A ABIFINA se preocupa com a capacitação dos recursos humanos de suas associadas e por isso desenvolve, há três anos, um conjunto de ações com o propósito de contribuir para a capacitação de gerentes e técnicos, principalmente aqueles que estejam envolvidos em atividades relacionadas com a inovação nas empresas em que atuam.
Para alcançar esse objetivo, a entidade tem aumentado e diversificado as características e o número de oficinas e palestras especiais. Isso tem permitido que um número maior de profissionais possa aumentar seus conhecimentos em temas como propriedade intelectual, legislação sanitária (regulatório), estudo de mercado, gestão de projetos, além de possibilitar um maior entendimento de muitos conceitos relacionados à inovação tecnológica.
As atividades desenvolvidas no âmbito de Comitês Técnicos (Farmo e Bio) e de grupos que lidam com aspectos de regulações sanitária e patentária também contribuem para essa ampliação de conhecimentos. Nas reuniões desses comitês, não são discutidos apenas assuntos de interesse imediato das empresas que neles têm representação, pois também comparecem neles, como convidados, representantes do Ministério da Saúde, do INPI e da Anvisa, como exemplos.
Nessas oportunidades, há uma maior possibilidade de interação dos especialistas das empresas com esses convidados, o que permite não só dirimir dúvidas, como também ouvir ou apresentar críticas e sugestões que possam contribuir para a melhoria de procedimentos que, de alguma forma, envolvem interesses das indústrias representadas pela ABIFINA.
A avaliação é que essas atividades têm alcançado resultados altamente positivos, e a direção da ABIFINA tem a intenção dar continuidade às mesmas, mas possivelmente organizando-as de forma a atingir um maior número de candidatos, sem a necessidade de que muitos profissionais, trabalhando em outros estados, se desloquem com frequência para a sede da entidade, eventualmente prejudicando as atividades sob suas responsabilidades nas empresas. Não é uma tarefa fácil planejar essa ação, se considerarmos as dimensões do País e as distâncias entre a sede da ABIFINA e as sedes das empresas associadas.
Além das considerações feitas, o principal foco do artigo está na pergunta nele apesentada, e que teve sua origem nos resultados das análises sobre as informações contidas nos relatórios da Pesquisa da Inovação (Pintec), realizada pelo IBGE. São preocupantes alguns dados do relatório da Pintec 2011, e não apenas porque indicam uma queda nas taxas de inovação, mas porque indicam as dificuldades para contratação de mão de obra qualificada.
Eram esperados melhores resultados que os apresentados no relatório de 2008, em razão de uma série de estímulos e vantagens oferecidas ao setor produtivo nos últimos anos por meio dos instrumentos das políticas industriais vigentes. Também é importante mencionar que as atividades dessas empresas foram desenvolvidas em ambiente econômico estável.
Na impossibilidade de nos estendermos em comentários sobre alguns outros aspectos dos resultados das análises da Pintec 2011, destacamos o que entendemos como importante no aspecto relacionado à capacitação profissional necessária às atividades das empresas envolvidas com inovação tecnológica. Para melhor pontuar esse tema, preferimos transcrever trechos que consideramos representativos, pois são manifestações de entidades também diretamente nele interessadas:
“A Pintec revela também que, pela primeira vez, a falta de mão de obra qualificada aparece entre os dois maiores obstáculos à inovação na indústria, com 72,5% das empresas industriais atribuindo importância alta ou média a este problema, superado apenas pelos custos elevados (81,7%).
(…) A Pintec mostra, ainda, que, nas empresas industriais, a aquisição de máquinas e equipamentos continua sendo a atividade mais importante na estrutura dos gastos realizados com inovações, com total de dispêndio de 1,11% sobre a receita líquida de vendas, participação que reforça a tendência já observada em todas as pesquisas realizadas.” (Notícias da ANPEI – Publicada em 10/12/2013)
[O destaque é do autor do artigo]“Essa deficiência na qualificação profissional é um problema que afeta o setor industrial, emperra a inovação e dificulta da produção às vendas, passando por pesquisa e desenvolvimento e até por gestão. O que ouvimos dos empresários é que a burocracia dificulta a relação da academia com centros de pesquisa e que os cursos que aí estão não atendem às necessidades do mercado…”. (Gianna Sagazzo, diretora de Inovação da CNI – Diálogos da MEI – 2014)
[O destaque é do autor do artigo]Nota-se, assim, que não é tarefa fácil a indução para que as empresas tenham a inovação como uma das questões centrais e norteadoras em suas estratégias. Continuam a existir sérias dificuldades, como as relacionadas à contratação de pessoal capacitado e as que contribuem para o aumento de custos, estes últimos agora agravados pelas atuais condições da economia nacional, o que pode levar também à diminuição de atividades em alguns setores importantes.
O somatório desses e outros fatores, com impactos negativos nas atividades das indústrias, determinarão, fatalmente, um maior comprometimento do lento progresso alcançado nos últimos dez anos.
O exposto reforça a tese de que necessitamos formular uma política de formação de pessoal tecnicamente capacitado para atuar em diferentes níveis das atividades de empresas que realmente se preocupem com inovação, ou estaremos fadados a sermos completamente dependentes de tecnologias e de produtos importados.
Não há mais tempo a perder. Ou superamos nossas dificuldades de forma inteligente e rápida, ou seremos responsáveis por um atraso fantástico no desenvolvimento nacional, de forma que será de difícil recuperação no curto espaço de tempo.
Como disse o poeta, “navegar é preciso, viver não é preciso”. Mas não será melhor viver e navegar, com bons comandantes, tripulações experientes e preparadas para os barcos mais modernos, sabendo como enfrentar eventuais tempestades, garantindo-se por tomar rotas mais seguras e bem estudadas?