Parceria foi anunciada durante encontro promovido pelas instituições
A ABIFINA e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) acabam de firmar um acordo de cooperação para incentivar projetos de inovação na indústria da química fina. A formalização da parceria aconteceu em 4 de outubro, durante o Encontro Embrapii: Biotec e Química Fina, quando foram apresentados os diferentes programas de fomento da estatal.
O objetivo do acordo é fortalecer a produção local e reduzir a alta dependência brasileira de insumos importados, por meio do estímulo a projetos inovadores. “Queremos fomentar nossa independência estratégica no segmento da química fina”, declarou Marcus Soalheiro, presidente do Conselho Administrativo da ABIFINA. “Essa parceria tende a agregar mais valor para o País e fortalecer a cadeia. A química fina é um setor prioritário. Queremos estar mais próximos e oferecer o modelo Embrapii”, afirmou o economista José Luis Gordon, novo diretor-presidente da estatal.
Entre as ações do acordo, a ABIFINA propõe que Unidades Embrapii – centros de excelência credenciados da organização – se associem à entidade para estreitar laços e unir competências. “A associação dessas instituições no corpo da nossa associação possibilita o trabalho em conjunto e o fortalecimento das competências de cada instituição”, disse Soalheiro.
A Embrapii
Criada em 2013, a Embrapii atua no fomento à inovação e ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. “No Brasil a maioria das empresas não tem centro de pesquisa e desenvolvimento, pois é necessário um investimento alto de infraestrutura e equipe. A Embrapii oferece essa infraestrutura, fazendo a conexão (de empresas) com instituições (de pesquisa) de excelência”, explicou Fábio Cavalcante, coordenador da Diretoria de Planejamento e Relações Institucionais da estatal.
Um dos principais focos da Embrapii é aumentar a sobrevida de projetos de inovação que se encontram no chamado Vale da Morte, quando possuem mais risco de fracassarem. Para isso, revelou Cavalcante, a empresa adota um modelo de fomento tripartite, no qual a estatal, a Unidade Embrapii e a empresa contratante dividem custos e riscos do projeto.
O fluxo de contratação da estatal é contínuo, sem chamadas ou editais, sendo necessário apenas que a empresa ou indústria interessada entre em contato com a Unidade Embrapii de interesse e negocie os termos do contrato. “Temos flexibilidade, pouca burocracia e um tempo bem curto de contratação, pois a inovação tem que acontecer no tempo da empresa”, argumentou Cavalcante.
Há ainda programas específicos para startups e micro e pequenas empresas, como o Lab2Mkt, que acompanha todo o ciclo de inovação, desde o desenvolvimento da tecnologia até sua chegada ao mercado. Outro exemplo é o Basic Funding, focado em novas rotas tecnológicas, para projetos em níveis de maturidade mais baixos. Nesse modelo, é necessária a parceria de pelo menos duas empresas, uma startup e duas Unidades Embrapii.
Unidades Embrapii
As Unidades Embrapii são Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) de excelência, incorporados à estrutura da estatal após uma seleção criteriosa, garante Cavalcante. Durante o Encontro Embrapii, quatro delas se apresentaram, todas com atuação em áreas que contemplam necessidades da química fina.
A primeira foi o Centro de Química Medicinal (CQMED), da Unicamp, cujas competências abrangem as áreas da química (sintética e analítica), varredura de compostos, produção de proteínas recombinantes, ensaios bioquímicos e celulares, e biologia estrutural. O objetivo é apoiar a inovação desde os estágios iniciais. “A gente tenta preencher a lacuna do vale da morte na inovação, fazendo a ponte entre a pesquisa básica e a aplicada”, afirmou Rafael, coordenador científico do ICT. O Centro possui uma plataforma de descoberta de novos fármacos para a doenças humanas que são também utilizadas para desenvolver proteínas recombinantes para diagnóstico e biotecnologia. Entre os projetos de P&D em que o CQMED atua por meio da Embrapii estão a produção de proteínas recombinantes a serem usadas de insumo para testes diagnósticos, a validação de novos alvos terapêuticos com o desenvolvimento de moléculas sintéticas e o uso de novos métodos para a descoberta de fármacos, como a espectrometria de massas.
No caso do Instituto Senai de Inovação em Química Verde, no Rio de Janeiro, o foco são projetos relativos a processo, materiais e transformações químicas verdes e a metodologias e tecnologias sustentáveis de monitoramento químico. “A química precisa se reinventar pra chegar na fronteira do conhecimento, e a ABIFINA atua nessa fronteira”, defendeu Giovanni Pedroso, pesquisador do Instituto. Ele contou que a sustentabilidade está no cerne de atuação do centro de pesquisa. “Temos tecnologias e processos que seguem o conceito de sustentabilidade, com otimização dos processos e reaproveitamento de recursos, reduzindo a produção de resíduos. Focamos também a biodiversidade nacional”, disse.
