REVISTA FACTO
...
Jan-Abr 2023 • ANO XVII • ISSN 2623-1177
2023
73 72 71
2022
70 69 68
2021
67 66 65
2020
64 63 62
2019
61 60 59
2018
58 57 56 55
2017
54 53 52 51
2016
50 49 48 47
2015
46 45 44 43
2014
42 41 40 39
2013
38 37 36 35
2012
34 33 32
2011
31 30 29 28
2010
27 26 25 24 23
2009
22 21 20 19 18 17
2008
16 15 14 13 12 11
2007
10 9 8 7 6 5
2006
4 3 2 1 217 216 215 214
2005
213 212 211
Novas oportunidades para o desenvolvimento da Química Fina
//Editorial

Novas oportunidades para o desenvolvimento da Química Fina

O Brasil precisa acompanhar as transformações que estão acontecendo no mundo. Isso é vital, entre outras coisas, para que sua indústria continue a existir. Após a pandemia e, agora, com a guerra na Ucrânia, os países desenvolvidos começaram a implantar a política de repatriar investimentos e produção de itens estratégicos, de forma a minimizar os impactos nas suas cadeias produtivas em momentos de crise global. No nosso segmento, além do esforço, da força de vontade e da capacidade, é preciso haver a liderança do Estado, como vemos naqueles países. A ABIFINA sempre alertou para o perigo da dependência externa e a necessidade de termos uma política industrial de Estado, sólida e perene.

Continuamos a cumprir, esperançosos, nosso papel de estudar, propor e cobrar soluções para o Complexo da Química Fina. Com o BNDES, discutimos no fim de abril as ações previstas pela área de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do banco. A reindustrialização – ou neoindustrialização, na forma adotada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin – foi a pauta. A ideia por trás do novo termo é que as políticas públicas foquem setores com maior potencial para crescer e incorporem aspectos como descarbonização, inclusão social e novas tecnologias.

Na articulação setorial, participamos do relançamento da Frente Parlamentar da Química, também em abril, no Congresso Nacional. Neste ciclo, o grupo ambiciona levar a indústria brasileira de química de 6ª maior no mundo para o 4º lugar. Para isso, precisamos de maior oferta de gás natural a preços mais baixos. Essa é mais uma frente na qual os principais países do mundo já se adiantaram.

O artigo da professora Suzana Borschiver, da UFRJ, argumenta que grande parte do déficit do setor químico brasileiro é de produtos derivados diretamente do gás natural, usado como matéria-prima na fabricação de fertilizantes nitrogenados, metanol, isocianatos e outros. O Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo, apesar de ter a mais importante indústria agropecuária. Segundo Suzana, metade da produtividade agrícola está ligada ao uso de fertilizantes e, na produção destes, o gás natural tem um peso importante, respondendo por 80% dos respectivos custos. Portanto, esse é mais um ponto que merece ser observado nas políticas públicas.

Na química fina, pesa ainda a dependência da importação de intermediários, cuja escassez faria a indústria de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) parar.

O cenário atual deixou claro que transferir a produção desses segmentos para Índia e China pode ser barato no curto prazo, mas sairá caro na primeira crise de abastecimento, uma vez que não haverá substitutos nacionais.

A matéria política desta edição aborda a necessidade de restabelecimento da política industrial, incluída a química fina. A oferta da indústria de transformação teve 19,1% de importados em 2020. Analisado apenas o setor da química fina, a parcela de venda de importados representou 37,3% do total no período.

Precisamos romper o ciclo de baixos investimentos e geração de incertezas no ambiente de negócios que precarizam a indústria.

Até o momento, o governo teve avanços, como a elaboração do arcabouço fiscal, a recomposição dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e a recriação do Grupo Executivo do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (GECEIS), com destaque agora para o aspecto econômico. Estes são passos importantíssimos, e a política industrial deve andar junto com eles, sob pena de não alcançarmos nossos objetivos como país.

Em paralelo às deficiências históricas, enfrentamos o problema crescente da pirataria, tema de artigo do advogado Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria (FNCP). Ele relata que o primeiro levantamento feito pela entidade, em 2014, verificou perdas de R$ 100 bilhões em quinze setores produtivos, incluindo sonegação de impostos. No ano passado, a cifra pulou para inacreditáveis R$ 410 bilhões. A ABIFINA abraça essa causa, promovendo campanhas de conscientização para o público e sensibilizando o governo para a necessidade de reforçar os órgãos de fiscalização.

Seguindo na pauta desta edição, o artigo da consultora da ABIFINA Ana Claudia Dias de Oliveira explica as patentes de segundo uso, os critérios de concessão no Brasil e as tentativas de estender o tempo de validade da proteção. A especialista promove ainda uma discussão sobre a pertinência desse instituto. A propriedade intelectual segue em nossa agenda prioritária, em defesa dos interesses nacionais.

Já a reportagem do Setorial Saúde discute o desenvolvimento do parque industrial para garantir a autonomia brasileira. As empresas nacionais seguem investindo em pesquisa e desenvolvimento para ter competitividade.

Ainda assim, faltam segurança jurídica, revisão de normas, articulação governamental para gerar incentivos à inovação e desoneração tributária para a internalização de novas tecnologias.

Todos os aspectos abordados nesta edição da FACTO estão, de alguma forma, presentes no Plano de Retomada da Indústria, liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e para o qual a ABIFINA contribuiu. A diretora de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Lytha Spindola, é a entrevistada desta edição e detalha pontos importantes, inclusive as prioridades para os 100 primeiros dias de governo apontadas pela entidade. Algumas medidas foram implantadas e muitas outras receberam sinalização positiva.

A ABIFINA continua empenhada na sua agenda estratégica para fortalecer o Complexo Industrial da Química Fina e garantir as condições de autonomia para o Brasil. Acreditamos que este seja um novo momento, com dificuldades particulares, mas com oportunidades para as empresas nacionais. Para aproveitá-las, precisamos saber elaborar as políticas certas e levá-las adiante, independentemente do governo da vez. Em última instância, esse é nosso trabalho.

Marcus Soalheiro
Marcus Soalheiro
Presidente da ABIFINA
A agenda da indústria no novo governo
Anterior

A agenda da indústria no novo governo

Próxima

Desdobramentos da parceria entre ABIFINA e Fiocruz

Desdobramentos da parceria entre ABIFINA e Fiocruz