Estado de Minas
25/04/15
Paula Carolina
O desenvolvimento de um método com técnica diferente da atualmente adotada vai permitir à Fundação Ezequiel Dias (Funed), ainda neste semestre, fazer a identificação da presença de micotoxinas em alimentos vendidos em Minas Gerais de maneira mais rápida, com menor custo e maior precisão. A Funed participa, desde 2000, do Programa Estadual de Monitoramento da Qualidade de Alimentos (Progvisa), da Vigilância Sanitária, e o método foi desenvolvido por um de seus pesquisadores, o químico Fabiano Narciso Paschoal, que trabalha no programa desde 2008. Micotoxinas são toxinas produzidas por fungos, que podem ter efeito cancerígeno em animais e até mesmo em humanos, além de gerar outros efeitos tóxicos no organismo, dependendo do grupo de toxinas, que é diferente conforme o alimento afetado. O foco principal do programa é a análise de grãos, em especial de milho, amendoim e derivados de ambos, normalmente os produtos mais contaminados.
A técnica foi desenvolvida por Paschoal, que é analista e pesquisador de saúde e tecnologia da Funed, durante o mestrado em ciência e tecnologia de alimentos, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O produto escolhido foi o fubá, tendo em vista ser um derivado do milho altamente consumido no Brasil, principalmente por famílias de baixa renda. Uma das principais características do método é permitir uma análise simultânea de vários grupos de micotoxinas em um só procedimento. Pelo usado até agora, tem que ser analisado um grupo de micotoxinas de cada vez e as etapas que antecedem a determinação (momento em que a amostra vai para dentro do equipamento), segundo Fabiano, são mais longas e consomem maior quantidade de reagentes químicos, gastando mais tempo, gerando mais custo e resultando em mais resíduos.
“Isso ocorre porque hoje são necessárias várias etapas de purificação. Ou seja, pegamos o alimento e ele passa por muitos procedimentos até resultar na amostra líquida que é colocada no equipamento”, explica Paschoal, lembrando que o método da cromatografia líquida de alta eficiência será substituído pelo da cromatografia líquida de ultraperformance. “A redução no número de etapas nessa fase é drástica, graças à nova metodologia, que envolve a técnica de espectrometria de massas”, ressalta o pesquisador. O fato de se usar uma metodologia mais simples, com menos etapas, também faz com que sejam reduzidas as fontes de erros, possibilitando resultado mais preciso.
MONITORAMENTO O equipamento também é outro, com melhor capacidade analítica, devido a uma maior sensibilidade e seletividade. “Quando falamos em sensibilidade significa que o equipamento consegue fazer o monitoramento em concentrações menores. E a seletividade é porque quando se trabalha com alimentos, há vários componentes envolvidos. E você consegue analisar determinado componente sofrendo menor interferência dos demais, que compõem a matriz do alimento”, afirma Paschoal. Para se iniciar o trabalho usando o novo método, a equipe da qual Fabiano faz parte aguarda somente o término das obras do laboratório. O primeiro produto a ser a analisado com a diferente técnica será o fubá, para o qual já foi desenvolvida a metodologia. Mas o pesquisador explica que paulatinamente será desenvolvida uma metodologia para cada produto a ser analisado.
A Vigilância Sanitária é que determina qual produto será monitorado pela Funed. Fiscais visitam supermercados de todo o estado e fazem a coleta do alimento, sempre pegando marcas e lotes diferentes e volume suficiente para uma prova, contraprova e amostra testemunho (necessária quando a prova detecta contaminação e a contraprova não repete o resultado). A empresa é obrigada a fornecer os pacotes. Conforme a época, determina-se que tipo de produto será analisado. O milho e o amendoim, no entanto, sempre fazem parte do programa devido ao alto nível de contaminação.
De acordo com Paschoal, um dos grandes problemas da contaminação por micotoxinas é que ela pode ocorrer em todas as etapas da cadeia produtiva do alimento. “Esses fungos são capazes de produzir toxinas desde na semente em desenvolvimento, passando pela embalagem e transporte até o armazenamento. Enfim, em todas as etapas”, relata o pesquisador. Por isso, manter o produto longe de contaminação é extremamente caro. Segundo o qumíco, no entanto, graças ao monitoramento, o problema tem diminuído muito em Minas Gerais, principalmente no que diz respeito ao amendoim.
CONSUMO É importante ressaltar que o fato de a amostra detetar contaminação não significa que o produto esteja impróprio para o consumo. Existem limites máximos toleráveis, que variam conforme o alimento, e são determinados pela legislação brasileira – Resolução RDC-7/2011, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os limites levam em conta o potencial tóxico do grupo e, como sói acontecer, muitas vezes são mais tolerantes no Brasil em comparação com normas internacionais.
Somente acima desses limites, o alimento é condenado. Então é emitido um laudo para a Vigilância Sanitária, que toma as providências em relação a multas e recolhimento do produto. A responsabilidade é do fabricante.