Apresentação ISI Química Verde
Já o Instituto de Pesquisa Tecnológicas (IPT), com mais de 123 anos de história é ligado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico de SP, dispõe de infraestrutura para atuação em diferentes temas. O destaque é a Unidade de Bionanomanufatura, que aposta nas plataformas de nanotecnologia, biotecnologia e micromanufatura. Aline Machado, gerente de negócios de Bionanomanufatura do IPT, também contou que o instituto está estruturando o Núcleo de Tecnologias Avançadas para Bem-estar e Saúde aplicados às Ciências da Vida, tendo como parceiros a XenoBrasil, USP, e a EMS para o projeto “Sistematização do Método de Xenotransplantes no Brasil.
Apresentação IPT | Bionano_IPT.mp4
A quarta Unidade Embrapii presente foi o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), situado em Campinas. Ambiente sofisticado e efervescente de pesquisa e desenvolvimento, o CNPEM opera quatro Laboratórios Nacionais e é o berço do projeto mais complexo da ciência brasileira – Sirius – uma das fontes de luz síncrotron mais avançadas do mundo. O CNPEM reúne equipes multitemáticas, infraestruturas laboratoriais globalmente competitivas e abertas à comunidade científica, pesquisas em áreas estratégicas, projetos inovadores em parceria com o setor produtivo e também atua na formação de pesquisadores e jovens. O Centro é um ambiente impulsionado pela pesquisa de soluções com impacto nas áreas de Saúde, Energia e Materiais Renováveis, Agroambiental, Tecnologias Quânticas. Este ano, o CNPEM expandiu suas atividades com a abertura da Ilum Escola de Ciência – curso superior interdisciplinar em Ciência, Tecnologia e Inovação. Elaine Guedes, especialista de Inovação do Centro, revelou que está prevista a construção de um laboratório de biossegurança nível 4, o que vai possibilitar o avanço de estudos na área da saúde no País.
Casos de sucesso
No evento, duas associadas da ABIFINA apresentaram exemplos bem-sucedidos de projetos de pesquisa e desenvolvimento conduzidos com apoio da Embrapii. No caso da Centroflora, Cristina Ropke, que é também diretora de Biodiversidade da ABIFINA, contou que um dos projetos envolve parceria com o CNPEM, para uso do Sirius no desenvolvimento de um novo medicamento. Com o Instituto Senai Inovação, há projeto para o fortalecimento da cadeia do jaborandi, planta usada na fabricação de um importante insumo farmacêutico ativo.
Já para a Oxiteno, a parceria com a Embrapii possibilitou o investimento em inovações mais radicais, diluindo o risco. De acordo com Renata Haenel, responsável pela área de Inovação da Oxiteno, a diversidade dos campos de atuação das Unidades Embrapii é vista como uma vantagem. “Conseguimos encontrar (nas Unidades) uma infraestrutura e uma expertise que não temos”, afirmou. O apoio da Embrapii já está incorporado ao planejamento da empresa. “É um instrumento de fomento que consideramos em todas as análises de projeto em que temos desafios tecnológicos além do que conseguimos trabalhar internamente”, concluiu.
Homenagem a Jorge Guimarães
A ABIFINA aproveitou o encontro para homenagear Jorge Guimarães, ex-diretor-presidente da Embrapii, em reconhecimento ao seu trabalho à frente da instituição entre 2015 e 2022. “É inegável seu papel na consolidação do modelo inovador e bem-sucedido da Embrapii. Nossa homenagem também é motivada pelas contribuições do professor Jorge para a ciência brasileira, com sua longa trajetória enquanto professor e pesquisador no Brasil e no exterior”, declarou Antonio Bezerra, presidente executivo da ABIFINA.
Presente ao evento, Guimarães comemorou a cooperação entre ABIFINA e Embrapii, que permitirá à estatal avançar no fomento à inovação na área da saúde, que considera estratégica. “Vejo com satisfação a assinatura desse acordo que trará para a Embrapii novos desafios para atender a área farmacêutica. Tenho sido muito crítico do distanciamento do setor farmacêutico. Temos alguns exemplos que foram mostrados hoje, mas são pequenos para quem tem mais de 1,7 mil projetos”, argumentou.