Onésimo Ázara Pereira, farmacêutico e consultor farmoquímico
Em 2019, as importações de farmoquímicos da China alcançaram a expressiva soma de US$ 870,3 milhões, representando 29,18% do total importado pelo Brasil no setor. Se forem acrescidos os US$ 30,1 milhões de medicamentos a granel (nested bulk) importados do país asiático no mesmo ano, tem-se um total de US$ 900,4 milhões, ou 30,2% das importações brasileiras de farmoquímicos.
No histórico da produção chinesa no setor, destaca-se a presença do Shanghai Institute of Pharmaceutical Industry (SIPI), órgão mantido e dirigido pelo State Pharmaceutical Administration of China (SPAC) e fundado em 1957. Em 1995, quando participamos de uma viagem de prospecção à China, o SIPI já tinha uma equipe de 1.050 pessoas, sendo 700 cientistas e engenheiros, dos quais 180 eram cientistas sêniores.
O objetivo principal do SIPI se assentava no desenvolvimento de farmoquímicos, tanto os obtidos por síntese química como os obtidos por processos biotecnológicos, incluindo a fermentação. Objetivava, também, a obtenção de novos processos, novos equipamentos e novos materiais – como as resinas – para a renovação da indústria farmacêutica. A busca de novas moléculas se dirigia, basicamente, para os campos dos anti-infecciosos, dos antineoplásicos, dos produtos cardiovasculares, dos produtos dirigidos ao sistema nervoso central (SNC), dos antirreumáticos e dos imunomoduladores.
Em meados dos anos 1990, a necessidade de divisas fortes levou a China a estabelecer um Plano Nacional para elevar substancialmente as exportações de farmoquímicos. O plano incluía não só o aumento das quantidades produzidas, mas, sobretudo, a elevação da qualidade dos produtos, a partir da adoção dos procedimentos das boas práticas de fabricação (BPF), segundo os padrões internacionais da United States Pharmacopeia (USP) e da Farmacopeia Inglesa (BP). Outro objetivo do plano era aumentar o volume da importação de tecnologia.
Nesse processo de revigoramento da indústria farmoquímica chinesa, várias firmas estrangeiras – americanas e européias – se associaram a firmas locais para a produção de farmoquímicos, para atender tanto o mercado interno como o externo. Foram pioneiras as empresas internacionais Roche (Suíça), Upjohn, Cyanamid e Warner Lambert (EUA), sendo alguns desses projetos financiados pelo Banco Mundial.
Em 1994, com 1,2 bilhão de habitantes, a China já produzia 1,4 mil produtos farmoquímicos, com um valor estimado em US$ 10 bilhões, sendo US$ 1,5 bilhão destinado à exportação. Em 2019, só para o Brasil, a China exportou mais de US$ 900 milhões em farmoquímicos, o que equivale a mais de 30% das nossas importações, como pode ser visto de forma detalhada no quadro a seguir. Isso prova que o plano chinês para o aumento das suas exportações de farmoquímicos – aumento das divisas fortes – deu certo. O caminho foi, certamente, bem longo, mas para os chineses valeu a pena, devemos reconhecer.