Acordo. Aché, EMS, União Química e Hypermarcas criaram a BioNovis, que se dedicará à pesquisa e produção de biomedicamentos, segmento que cresce a uma taxa de 12% ao ano no mundo e no qual o Brasil desembolsa cerca de R$ 10 bilhões em importações


ANDRÉ MAGNABOSCO – O Estado de S.Paulo


O Brasil passará a ter um representante no mercado global de biomedicamentos (remédios produzidos com base em células vivas), segmento que movimenta cerca de US$ 160 bilhões anuais e cresce em média 12% ao ano no mundo. Essa posição será ocupada pela BioNovis, uma joint venture entre os laboratórios brasileiros Aché, EMS e União Química, além da Hypermarcas, que também atua no mercado farmacêutico.


A nova companhia surge com pretensões de se tornar a maior indústria farmacêutica do Brasil e de aproveitar uma lacuna no mercado nacional. Segundo o presidente da BioNovis, Odnir Finotti, o Brasil importa cerca de R$ 10 bilhões por ano em biomedicamentos, sendo que aproximadamente 60% desse montante é desembolsado diretamente pelo governo brasileiro.


Segundo Finotti, o Brasil é totalmente dependente de biofármacos importados. É o caso, por exemplo, do medicamento Etanercept, usado no tratamento de artrite reumatoide. Para oferecer esse medicamento aos brasileiros, o governo desembolsa R$ 600 milhões por ano, segundo o executivo. “Nenhum país deveria ter tamanha dependência. Se as praças de produção ficarem interditadas, falamos de um colapso mundial”, disse.


Concentração. A produção de biomedicamentos está concentrada em países desenvolvidos, como EUA, Alemanha e Suíça, além de potências asiáticas. Por isso, os parceiros decidiram que a nova empresa não poderá ser vendida futuramente a grupos estrangeiros. A BioNovis será controlada pelos quatro sócios, na proporção de 25% cada, e somente outros parceiros brasileiros poderão ingressar no bloco de controle.


A mentalidade nacionalista estabelecida na constituição da BioNovis, em um processo que levou seis meses de negociação, deve ser mantida nas etapas de pesquisa de medicamentos. A prioridade da companhia será o desenvolvimento de produtos voltados a atender as principais necessidades da população brasileira e de outros países considerados em desenvolvimento.


O plano da companhia, contudo, é se tornar futuramente uma referência global nesse mercado. “Este talvez seja o projeto mais importante que o Brasil já tenha feito na área farmacêutica. As projeções indicam que há potencial para ser a maior empresa farmacêutica do Brasil”, disse Finotti. “Queremos ser, em cinco anos, a melhor empresa de biotecnologia da América Latina, e dentro de dez anos, uma empresa globalizada.”


O início da produção de medicamentos pela BioNovis deve levar entre dois e três anos, após a aquisição de um pacote tecnológico, o qual representará a partida da etapa de pesquisa da nova empresa. Para isso, a BioNovis investirá R$ 500 milhões ao longo dos próximos cinco anos, a serem destinados principalmente à aquisição desse pacote tecnológico e à construção de uma fábrica e de um centro de pesquisa, ainda sem locais definidos. Os detalhes do plano de negócios da companhia deverão ser revelados em até 90 dias.


O contrato assinado ontem pelos sócios da BioNovis prevê que o investimento inicial na empresa somará R$ 200 milhões. Os R$ 300 milhões restantes serão levantados futuramente em operações de captação de recursos no mercado.


Os atuais sócios da BioNovis também podem vir a aportar capital na empresa, mas a alternativa mais provável é a contratação de linhas de financiamento, categoria na qual o BNDES é parceiro natural das grandes empresas instaladas no País. O BNDES, assim como outros grupos nacionais interessados em participar do projeto, poderá ingressar no bloco de controle da BioNovis futuramente.


Expansão. O mercado de biomedicamentos cresce em média 12% ao ano, acima da taxa atual de 2% a 3% dos medicamentos considerados tradicionais. Por isso, Finotti acredita que, dentro de 20 anos, o mercado de produtos biotecnológicos será maior do que o mercado dos medicamentos considerados tradicionais.


Fonte: O Estado de S. Paulo – 24/03/12

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