REVISTA FACTO
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Abr-Jun 2013 • ANO VII • ISSN 2623-1177
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//Artigo

O renascimento da indústria brasileira de química fina

A fabricação Local de princípios ativos O Conselho Administrativo da ABIFINA aprovou, no dia 4 de junho, a elaboração de um Projeto de Desenvolvimento Industrial da Química Fina no Brasil, em consonância com a orientação expressa pela presidenta da República em discurso pronunciado em abril, durante a inauguração de uma planta de insulina em Belo Horizonte. Na ocasião, Dilma Rousseff disse textualmente: “agora vamos ter de correratrás da química fina”.

A medida consistirá em um marco na retomada do desenvolvimento do setor, especialmente por ter nascido de decisão estratégia do governo federal. Esta é a primeira de uma série de reportagens em que a Facto apresentará a evolução do Projeto de Desenvolvimento Industrial, mostrando as oportunidades e o crescimento dos diferentes segmentos do complexo industrial da química fina.

Investimento

Algumas das principais fabricantes de produtos farmoquímicos brasileiras são justamente as que participam de 36 Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs): Nortec Química, Laboratório Cristália, Globe Química, Microbiológica, Libbs Farmoquímica, CYG Byotech e ITF Chemical.

A Nortec Química, que há 30 anos atua no mercado com tecnologias desenvolvidas no País, participa de 13 PDPs, que contribuem para o crescimento da empresa, como se percebe em seus planos de investimentos. Juliana Cossa, gerente técnica da Nortec, ressalta o projeto de expansão da unidade que abriga a maior parte da produção de antirretrovirais e IFAs de grande demanda, como o citrato de orfenadrina e mucato de isometepteno. Com isso, a capacidade de produção da planta de síntese química deve dobrar, passando das atuais 260 toneladas/ano para até 410-430 toneladas/ano.

Com foco em um futuro de oportunidades, a Nortec, de acordo com Juliana, já está construindo um novo almoxarifado e expandindo o laboratório de P&D para atender às futuras instalações da planta de insumos destinada à linha de oncológicos, que ainda se encontra em fase de projeto. Nos próximos dois anos, a Nortec estima investir cerca de R$ 50 milhões nas expansões e na construção do almoxarifado, sem considerar a planta em desenvolvimento. Participando da PDP para o tratamento de hiperfosfatemia aparece a ITF Chemical. Segundo seu diretor superintendente Ronald Rubinstein, a ITF – inicialmente voltada para o exterior – atende ao mercado local e possui em sua linha de produção de IFAs produtos antibióticos, antidepressivos, antidiabéticos, insumos para tratamento de osteoporose, além de oncológicos.

Para atender às necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), a ITF está finalizando a construção da unidade dedicada de Sevelamer, cuja entrada em operação está prevista para meados de 2013. Está prevista também a expansão das operações de produção de Sevelamer para o final deste ano, com o objetivo de atender integralmente às necessidades do governo brasileiro. A empresa poderá ainda duplicar sua capacidade produtiva em curto espaço de tempo para atender à demanda de outros países com esse IFA.

Verticalização

A redução da dependência de produtos farmoquímicos é uma das metas do Laboratório Cristália. Hoje a empresa produz cerca de 50% dos farmoquímicos de que necessita em sua produção, contribuindo para reduzir o déficit da balança comercial brasileira. Participando de 21 PDPs, o laboratório investe em P&D, inovação e na ampliação de suas plantas químicas. Segundo Ogari Pacheco, presidente do Cristália, encontra-se em construção a planta de IFAs para oncológicos, visando verticalizar a produção e integrar a linha de medicamentos para esse segmento.

Na área de biotecnologia, a empresa recentemente inaugurou sua planta-piloto e iniciou as operações na nova unidade para produtos inovadores. Além disso, o Laboratório Cristália está duplicando a capacidade de sua planta produtiva principal para atender à demanda por produtos farmacêuticos clássicos. O investimento previsto para esta expansão é de R$ 100 milhões.

A CYG Biotech também promete contribuir para a verticalização da cadeia produtiva de IFAs no Brasil, com a previsão de produzir moléculas intermediárias. Criada em 2010, a empresa se dedica à fabricação de princípios ativos e medicamentos farmacêuticos como antirretrovirais e estabilizantes de humor. Com uma fábrica moderna e investimentos significativos, a CYG Biotech foca sua estratégia no fornecimento de moléculas prioritárias para o SUS, participando hoje de três PDPs, segundo o diretor José Loureiro Cardoso.

