Valor Econômico | 28/04/15
Por Mariana Caetano | De São Paulo
Sampaio, do Sindiveg: aumentou a pressão da ferrugem em lavouras de soja
As vendas de defensivos agrícolas bateram um novo recorde no país em 2014, mas o ritmo de avanço do segmento arrefeceu em relação aos anos anteriores. Levantamento recém-concluído pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) indica que a comercialização rendeu US$ 12,2 bilhões, 6,9% a mais que em 2013 (US$ 11,4 bilhões). Mesmo festejado pela indústria, o resultado sinaliza que o ciclo de crescimento de dois dígitos, registrado nos cinco anos anteriores, pode ter ficado para trás.
“Claro que dependerá muito do preço das commodities, do dólar e do clima. Mas o crescimento médio de 15% ao ano [de 2009 a 2013] foi muito positivo, até meio atípico, e já não deve se repetir”, disse ao Valor Amaury Paschoal Sartori, vice-presidente executivo do Sindiveg. A disparada alçou o Brasil ao topo do mercado global de defensivos, com pouco mais de 20% de vendas totais estimadas em US$ 56,5 bilhões. Os EUA ocupam a segunda colocação, com um mercado próximo de US$ 9 bilhões.
A desaceleração de 2014 foi fruto da combinação entre problemas climáticos (que estimularam a redução dos investimentos nas lavouras) e a diminuição da área plantada de culturas como milho, cana e algodão. Mas a soja ampliou sua participação nas vendas totais – de 51,3%, em 2013, para 56% no ano passado – e voltou a embalar o segmento.
A hegemonia da soja contribuiu também para que a comercialização de fungicidas apresentasse o incremento mais significativo entre as categorias de defensivos: 12,1%, para US$ 2,91 bilhões. O impulso foi dado pela maior necessidade de combate à ferrugem asiática, fungo responsável por perdas consideráveis em lavouras do grão. “Condições climáticas favoráveis à ferrugem e o desrespeito ao vazio sanitário em algumas regiões ajudaram a elevar a pressão da doença”, avaliou Ivan Sampaio, gerente de informação do Sindiveg.
Apesar de os fungicidas terem ganhado peso, a classe permaneceu como a terceira mais vendida, com 24% da comercialização total, atrás dos herbicidas (32%, ou US$ 3,902 bilhões) e dos inseticidas (39,9%, ou US$ 4,892 bilhões). A helicoverpa, lagarta que dizimou lavouras de grãos e fibras duas safras atrás, ainda colabora para manter os inseticidas como o carro-chefe do segmento. “O agricultor está convivendo melhor com a helicoverpa. Mas muitos também cuidaram dela e descuidaram um pouco de outras pragas consideradas secundárias, como as lagartas falsa-medideira e do cartucho, e a mosca branca”, afirmou Sampaio.
Os números do Sindiveg revelam, ainda, que a receita dos produtos chamados de “especialidades” (patenteados, portanto mais caros) aumentou em relação à dos genéricos: passou a 51,3% no ano passado, ante 45% em 2013. Em volume, porém, os patenteados ficaram apenas com 24% de participação, embora acima dos 18,5% do ano anterior. “Foram lançados mais dois ou três produtos diferenciados no ano passado, principalmente fungicidas, que justificam esse aumento dos especialidades”, contou o gerente do sindicato.
Este ano, o clima mais úmido tem favorecido os plantios de cana, café e citros, o que, a princípio, sugere um cenário melhor de vendas para esses segmentos, na perspectiva do Sindiveg. Com os problemas de seca que afetaram essas três importantes culturas de São Paulo em 2014, o Estado caiu no ranking de vendas do segundo para o quarto lugar, com US$ 1,479 bilhão. Mato Grosso, como já era esperado, seguiu na liderança, com US$ 2,567 bilhões, seguido por Rio Grande do Sul (US$ 1,582 bilhão) e Paraná (US$ 1,574 bilhão).
No momento, chama a atenção a lentidão nas negociações de insumos no país. “Os produtores estão esperando uma melhor definição do dólar para saber se compram defensivos agora ou não”, disse Sampaio. Normalmente, acrescentou o executivo, 65% das vendas se concentram no segundo semestre, mas em 2015 a balança pode pender ainda mais para a última metade do ano. “O primeiro trimestre começou fraco e isso se refletiu nas importações de produtos técnicos e formulados, que caíram ao menos 20% em volume”, afirmou.
Para 2015, a expectativa do Sindiveg é que as vendas de defensivos cresçam modestamente, de 1% a 2%, ou permaneçam estáveis. “Os mercados de milho e cana, por exemplo, têm patinado, mas a soja pode tirar essa diferença, como sempre”, concluiu Sampaio.