“Mandacaru quando fulora na seca é um sinal que a chuva chega no sertão”.
Luiz Gonzaga e Zedantas
A falta de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) que atingiu o Brasil, criando problemas de abastecimento de medicamentos e impactando diretamente a saúde pública, é fruto ora de atos, ora de omissões relacionadas à desconstrução de políticas implantadas no passado recente. A nacionalização da produção, incentivada nas décadas de 1970 e 1980, fez com que uma indústria fosse alavancada e permitiu a formação de milhares de profissionais especializados e a criação de toda uma rede de fornecedores, sobre os quais hoje estamos estruturados.
Esse legado, responsável pela construção da Sintebrás nos anos 1970, é parte da história da Globe Química, que herdou suas instalações e, como produtora, tem participado ativamente da manufatura de IFAs. Graças à estruturação consciente de uma cadeia fabril, temos hoje um lugar de fala legítimo para propor a construção de novos conceitos para o desenvolvimento do nosso segmento, a partir das seguintes premissas:
a) A produção de IFAs é estratégica para o País;
b) A construção de infraestruturas requer objetivos e propósitos produtivos;
c) A mera competição econômica, dissociada do conceito da segurança regulatória, é restritiva ao crescimento;
d) Alianças são necessárias para o desenvolvimento;
e) A Indústria Farmacêutica Nacional é a mais impactada pela falta de IFAs.
Assim, sem que se construa um víeis estratégico nas compras públicas e privadas, que permitam ou possibilitem a equidade entre as relações fiscais, regulatórias, ou mesmo trabalhistas, seremos protagonistas de um cenário de desconstrução das poucas empresas que persistiram em se manter ativas. Temos que incentivar compras privadas viabilizando o desenvolvimento e a formação das novas gerações. Temos que incentivar as compras públicas, permitindo a inclusão de contrapesos ao desequilíbrio da produção internacional. Por fim, temos que favorecer a parceria entre as farmacêuticas nacionais e os produtores de IFA locais, ofertando a ambos meios que justifiquem lançamentos com insumos por estes produzidos.
Precisamos consolidar parcerias de desenvolvimento e políticas de incentivo voltadas para um futuro diferente daquele que se anuncia, tal como a Lei de Genéricos e o programa Profarma foram capazes de contribuir para as inúmeras histórias de sucesso das farmacêuticas nacionais.
O futuro é aquilo que se define hoje. Portanto, temos que olhar para esses exemplos de transformação, entender seus diferenciais e propor alternativas funcionais para o fortalecimento de uma parceria entre a farmoquímica e as farmacêuticas do Brasil, em prol do Sistema Único de Saúde e do mercado privado, de tal ordem que não se tenha mais o desabastecimento no País.
Antonio Carlos F. Teixeira, diretor-presidente da Globe Química e vice-presidente do Segmento Farmoquímico da ABIFINA.