O Brasil subiu 13 posições no Indicador Global de Inovação 2011 (The Global Innovation Index), saindo do 60º lugar do ranking de 2010 para o 47º este ano. O levantamento é calculado todos os anos pelo Insead, uma das principais escolas de negócios da Europa, em parceria com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Wipo, da sigla em inglês), agência vinculada à ONU. O Global Innovation Index é construído com base em mais de 50 variáveis divididas em sete grandes blocos: Instituições (ambientes político e regulatório), Capital Intelectual e Pesquisa (indicadores de educação básica e superior), Infraestrutura (energia), Sofisticação de Mercado (acesso a crédito, mercado de capitais, comércio exterior), Sofisticação de Negócios (conhecimento dos profissionais, colaboração entre indústria e universidade), Produção Científica (computador por habitante, capacidade de geração de patentes) e Produção Criativa (consumo de produtos culturais e de lazer, produção de filmes). Com o resultado, o Brasil está atrás de países como Chile, Costa Rica e Portugal, mas à frente de Rússia, Índia e Argentina. A Suíça ganhou três posições e assumiu a liderança, seguida por Suécia e Singapura na 2ª e 3ª colocações, respectivamente. A China foi o único país representante dos Brics a figurar entre os dez países melhor conceituados, ficando com o 4º lugar. Finlândia (5º), Dinamarca (6º), Estados Unidos (7º), Canadá (8º), Holanda (9º) e Reino Unido (10º) fecham a lista dos países top tem em inovação. Em entrevista à TIC Mercado, Roberto Nicolsky, diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), falou sobre o levantamento. Segundo Nicolsky, não dá para entender como o Brasil atrás de países que não Têm histórico de produção tecnológica e à frente de países como a Índia, notadamente forte em fármacos, software e TI. O diretor da Protec também mencionou os pontos que estão fazendo da China uma grande potência mundial.


TIC – O Brasil subiu 13 posições no Indicador Global de Inovação 2011 (The Global Innovation Index). O que possibilitou esse “crescimento” ao Brasil?


Roberto Nicolsky – O Indicador Global de Inovação 2011 reúne 50 itens diferentes distribuídos em sete vertentes, que vão desde ambientes políticos e regulatórios, passando por acesso a crédito, indicadores de educação básica e superior, a consumo de produtos culturais e de lazer. Sinceramente, só fazendo um estágio no curso Insead, que o calcula e divulga, para entender como se pode ponderar tamanha dispersão de objetivos para se concluir algo efetivo e minimamente lógico. O resultado é esse “crescimento”.


TIC – Com o resultado, o Brasil está atrás de países como Chile, Costa Rica e Portugal. O que falta ao país para melhorar no ranking de inovação?


Roberto Nicolsky – Esse Indicador é tão surpreendente que não dá para entender como estamos atrás desses países, que nunca apresentaram a menor produção tecnológica e nem indústria têm. O que dizer então de, segundo esse indicador, termos superado a Índia, um dos principais players internacionais em siderurgia, fármacos, medicamentos, software e serviços de tecnologia da informação? E ainda crescimento de patentes e do PIB muito superiores aos nossos? É realmente inexplicável.


TIC – A China foi o único país representante dos Brics a figurar no top ten, ficando com o 4º lugar. O que a China fez e/ou faz de diferente do Brasil?


Roberto Nicolsky – A China faz tudo diferente do Brasil e faz o certo. A China está construindo a sua indústria de manufaturas baseada no comércio exterior, importando matérias primas e exportando em massa produtos de sua produção. Nós fazemos o contrário. Está avançando na fabricação de produtos, componentes e equipamentos cada vez com maior intensidade tecnológica e começando a desenvolver a sua própria tecnologia. A nossa indústria está sendo esvaziada tecnologicamente pelo dólar barato e a falta efetiva de aporte de recursos do Estado para compartilhar o risco do desenvolvimento tecnológico do setor produtivo. Suas patentes avançam rapidamente inclusive no USPTO, o escritório americano de propriedade intelectual. As nossas, em média, estão paralisadas há anos. A China forma 300 mil engenheiros por ano enquanto nós pouco passamos dos 30 mil. E já investe em pesquisa e desenvolvimento tecnológico 1,5% do seu PIB, que já é o segundo do mundo, algumas vezes maior que o nosso. Nós mal passamos do 1,1%, dos quais a maior parte é para a atividade acadêmica. Definitivamente, não há nada de parecido. O resultado é que eles têm crescido em média 10,5% ao ano, com a manufatura crescendo 15%, e nós apenas 3,5% ao ano, com a manufatura crescendo míseros 1,3%.


TIC – Como você enxerga o ambiente para o desenvolvimento de inovação no Brasil?


Roberto Nicolsky – Infelizmente é ainda muito difícil, pois o Estado brasileiro ainda não compreendeu plenamente que ele é o maior beneficiário das inovações tecnológicas agregadas a produtos e processos. Estas inovações elevam o faturamento das empresas e o Estado se apropria imediatamente de 37% (carga tributária) antes das empresas apurarem um eventual lucro. Na hora de investir, porém, ao invés de compartilhar o risco do desenvolvimento tecnológico – como fazem China, Coreia, Índia, etc. – toma recursos das empresas através das leis dos fundos setoriais e da Cide (sobre pagamentos de tecnologia) e só devolve às empresas 14% em média, apropriando-se da diferença. Em resumo, temos hoje ainda um balanço no conjunto das leis de “apoio” à inovação, o que significa que o Estado toma bem mais do que repassa. Isso faz o Brasil o único país do mundo em que alguns segmentos do seu setor produtivo têm uma contribuição compulsória para o financiamento da pesquisa acadêmica, função exclusiva do Estado no resto do mundo.


Fonte: Revista virtual TIC Mercado (PE)

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