o posicionamento internacional do Brasil é enorme.

Qual é a relevância de o Brasil ter ratificado, na ONU, o Protocolo de Nagoia em 2021?

O Protocolo de Nagoia tem o objetivo de oferecer segurança jurídica a quem usa e fornece material genético. É um instrumento que poderá contribuir para valorizar os ativos ambientais do Brasil. Há um grande desafio em relação à operacionalização prática entre os países para garantir a correta repartição dos benefícios ligados à biodiversidade, mas o Protocolo é um passo importante para os atores envolvidos.

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