Jose Luiz Tejon Megido *


Mal me quer, bem me quer? A Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) e o Núcleo de Agronegócio da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) queriam saber o quanto a população urbana brasileira percebia como importante ou não, e em que dimensão, o agronegócio. Também sobre os agricultores e as atividades envolvendo esse macrossetor, que – integrando todos os seus elos do antes, dentro e pós porteira das fazendas – significam algo em torno de R$ 1 trilhão do produto interno bruto.


Os dados foram apresentados na pesquisa sobre a percepção da população urbana brasileira dos grandes centros populacionais sobre o agronegócio e desvendam consideráveis mudanças na imagem que o urbano faz do novo agro nacional.


Os principais dados apontam para 81,3% da população considerando o agronegócio “muito importante” para a economia nacional. Nos casos em que os respondentes têm ensino superior, a importância máxima atribuída chega a 97,2%. No aspecto relativo à importância dos agricultores para a vida dos brasileiros, 83,8% avaliam essa atividade como muito importante. E o produtor figura ao lado das demais quatro atividades mais importantes, na percepção do cidadão urbano: médico (97,1%), professor (95,8%), bombeiro (94,3%) e policial (83,9%). Na Região Nordeste o agricultor recebe a avaliação máxima de 92,8%. Perguntado sobre “qual país tem o agronegócio mais desenvolvido”, o povo coloca o Brasil como campeão mundial – tudo isso no reino das percepções, pois se avançamos muito ainda temos gargalos e deficiências consideráveis para sermos considerados o número um nesse setor, à frente de Estados Unidos, China e Japão, entre outros.


Quanto aos setores considerados os “mais avançados” e “orgulho nacional”, o agronegócio, na média do País, ocupa o quinto lugar, atrás dos de mineração, petróleo, automobilístico, construção e eletroeletrônica, porém à frente de bancos, transporte, educação e saúde. Entretanto, no Centro-Oeste o agronegócio figura ao lado de mineração e petróleo, considerado o mais avançado e “orgulho nacional”.


As profissões mais associadas ao agronegócio são as de 1) agrônomo, 2) engenheiro ambiental, 3) peão, 4) médico veterinário, 5) administrador e 6) nutricionista. Isso também é revelador sobre o conceito de “cadeia”, em que o cidadão e consumidor da cidade guarda uma visão de que o campo é originador de muitos produtos transformados e, obviamente, dos alimentos e bebidas, como core dessa função. Da mesma forma, meio ambiente, consumo de água e “estilo country” de ser são três ângulos presentes e percebidos como aspectos que marcam o agro na preocupação dos cidadãos urbanos, que também apontaram consciência a respeito da ciência, da tecnologia e da pesquisa para poder atuar na nova agropecuária. Como aspecto cultural, culinária, música, feiras e festas são ingredientes considerados pelo urbano como presentes na sua vida, vindos lá do campo.


Se nos últimos 30 anos mudaram extraordinariamente a cidade, o consumidor e o cidadão, da mesma forma o agronegócio não é mais o mesmo. E a cidade grande – os 12 maiores contingentes populacionais do Brasil e, consequentemente, os 12 principais colégios eleitorais (as cidades pesquisadas) – alterou suas percepções sobre um campo antigo, atrasado, dominado por barões, coronéis e reis do gado extensivo para um novo campo com tecnologia, educação e novos profissionais e profissões.


Qual a importância disso?


Muda significativamente o olhar das lideranças do próprio setor sobre si mesmas e sobre o que a cidade pensa. E deveria alterar a atenção e a velocidade da gestão e da governança pública, de políticos e de executivos, responsáveis pelos pontos mais frágeis do agronegócio do País hoje: infraestrutura pós-porteira das fazendas, burocracia, tributação caótica e necessário planejamento, seguro e ambiente propício à organização das cadeias produtivas entre elas mesmas.


Precisa mudar o jogo perde-perde, como assistimos nas relações entre produtores de trigo e moinhos, entre citricultores e processadores, por exemplo. E isso vale para quase tudo: o leite, o cacau, a cevada, o café, o frango, o suíno, o milho, a mandioca, a banana, o pepino, a alface, o feijão, o arroz, até o atualmente famoso tomate, etc.


A cidade percebe o agronegócio como sendo não dependente de subsídios governamentais, ou seja, uma atividade muito mais privada. E ainda coloca esse setor da economia em níveis comparativos ao segmento da construção do ponto de vista da empregabilidade. São suas percepções.


A palavra “agronegócio” não é ainda decodificada pela maioria da população. Ao ser perguntado de forma espontânea, esse termo conta com 40% de “não sei dizer”. A Região Sudeste é a que menos sabe espontaneamente sobre o segmento, comparativamente às demais regiões. Entretanto, mais de 55% dos entrevistados declararam ter de algum a muito interesse sobre o setor.


Na população mais jovem, de 16 a 24 anos, a desinformação acerca do agronegócio é mais acentuada do que nas outras faixas etárias, o que exige das lideranças contemporâneas do agro uma atitude moderna da governança de redes sociais. Porque, se ao mesmo tempo é o jovem o mais desinformado, a pesquisa também revela serem as pessoas com computador e acesso à internet exatamente as mais bem informadas sobre a visão da cadeia de valor do agronegócio e do seu entorno.


A cidade mudou, o campo também. Uma nova ordem para essa governança passa a ser necessária. O fato novo: a cidade gosta do agronegócio!


* Jose Luiz Tejon Megido é coordenador do núcleo de Agronegócio da ESPM e comentarista da ‘Rádio Estadão’. E-mail: [email protected].


Fonte: Estadão

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