PEDRO WONGTSCHOWSKI, ENGENHEIRO QUÍMICO, MESTRE, DOUTOR EM ENGENHARIA, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PETROQUÍMICA, QUÍMICA LATINO-AMERICANA 


A indústria química brasileira passa por um momento de inflexão. Dois caminhos a ela se abrem: a estagnação ou o crescimento. A estagnação, consequência de um programa de investimento marginal, implica na progressiva perda de participação de mercado e na redução da posição competitiva da indústria. O crescimento, por seu lado, será consequência de um programa robusto de investimento e implicará no reforço competitivo da indústria estabelecida no Brasil.


O primeiro cenário – a estagnação – tem consequências nefastas. Fará com que parte crescente da demanda local seja atendida por importações e implicará na redução do número de empregos qualificados que a indústria química oferece. Nesse cenário, os setores a jusante da indústria – os da indústria de transformação, do agronegócio, dos serviços – perderão ainda mais do que a indústria química. É impossível desenvolver estes setores sem a participação ativa da indústria química, que cria produtos novos e aumenta a competitividade de seus clientes. O caminho da estagnação é o caminho do círculo vicioso: menos atividade, menos inovação, menos disponibilidade de produto gerarão mais importações, menor competitividade de setores consumidores de produtos químicos e, ao final, menor crescimento econômico no Brasil.


O segundo cenário – o crescimento – representa um circulo virtuoso: mais investimentos gera demanda por fabricação de equipamentos, por serviços de construção e montagem. Mais investimentos gera empregos e têm positivo efeito sobre os mercados a jusante da indústria química. Mais investimento gera inovação. Mais investimento gera mais consumo que exige, por sua vez, mais investimento.


Esse cenário, no entanto, tem como pré-requisito que a indústria local seja competitiva. Os fatores que levaram a indústria brasileira ao seu atual estado de baixa capacidade de competir são bem conhecidos. Dentre eles, estão o alto custo do investimento, os custos de energia, de matérias-primas; os custos logísticos, a tributação, os espúrios incentivos à importação, e crescentemente, os custos de mão de obra.


A evolução da indústria química mundial nos últimos 90 anos, aponta caminhos para o futuro. A indústria química de grande escala nasceu nos Estados Unidos, no começo da década de 1920 por um conjunto de circunstâncias: abundância de matérias-primas líquidas e gasosas de baixo custo, tecnologia adequada, um grande mercado e o incentivo para o crescimento ocasionando pelas demandas militares da segunda guerra mundial.


A rigor, disponibilidade de matérias-primas de baixo custo sempre foi o motor do crescimento da indústria química. Assim foi na Alemanha com o uso de gases provenientes da utilização de carvão, nos Estados Unidos com o uso de subprodutos de destilação de petróleo e mais ainda, no Oriente Médio com o uso de frações de gás natural. É assim hoje, nos Estados Unidos, com o advento do shale-gas. Esta nova fonte de matéria-prima de baixo custo está revitalizando a indústria química americana. Pode ser agora também o momento do Brasil.


No Brasil abre-se, finalmente, uma perspectiva para a indústria química: a disponibilidade de matérias-primas abundantes – portanto, potencialmente de baixo custo – e tecnologia para transformá-las nos building blocks mais importantes da indústria.


No curto prazo, as importações químicas – hoje representando US$ 42 bilhões anuais, e respondendo por 35% do consumo aparente – tendem a crescer. A saúde financeira – vale dizer a viabilidade – da indústria pode até ser melhorada, com as medidas tópicas que fazem hoje parte do cardápio adotado pelo governo federal.


Mas no prazo mais longo, digamos para o período 2016 – 2020, as decisões de investimento precisam ser tomadas agora. O prazo de maturação de investimentos de porte é, de pelo menos, 4 anos. As empresas só trilharão o caminho do investimento pesado – aquele que aumenta consideravelmente a capacidade de produção – se o sistema de precificação das matérias-primas futuramente disponíveis for definido agora. Este ano, 2012, representa a janela de oportunidade. Perde-la significa comprometer a partida de novas grandes unidades de produção em 2016 – 2020. Perde-la significa mais que duplicar as importações atuais, alcançando-se o nível de US$ 100 bilhões anuais em 2020.


Para um país com grande mercado interno, tradição industrial química estabelecida, a disponibilidade de matérias-primas poderá provocar um novo e necessário ciclo de investimentos no setor. Mas isto só ocorrerá se a precificação das matérias-primas futuramente disponíveis for definida agora.


Fonte: O Estado de S.Paulo | 25/04/12


 

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