REVISTA FACTO
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Mai-Ago 2022 • ANO XVI • ISSN 2623-1177
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Economia circular como modelo estratégico de desenvolvimento sustentável
//Artigo

Economia circular como modelo estratégico de desenvolvimento sustentável

As mudanças climáticas têm exigido cada vez mais capacidade adaptativa dos países e ações coordenadas e multidisciplinares dos governos. A indústria, que é afetada tanto pelos eventos extremos relacionados ao clima como pelas ações de mitigação dos gases de efeito estufa, é um dos principais players da transformação necessária para mudar essa realidade. E, ao se apresentar como parte da solução para as questões climáticas, ela tem protagonizado uma verdadeira revolução, capaz de liderar a transição do Brasil em direção a uma economia de baixo carbono, orientada por tecnologias limpas e processos de produção mais eficientes.

A economia circular é um dos principais caminhos para que o País faça essa transição com a retomada do crescimento sustentável, aproveitando a oportunidade para desenvolver novos mercados e elevar os índices de produtividade nacional, fomentando a pesquisa e a inovação tecnológica. Nesse sistema, busca-se o melhor uso do recurso natural por meio de fluxos circulares ao longo de toda a cadeia de valor. É uma lógica econômica em que há uma soma de esforços para atender às demandas sociais e, ao mesmo tempo, manter o meio ambiente equilibrado. Esse é também um dos quatro pilares que ancoram a estratégia de baixo carbono da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao lado da transição energética, mercado de carbono e conservação florestal.

Os princípios da economia circular fazem parte do DNA do setor industrial. Agregar valor aos recursos naturais e entregá-los à sociedade é um dos seus principais propósitos. Tanto que, em 2019, a CNI realizou uma pesquisa nacional para verificar como o tema vem sendo tratado pelo setor e identificou que 76,5% dos entrevistados já adotam alguma prática de economia circular. Entre as principais, estão a otimização de processos (56,5%), o uso de insumos circulares (37,1%) e a recuperação de recursos (24,1%).

Essa estratégia para a competitividade do setor industrial pode ser traduzida por diversas iniciativas, como investimento em inovação em materiais, ecodesign, otimização de processos produtivos, recuperação de valor dos recursos e criação de novas oportunidades de negócios. Nas indústrias que compõem os segmentos da química fina, as oportunidades também são grandes e os benefícios, muitos.

Seja na área de agroquímicos, medicamentos, vacinas, saúde animal ou nos produtos da biodiversidade, os bons exemplos são profícuos e vão desde o desenvolvimento de tecnologias para reciclagem química de resíduos sólidos, passando pela produção de embalagens com plástico reciclado, projetos de economia hídrica, com reuso e recirculação de água, investimento em equipamentos que reduzem o consumo de energia, como a instalação de sistemas fotovoltaicos, e tratamento e troca de efluentes e resíduos que reduzem o impacto ambiental, entre outros.

Por todas as oportunidades que concentra, a economia circular deve ser entendida também como uma estratégia de competitividade, capaz de promover o desenvolvimento econômico regional e gerar novos negócios, empregos, renda e arrecadação. É, portanto, estratégico para o Brasil ter uma agenda bem definida e estruturada de longo prazo em relação ao tema – tanto para atender aos negócios como aos consumidores. Deve, também, atender ao arcabouço regulatório internacional sobre o tema.

No entanto, apesar de a indústria já ter incorporado algumas práticas de economia circular em seus processos, temos ainda um longo caminho pela frente para ampliar de forma efetiva o fluxo circular dos recursos ao longo das cadeias de valor. Para orientar o País na concretização deste desafio, pavimentando o caminho de transição para a economia circular, é prioritária a criação de um norte regulatório para o assunto, que oriente os estados e municípios e engaje os setores público, privado e a sociedade na promoção da circularidade nas organizações e territórios. Ou seja, a instituição de uma política pública nacional que estimule a gestão estratégica dos recursos naturais, promova a inovação e a competitividade do setor privado, incentive a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico e que fomente a conscientização da sociedade, promovendo o envolvimento e colaboração entre estes diversos atores.

Um passo importante que pode ser implementado no curto prazo, por exemplo, é o uso de poder de compra do Estado para estimular práticas de economia circular. Em 2020, a CNI publicou a cartilha “Compras Públicas Sustentáveis”, que orienta como requisitos de sustentabilidade podem ser criados e incorporados no processo de compras públicas.

Outro passo significativo, mas que demandará um prazo um pouco maior, é a criação de uma rota de maturidade para que seja possível avaliar as estratégias, processos e produtos das empresas, considerando métricas de economia circular. Desta forma, será factível elaborar projetos consistentes e acessar recursos para o financiamento e viabilização das inovações nas empresas para essa transição.

Também defendemos a adoção de medidas para favorecer a harmonização de regras fiscais, oferecendo incentivos econômicos e simplificando e desburocratizando o sistema de logística reversa de resíduos no país. E, ainda, a organização da base de dados nacional de economia circular, contendo informações sobre a disponibilidade, o uso e o destino dos recursos, bem como seu fluxo no território nacional.

A indústria nacional acredita que, com um arcabouço regulatório adequado, com ferramentas e métricas que considerem a realidade das organizações brasileiras e a colaboração dos diversos atores da sociedade, será possível alavancar de forma consistente a transição para a economia circular no País.

O Brasil é o país do presente. O futuro que a gente deseja está sendo construído hoje, agora, e nós temos todas as condições de liderar essa retomada do crescimento econômico no mundo, com uma industrialização sustentável e valor agregado único. Investir na economia circular como estratégia dessa agenda positiva significa atrair investimentos externos, ampliar a participação no mercado internacional e dinamizar um ciclo virtuoso de geração de emprego e renda em direção a uma economia de baixo carbono.

Mônica Messenberg
Mônica Messenberg
Diretora de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
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