Modelo dinamarquês e estratégias de comercialização de pesquisa acadêmica foram destaques na conferência inaugural do IX SIPID

O papel do investimento privado em ciência para criar uma estratégia de Propriedade Intelectual planejada e sustentável e a trajetória que leva um país a se tornar um caso de sucesso em inovação foram tema da conferência inaugural da nona edição do Seminário Internacional Patentes, Inovação e Desenvolvimento – IX SIPID, que teve início na manhã desta terça-feira, 18 de setembro. Federico De Masi, professor do Departamento de Bioinformática e Informática da saúde da Universidade Técnica da Dinamarca, contou sobre como o destaque da Dinamarca no setor foi forjado com investimento empresarial e estímulo à inovação. Só entre 2010 e 2016, o país europeu registrou 5.516 patentes, enquanto o Brasil teve 514 no total, segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). “Nós somos número 2, com cerca de mil patentes por milhão de pessoas. Perdemos para a Suíça”, comparou.

Masi refletiu sobre o histórico do país escandinavo, que é menor do que o estado do Rio de Janeiro, nas áreas de biotecnologia e farmacêutica, mostrou opções de comercialização e licenciamento a partir de direitos de Propriedade Intelectual (IPR, na sigla em inglês), citou exemplos de organização de sistemas de PI por empresas e ainda revelou que esse investimento retorna para a sociedade na forma de negócios e fomentos para pesquisadores.

Com pós-doutorado em Sistemas biológicos e genética, Masi é professor associado da Universidade Técnica da Dinamarca e do Centro de pesquisa de proteínas da Fundação Novo Nordisk. Além disso, trabalha como consultor de inovação e é gerente de projetos de Bioinformática na Intomics, uma empresa de Pesquisa e Desenvolvimento s serviço da indústria farmacêutica.

Financiamento

O especialista destacou que financiamento básico, apoio a startups e colaborações são cruciais para a biotecnologia. Investir em pesquisa científica, de acordo com ele, é obrigatório para as indústrias. Para Masi, não há dicotomia entre a carreira acadêmica e a inserção em indústrias. “É isso que estamos ensinando nas universidades desde o início, que ideias podem ser boas para todos. Trata-se de empreendedorismo como parte da pesquisa acadêmica”, apontou. Juntas, as duas podem acelerar a inovação. Uma das práticas que alimenta essa relação são as “university spin-offs”, ou empresas-modelo criadas ainda na universidade que se tornam independentes a partir de um modelo de negócio sustentável e financiamento.

Na apresentação, Masi desmitificou a carreira em pesquisa científica que, segundo ele, não se resume à suposta oposição entre papers e negócios, já que ambos precisam um do outro. O pesquisador lembrou que, cada vez mais, etapas da pesquisa se sobrepõem e que o patenteamento já corre paralelamente ao desenvolvimento. A chave, segundo ele, é uma estratégia de comercialização apropriada que pode vir na forma de licenciamentos para firmas já existentes, de inovações com base na patente, da venda de serviços de pesquisa, de transferência de pessoal, entre outras.

Tomando como exemplo o teste QuantiFERON, de diagnóstico de tuberculose, Masi demonstrou que há diferentes formas de comercializar diferentes serviços que não se sobreponham, mas se relacionam àquela patente original e podem dar origem a novas patentes.

Masi sustentou ainda que o retorno para a sociedade se dá pelos negócios e o conhecimento produzidos, além das iniciativas das fundações, que reinvestem parte dos lucros das farmacêuticas em bolsas para pesquisa de ciência básica e outras. Em 2017, só a Novo Nordisk concedeu quase um bilhão de dólares em bolsas e subsídios. Este ano, já foram mais 500 milhões de dólares.

Histórico

Em sua retrospectiva, Masi lembrou que a Dinamarca é um dos países que investem em biotecnologia e farmacologia há mais tempo no mundo. Segundo ele, a pioneira foi a fabricante de cerveja Carlsberg, que abriu seu laboratório em 1875 para pesquisar as etapas da produção da bebida e formas de melhorá-la. A Fundação Carlsberg foi fundada um ano depois e, além de cuidar do laboratório, passou a apoiar a pesquisa científica na Dinamarca, tendo proporcionado grandes avanços patenteados tanto na tecnologia de fabricação de cerveja, como em muitos outros campos como química, engenharia, polímeros, tecnologia de alimentos, agricultura, farmacologia. Desde o início, a tática da empresa foi não estabelecer sigilo sobre suas descobertas. “Eles criaram a pesquisa científica dinamarquesa”, resume ele.

Outro ator que faz diferença no sucesso da Dinamarca na área de PI é a farmacêutica Novo Nordisk. Criada a partir da fusão de duas empresas dedicadas à produção de insulina e fundadas quase 100 anos atrás, a Fundação Novo Nordisk surgiu em 1989. A pesquisa desenvolvida lá já gerou milhares de patentes principalmente nas áreas de farmacologia, biotecnologia e química. Masi destacou o posicionamento da empresa, que considera fatores sociais, ambientais e financeiros ao lidar com IPR.

Já o Medicon Valley é outra experiência dinamarquesa – e sueca – que contribui para a inovação na área da saúde. Com mais de 40 mil empregados ligados a centenas de empresas, as cidades de Copenhagen, Malmö e Lund se tornaram juntas um polo de ciências da vida onde se pesquisa, produz e negocia tecnologia relacionadas a biotecnologia, farmoquímica e tecnologia médica em mais de 350 empresas. A integração, que além de academia e empresas inclui o setor público, garante mais dinamismo, disponibilidade de profissionais altamente qualificados, oportunidades de financiamento e suprimentos, acesso ao conhecimento e altos níveis de inovação, produtividade e crescimento.

 

Acesse aqui: apresentação do convidado internacional e professor do Departamento de Bioinformática e Informática da saúde da Universidade Técnica da Dinamarca, Federico De Masi

 

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