Nós seres humanos, em que pese nossa apregoada racionalidade, costumamos nos deixar levar pelo apelo das mágicas soluções.
Principalmente quando elas envolvem o sonho de vivermos uma vida plena de saúde, capacidade intelectual e jovialidade permanente. Estamos como o explorador espanhol Juan Ponce de Leon (1460-1521), que partiu de Porto Rico em 1513, em busca da “Fonte da Juventude”, cuja existência era afirmada por uma lenda indígena. Ponce de Leon descobriu a Flórida, mas morreu sem jamais encontrar a sonhada fonte. Certamente não foi ele o primeiro ser humano a acreditar em tal quimera, pois o homem desde que teve pela primeira vez, consciência de sua finitude e das mazelas da saúde que enfrentaria ao longo de sua vida, começou a incessante busca do segredo da juventude e da saúde eternas.
Que presa fácil acabamos nos tornando para aqueles que fazem do mercado de ilusões a fonte de sua riqueza. Neste mercado encontramos soluções para todos os males que afligem nossa saúde, sempre há um produto adequado para nossas necessidades, resolvendo a impotência sexual, a fadiga crônica, o stress, a falta de memória, retardando o envelhecimento e suas conseqüências, resolvendo o problema dos radicais livres e transformando nosso organismo num paradigma de saúde e longevidade. A promessa é de que seremos “Dorians Grays” modernos, o que envelhecerá será nosso retrato, jamais nós.
Os produtos provenientes do mercado das ilusões são apresentados geralmente em atraentes embalagens, e podem ser encontrados em inúmeras das sessenta mil farmácias e drogarias existentes em nosso país, nas lojas de produtos naturais e nutricionais e principalmente através do serviço de televendas das empresas que atuam neste mercado. A sua procura decorre geralmente das inúmeras propagandas veiculadas nos diferentes meios de comunicação, onde espertamente dizem que não se trata de medicamento, mas “auxilia” de forma importante no tratamento das patologias que nos afligem.
Praticamente todos os produtos disponibilizados no mercado das ilusões tem algo em comum, a falta de registro sanitário na Anvisa. E apesar desta flagrante ilegalidade disputam mercado com os produtos e medicamentos que submeteram-se ao calvário burocrático para obter o registro sanitário, que autoriza sua comercialização dentro dos preceitos da legalidade. Infelizmente é preciso também mencionar que muitos medicamentos vendidos no mercado das ilusões são manipulados, pois jamais teriam seu registro aceito pela Anvisa.
Lembro que os conselhos que regulam o exercício profissional na área da saúde, especialmente o Conselho Federal de Medicina, tem orientado os profissionais da saúde para a falta de credibilidade de muitos dos tratamentos existentes no mercado das ilusões.
Portanto prezados Diretores, Gerentes e técnicos da Anvisa a sociedade requer e exige sua atenção para o gravíssimo risco sanitário, a que está exposta, em função dos produtos e “medicamentos” vendidos no mercado das ilusões.
Nossos laboratórios, que atuam dentro dos preceitos legais e que não raro penam para cumprir questionáveis exigências burocráticas, que em nada afetam o risco sanitário, certamente serão gratos e reconhecidos se a Anvisa fizer o que dela se espera, no que respeita ao mercado das ilusões.
Para finalizar lembro aqueles que se locupletam através do mercado das ilusões, a afirmação de Eduardo Giannetti em seu magnífico livro intitulado “Auto-Engano”:
“O hipócrita social em qualquer área de atividade, que por descuido perca o pé das pretensões que ostenta, tropece na consistência do papel que representa ou se enrede na teia de suas próprias mentiras perde o crédito e está falido”.
É nossa esperança!