Por César Felício | De Buenos Aires
Por meio de uma parceria com Cuba, a argentina Chemo avança no segmento de remédios para câncer em estágio avançado. A empresa irá conseguir no próximo dia 14 a homologação para comercializar na Argentina o Racotumumabe, voltado para tumores pulmonais. A droga está sendo testada no Brasil pela Eurofarma, que terá a exclusividade para a sua comercialização no país, que só deve começar a partir de 2017.
A droga, injetável, é uma vacina terapêutica. Ela será aplicada em pacientes com o câncer de pulmão avançado e o efeito esperado é que uma reação imunológica seja gerada, diminuindo o tumor. Nos testes com a medicação já concluídos, a sobrevida à doença superior a dois anos aumentou de 8% para 24%. O câncer no pulmão é a forma mais letal das neoplasias.
Dono da Chemo, o empresário e médico Hugo Sigman estima que o investimento para o desenvolvimento da droga deverá girar em torno de US$ 100 milhões. A Chemo é o braço principal do grupo Insud, que fatura US$ 1,2 bilhão ao ano, sendo que a Argentina responde por 16,7% da receita. A nova droga será produzida simultaneamente na Argentina e em Cuba, por meio do consórcio Reconbio.
Em função do embargo americano ao país caribenho, não há perspectivas do medicamento ingressar nos Estados Unidos. Além do Brasil, a nova droga é testada simultaneamente no Uruguai, Cingapura, India e Indonésia. A Argentina irá antecipar a comercialização em função de uma peculiaridade da legislação local: a agência reguladora do país permite uma espécie de registro precário para remédios utilizados contra doenças com alto grau de letalidade, que pode ser confirmado ou não por testes posteriores. No caso brasileiro, não há essa possibilidade.
“O estudo clínico será concluído até o fim de 2014 e depois há o período de encaminhamento do pedido de registro, cujo tempo normal é de dois anos”, disse a vice-presidente de inovação da Eurofarma, Martha Penna. A companhia brasileira poderá envasar a droga e tem histórico de parcerias com consórcios que desenvolvem medicações oncológicas em Cuba.
Também se originou na ilha o Nimotuzumabe, já comercializado no Brasil para glioma pediátrico, um raro tipo de câncer no cérebro. A Eurofarma está com três estudos em andamento para liberar a droga para combate de outros tumores de cabeça e pescoço, esôfago e colo uterino.
O custo final do medicamento será alto – uma sessão de 17 aplicações do Racotumumabe custará US$ 30 mil na Argentina. Mas Sigman admite que o investimento está abaixo das cifras bilionárias que costumam estar associadas ao desenvolvimento de novas drogas.
“Os cubanos permitem que o aporte de capital seja a baixo custo. Há uma mitologia sobre os altos custos da indústria farmacêutica. As margens altas levam a uma certa liberalidade no valor dos investimentos”, disse Sigman. ” O caso da indústria farmacêutica para produtos oncológicos é diferente. Os estudos podem ser feito por um tempo mais curto e com menos pacientes do que os desenvolvidos para doenças mais comuns, como diabetes. São realidades difíceis de comparar”, disse Martha Penna.
A Chemo, em sociedade com o Libbs, deve produzir biossimilares no Brasil, em um investimento de R$ 200 milhões anunciado em abril.
Fonte: Valor Econômico