O Estado de S.Paulo

11/05/15

 

‘O difícil é manter a liderança da marca’

O fundador do laboratório Cristália conta que foi considerado louco pelos sócios quando propôs a fabricação de remédios

 

Ana Clara Barbosa

ESPECIAL PARA O ESTADO

 

O Cristália – complexo industrial farmoquímico, farmacêutico e biotecnológico – é uma empresa 100% brasileira, referência em inovação e tecnologia. Com o desempenho atual, fica difícil acreditar que seu idealizador, Ogari de Castro Pacheco, foi considerado louco quando sugeriu aos seus sócios a criação de um pequeno laboratório dentro do hospital que possuíam, para fabricarem os remédios mais utilizados por eles. 

 

A história do empreendimento começou quando Pacheco estava terminando a residência no Hospital das Clínicas, no final dos anos 1960, em São Paulo. Um amigo o convidou para trabalhar ao seu lado em Itapira, em um hospital psiquiátrico. Ele aceitou e ficou no local durante dois anos. Depois, com outros médicos, montou uma nova clínica na cidade.

 

Na época, ele e os parceiros juntaram as economias e conseguiram comprar um hospital que estava prestes a ser fechado, chamado Clínica Cristália. O pro blema, no entanto, é que só havia 13 pacientes, que não podiam pagar pelos tratamentos. O grupo, inicialmente formado por oito médicos, ficou reduzido, pois muitos não aceitaram o desafio. 

 

Ogari persistiu e resolveu ir atrás de credenciamento na rede pública. Segundo ele, esta era a única forma de conseguir alguma verba. Em pouco tempo, a quantidade de pacientes aumentou para 60 e, com o governo pagando em dia, os problemas cessaram.

 

Com as coisas caminhando, em 1972, Pacheco sugeriu aos seus sócios que fizessem algo diferente. “Para melhorar operacionalmente o hospital e reduzirmos custos, pensamos na produção de medicamentos para cobrir a demanda do próprio hospital, já que eles representavam boa parte dos custos do negócio. Eu acreditava que esta seria uma forma prática para reduzir os gastos.” No entanto, nenhum de seus sócios acreditou em sua proposta.

 

“Foi difícil convencê-los, porque o hospital estava indo muito bem. Fazer um laboratório, quando nenhum de nós tinha experiência industrial, parecia estranho”, conta.

 

A teimosia persistiu por pouco tempo, porque Pacheco conseguiu convencê-los, mas teve de se contentar em montar o laboratório em um local do hospital no qual havia apenas os alicerces de um novo pavilhão. A ideia não era ter um negócio grande, mas atenderàs carênciasdo hospital. Logo essa visão foi alterada, pois a produção excedia a demanda, surgindo a oportunidadede comercializá-los. “Após algunsanos,nós jáéramos os principais fornecedores do governo”, recorda.

 

Nos anos 1980, com o crescimento do laboratório, Pacheco passou a se dedicar exclusivamente ao Cristália. “Parei de clinicar. Percebi que não dava para fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Hoje, apenas administro.” Com seu espírito empreendedor, percebeu onde existia maior oportunidade de negócio que, no caso, foi voltado para analgésicos fortes usados em pós-operatórios.

 

O médico reuniu uma equipe para desenvolver fórmulas próprias e adotou equipamentos de tecnologia de ponta. Nos anos 1990, a marca já era reconhecida no mercado. A partir daí, o investimento foi na produção de novos anestésicos.

 

Segundo Pacheco, em 2014, o laboratório faturou R$ 1, 450 bilhão. Mas ele sente necessidade de superar este número. “É uma questão de sobrevivência, senão a gente não se desenvolve” avalia.

 

Atualmente, o Cristália é líder em produção de anestesias no País, mercado que era dominado por multinacionais quando a empresa começou. Pacheco, porém, não nega os desafios. “É mais difícil manter uma liderança do que conquistá-la. Estamos batalhando para que isso permaneça assim.”

 

O empresário conta que eles têmavançados estudos de medicamentos contra a Aids. “O Cristália se diferencia porque produz suas próprias matérias-primas e, com isso, conquistamos algumas vantagens importantes. Este é um dos motivos pelos quais conseguimos essa liderança”, afirma Pacheco.

 

– Circunstância

“A ideia não era ter um negócio grande. Isso mudou quando a produção passou a superar nossa demanda”

 

Ogari de Castro Pacheco

PRESIDENTE DO CRISTÁLIA  

 

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