Nós nos acostumamos a dizer antes tarde do que nunca. Quando, muitas vezes, o tarde pode significar nunca mais. Antes tarde e nunca mais. Por que tarde? Por que temos de dizer antes tarde do que nunca quando se trata de seguir os fundamentos essenciais das economias?


Há uma década o alerta está dado àqueles que controlam as leis e tributos no Brasil sobre o impacto dos impostos na produção, no desenvolvimento e na inovação: a indústria brasileira está no limite, não há sinais de financiamento suficiente para atender a todos, daqui a pouco vai faltar oxigênio e quem vai se dar bem são os produtos importados.


Antes tarde do que nunca é uma maneira de enfrentar o fracasso no diálogo com os atores que detêm o poder. Quando uma medida é tomada, a voz que vem do além é: antes tarde do que nunca, ainda dá tempo de corrigir a situação, reverter o cenário, seguir em frente. Como aquele garotinho do filme, começamos a ver mortos.


Na mídia o governo avisa que está disposto a estender a desoneração da folha de pagamento a outros setores industriais. Mapeadas pelo MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – há pouco mais de trinta cadeias produtivas. Nenhuma delas deixou de dizer, bem antes, que este seria um fator importante para garantir a estabilidade da indústria nacional. Mas os gestores públicos não quiseram ouvir, preferiram deixar mais um tempo para testar o oxigênio.


A disposição talvez não seja tardia já que antes tarde do que nunca, não é?  Qualquer ação antes do que tarde é urgente, em especial, para uma sociedade em que a maioria das micros, pequenas e médias empresas não alcança uma década, por falta de financiamento, incapacidade gerencial e carga tributária asfixiante, mas emprega oitenta por cento da mão de obra ativa.


A desoneração tem de ser na base, pelo menos, das cadeias produtivas estruturadas, organizadas e acompanhadas pelo MDIC. Nem seria necessária a opção de segmentos da indústria. Seria uma ação emergencial e estruturante, incluindo todas as empresas que estejam na condição de micros, pequenas e médias.


Diante do cenário internacional de crescimento negativo para a maioria dos países ricos, crescimento diminuto para os emergentes, seria uma temeridade que o Brasil assistisse a desindustrialização do país e a falência daqueles que empreenderam e empreendem para ter um Estado rico frente a uma sociedade civil pobre e um mercado endividado e sem interesse na produção.


Uma década atrás, quando frequentei as rodadas para instalação das cadeias produtivas e lançamento da política industrial, era mau sinal de diálogo o simples movimento para falar em flexibilizar a folha de pagamento, discutir reformas nas leis trabalhistas e falar na desoneração de tributos e encargos. Mas, mesmo que na condição de antes tarde do que nunca, eis a hora diante do cenário da economia mundial, dos estoques internos de produtos importados e da desindustrialização do país. Vai passar melhor quem melhor tiver uma indústria atuante.


Não é uma discussão simples. Quando a indústria brasileira vai à negociação tenta apresentar um quadro do que está acontecendo como desindustrialização e tem encontrado, pela frente, gestores, vindos de universidades e enraizados no setor público, falando que há exageros. A discussão da desoneração não é um simples modelo contra as oscilações do dólar e a compra de importados: é sobre o fortalecimento da indústria nacional.
 
 
 
*Josimar Henrique é Presidente da Hebron Farmacêutica – www.hebron.com.br e Diretor Temático de Assuntos Parlamentares da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades – ABIFINA – www.abifina.org.br.
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