O que falta para o estado do Rio de Janeiro se tornar o locus da biotecnologia? A pergunta foi tema de workshop da Investe Rio nesta segunda-feira (17/10) e mobilizou representantes de empresas, agências de governo e academia para debaterem formas de impulsionar o setor na região. Após a abertura do evento pelo presidente da Investe Rio, Maurício Chacur, a professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lia Hasenclever, apresentou estudo realizado com um grupo de empresas de biotecnologia do estado, em que 77% delas destacaram problemas regulatórios; 46% reclamaram dos financiamentos e 31% da distribuição dos produtos. A pesquisa conclui que os principais entraves para o segmento são a inadequação ou ausência de prestadores serviços, a falta de apoio para P&D industrial, falta de regulamentação e normatização, e parcerias com outras empresas e instituições.


Estimativas indicam a existência de mais de 300 empresas de biotecnologia no País, 78% delas situadas na região Sudeste. O Rio de Janeiro é o segundo estado em termos de concentração, barrado apenas por São Paulo. De acordo com Antônio Werneck de Castro, do Instituto Vital Brazil (IVB), o governo estadual está estudando a possibilidade de implantar um sistema de fomento a projetos baseado na remuneração de investidores por meio de renda variável, de acordo com o sucesso de cada iniciativa.


Esse pode ser o modelo adotado no Parque Tecnológico da Vida, espaço que deverá ser construído no campus de 50m2 do IVB com a proposta de servir de plataforma compartilhada para gerenciar o desenvolvimento de produtos de empresas diversas, desde o início do processo até o registro e a comercialização.


“A ideia inicial era ter uma pequena incubadora no IVB, que evoluiu para uma proposta de formação de clusters e, então, para o desenvolvimento de projetos de biotecnologia no estado. O Parque quer criar a ponte entre academia e setor produtivo. Teremos áreas para garantia qualidade, desenvolvimento de produto, biotério, experimentação animal”, explicou Sérgio Mecena, coordenador do projeto, que se constituirá em uma ampla infraestrutura de suporte a empresas, com apoio de universidades e outras instituições. Com isso, o objetivo é umprir prazos, reduzir custos de operação, acompanhar a evolução tecnológica, obter registro mais preciso e ágil, com retorno financeiro mais rápido.


Segundo Mecena, o Parque vai investir em tecnologias que tenham potencial para chegar ao mercado. Dados apresentados por ele mostram que, em 2010, o Brasil teve déficit de US$ 8,8 bilhões em produtos biotecnológicos para saúde humana. Só em vacina, foi US$ 1,79 bilhão negativo. A importação de enzimas no País é de 70% a 80% do que é usado pela indústria nacional.
 


Barreiras regulatórias


Como contribuição, o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano, levantou alguns questionamentos. “Devemos avaliar nossa capacidade para saber no que vamos investir. Por exemplo, vamos desenvolver anticorpos monoclonais, se não conseguirmos fazer moléculas mais simples? Também precisamos pensar na relação de oferta e demanda: seremos capazes de gerar mercado para nossa oferta? E o poder de compra do Estado é suficiente para sustentar o desenvolvimento dessa cadeia?”, questionou.


Sobre os gargalos regulatórios – que lideram a lista de reclamações -, Barbano declarou: “Não há atalho, mesmo que a Anvisa melhore seu desempenho”, se referindo ao esforço que as empresas também precisam ter para se adequar às normas. Segundo ele, a prioridade da agência sempre estará no rigor para garantir a segurança nos produtos, o que poderia ser transformado em valor agregado.


“Quanto custa em um projeto a barreira regulatória? E quanto vale a certificação de qualidade, eficácia e segurança que o regulatório gera em relação à concorrência? Esse levantamento é o grande trabalho a ser feito no Brasil”, argumentou Barbano.


Para ele, o foco maior do Parque Tecnológico da Vida não deve ser produto, mas o dossiê de registro, como forma de encurtar o caminho para se chegar ao mercado. “Já vi empresas que desenvolveram excelentes produtos inovadores, mas perguntei ‘como vocês vão fazer com a segunda geração? Vocês têm o dossiê de registro?` A empresa não tinha. Se tivesse, poderia colocar mais 10 produtos no mercado em muito menos tempo”, explicou.



(Fonte: Natália Calandrini para Abifina – 18/10/2011)

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