A indústria farmacêutica é tradicionalmente classificada na literatura como baseada em ciência e inovação, e sua dinâmica é função direta do investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Caracteriza-se como um oligopólio diferenciado. Empresas globais investem, em média, 12% a 16% de seu faturamento em P&D e estão localizadas principalmente nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Em 2015, o mercado farmacêutico alcançou US$ 1,1 trilhão, segundo dados do QuintilesIMS Institute.

As empresas líderes do setor buscam o desenvolvimento de novos princípios ativos (inovação radical) que possam ser patenteados e comercializados com exclusividade. A proteção conferida pelo sistema de propriedade intelectual e os esforços de marketing, principalmente voltados à classe médica, permitem a prática de preços com altas margens. Quando a rede de patentes do produto expira, o medicamento pode ser comercializado como genérico por empresas concorrentes. No segmento de medicamentos genéricos, as margens são menores, sendo a competitividade determinada por custo, escala e por uma estratégia comercial direcionada pelo relacionamento com os canais de distribuição. 

 

O papel dos genéricos na consolidação do setor farmacêutico nacional 

No Brasil, o mercado farmacêutico teve um período de auge nos últimos dez anos, com crescimento médio acima de dois dígitos. Nesse contexto, o mercado brasileiro atingiu R$ 62 bilhões em 2015, o sétimo maior mercado mundial. Mesmo com perspectivas negativas para a economia brasileira, as principais consultorias internacionais ainda estimam crescimento de 7,9% a.a. entre 2015 e 2020 para o segmento de varejo (dados da INTERFARMA). 

A Lei dos Genéricos, de 10 de fevereiro de 1999, representou possivelmente a mudança mais significativa nos rumos da indústria farmacêutica brasileira. O crescimento da produção de medicamentos genéricos a partir dela criou uma oportunidade para as empresas de capital nacional que nenhuma das medidas protecionistas dos anos 80 chegou perto de proporcionar. 

Além de incorporar competências de desenvolvimento farmacotécnico e de formulação, o ciclo dos genéricos foi importante para a formação de empresas nacionais capitalizadas e com musculatura financeira. Essas empresas, que desde os anos 60, oscilavam entre 15 a 20% de participação do mercado brasileiro de medicamentos, conquistaram, assim, mais da metade do mercado, em grande medida devido à produção de genéricos. Entre 2004 e 2014, a participação das empresas nacionais no mercado saltou de 33% para mais de 55% no varejo farmacêutico.  

Principalmente entre as grandes empresas farmacêuticas nacionais, a criação de capacidades para produção de medicamentos genéricos, especificamente em formulação galênica, significou ampliação dos investimentos em recursos humanos e na modernização e ampliação das suas plantas, assim como consolidação das capacidades internas de produção.

 

Perspectivas de ampliação da capacidade inovativa da indústria nacional 

Esse novo patamar de infraestrutura fabril, de recursos financeiros e de competências produtivas e inovativas qualificou a indústria a iniciar um ciclo de exploração de oportunidades em inovação incremental, com base no entendimento de que a competitividade no longo prazo necessita de estratégias mais arrojadas de diferenciação. 

De acordo com dados da Pesquisa de Inovação (Pintec) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os investimentos em atividades internas de P&D nas empresas do setor farmacêutico descolaram-se do restante da indústria de transformação, passando de 0,7% da receita líquida de vendas em 2005 para 2,2% em 2014, enquanto para a média da indústria o indicador manteve-se abaixo de 0,7% no período (IBGE, 2016). Saiba mais sobre as etapas do processo de P&D no setor

Esse movimento tem sido analisado e incentivado pelo BNDES, com base no entendimento de que a inovação e a diferenciação de produtos são fundamentais para a melhoria do posicionamento competitivo da indústria farmacêutica brasileira no cenário mundial. Entre as possibilidades estratégicas identificadas pelo BNDES, estão: o desenvolvimento interno de inovações incrementais, a busca por complementação de competências para inovação radical no exterior, a produção de princípios ativos específicos e de maior valor agregado e o aproveitamento das oportunidades geradas pela abundante biodiversidade brasileira.

A biotecnologia, em especial, emergiu como uma nova trajetória tecnológica na qual parecia haver um gap menor entre as novas entrantes e as grandes firmas do mercado mundial. Assim, essa oportunidade de inserção foi abraçada pelo setor produtivo e fomentada pelo Estado. Para o futuro, espera-se que o amadurecimento da estratégia de inovação das empresas e a internalização da biotecnologia resultem em uma indústria local crescentemente inovadora e competitiva, em produtos tanto sintéticos quanto biológicos.

O conteúdo deste texto foi extraído e adaptado da publicação Competências para inovar na indústria farmacêutica brasileira, publicada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), e do artigo Indústria Farmacêutica, de autoria de Carla Reis, Vitor Pimentel, João Paulo Pieroni e Thiago Mitidieri, publicado em Panoramas Setoriais 2030: Desafios e oportunidades para o Brasil.

 

Fonte: BNDES

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