A Microbiológica é outra que se destaca na área. Andrea Schuchmann Yamagata, coordenadora de Garantia da Qualidade, conta que recentemente a empresa desenvolveu um novo procedimento de síntese verticalizada da zidovudina, que está em fase de conclusão para ser fabricada na planta de Jacarepaguá. Esta unidade poderá, também, produzir lamivudina e estavudina. Atualmente, além de suas atividades de P&D e da fabricação de promotores de crescimento vegetal e antissenescentes, a Microbiológica – pioneira na fabricação de antirretrovirais – atua basicamente em duas linhas de produção de fármacos: imunossupressores e antivirais.

Novos IFAs

A Globe Química já atua com plena capacidade produtiva. E para atender à crescente demanda planeja expandir seu parque industrial e produzir novos IFAs ainda em fase de estudo laboratorial. A previsão de investimento é de aproximadamente R$20 milhões nos próximos cinco anos. Paralelamente, a Globe iniciou há dois anos a produção de derivados terpênicos voltados para o mercado de domissanitários, aromas e fragrâncias, com planos de exportação para a Ásia.

Após resistir à forte desindustrialização dos anos 90, a empresa de síntese mantém hoje um grande parque farmoquímico.

“Agora vamos ter de correr atrás da química fina”
Dilma Rousseff, Presidenta da República

Na palavra de seu diretor superintendente Jean Peter, a empresa produz os principais IFAs antirretrovirais, anti-inflamatórios, oncológicos, entre outros, e está presente em quatro PDPs. No final de 2012, inaugurou a planta produtiva de insumos oncológicos, e já possui um estoque de mesilato de imatinibe disponível para entrega a partir de junho de 2013.

Com foco no desenvolvimento de IFAs ainda não disponíveis no mercado (ou seja, sob proteção patentária), a Libbs aposta em novas rotas para a produção de fármacos estratégicos, intensificando seus investimentos na área de desenvolvimento e inovação, segundo a diretora de Relações Institucionais Márcia Bueno. A Libbs destina, atualmente, de 5% a 6% do seu faturamento para o desenvolvimento de novos produtos. Recentemente inaugurou o Centro de Desenvolvimento Integrado (CDI), uma área dedicada à produção de conhecimento inovador aplicado ao desenvolvimento de medicamentos e de novas rotas para a síntese de fármacos. Atualmente o portfólio da empresa inclui desde inibidores da reabsorção óssea, antiarrítmicos e antidepressivos até anticoncepcionais e hormônios.

A evolução das políticas de apoio ao setor farmoquímico “O setor farmoquímico nacional vem claramente diminuindo sua participação no Complexo Econômico Industrial da Saúde (CEIS) ao longo das últimas três décadas. Vários foram os fatores determinantes para este fato, com destaque para a ausência de uma política industrial para o setor, abertura indiscriminada do mercado, Lei de Patentes, pressão cambial etc.

A produção farmacêutica é fortemente dependente do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA). A dependência de importação de IFAs não só compromete a balança comercial como torna o País altamente vulnerável quanto ao suprimento de insumos estratégicos, no nosso caso para atender às demandas do SUS. Um dos exemplos da importância do País possuir uma base produtiva qualificada para IFA foi o licenciamento compulsório do Efavirenz, ocorrido em 2007, em que um ‘consórcio’ formado por três indústrias farmoquímicas nacionais (Nortec Química, Globe Química e Cristália) garantiu o desenvolvimento e produção do citado IFA.

Neste contexto, reconhecendo a importância do setor farmoquímico para a cadeia farmacêutica, vivenciamos algumas ações governamentais visando o fortalecimento do setor. Entre essas ações, destacamos as Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), normatizadas pela Portaria do Ministério da Saúde no 837/2012, a qual define as diretrizes para o estabelecimento das PDPs. Atualmente são 63 PDPs formalizadas com a perspectiva de internalização da produção dos IFAs.

Em recente levantamento da capacitação das empresas farmoquímicas instaladas no País, realizado pela Fiocruz, foi possível constatar os resultados positivos das PDPs para as empresas farmoquímicas que participam desta iniciativa. A internalização de novas tecnologias com todas as atividades a ela inerentes vem propiciando uma dinamização nas estruturas fabris e de P&D das nossas indústrias farmoquímicas, adicionalmente ao aumento do faturamento.

Enfim, acredito que o setor farmoquímico atravessa um ciclo virtuoso. Cabe às empresas aproveitarem as oportunidades ora disponíveis para crescerem de forma sustentável. O desafio continua a ser produzir com qualidade e com competitividade, visando à conquista e consolidação do mercado privado, adicionalmente ao mercado público.”

Jorge Costa
Jorge Costa
Assessor técnico da Vice-Presidência de Inovação e Produção em Saúde da Fiocruz.
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Luiz Antonio Elias

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