Atender às necessidades essenciais de pessoas negligenciadas pela revolução mundial de saúde será o foco de uma importante conferência médica que será realizada nos dias 13 e 14 de dezembro, em Nova York, pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), pela Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) e pelo Programa de Saúde global da Faculdade de Medicina Mount Sinai. O simpósio, denominado Vidas em jogo: disponibilizando inovações médicas para pacientes e populações negligenciados, reunirá alguns dos especialistas mais renomados no campo da saúde global, como o coordenador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), Carlos Morel. O evento poderá ser acompanhado pelo site de MSF.
O objetivo da conferência será analisar os progressos e falhas de uma década de iniciativas internacionais que visaram atender às necessidades urgentes de saúde das populações mais pobres do mundo. Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, discursará na abertura do simpósio, no Hospital Mount Sinai, na cidade de Nova York. “Embora tenha havido grandes avanços no combate às crises médicas mundiais, como a Aids, a malária e a desnutrição, houve também uma surpreendente carência em termos de inovação na luta contra doenças como a tuberculose resistente a medicamentos, a doença de Chagas e outras doenças negligenciadas que afetam tremendamente muitas pessoas “, disse Unni Karunakara, presidente internacional de MSF. “A revolução na saúde global ainda precisa atingir uma ampla camada da humanidade: aqueles que continuam sofrendo em silêncio com doenças mortais, porém tratáveis”.
Carolina Batista diretora médica de MSF Brasil, lembra que para doença de Chagas, por exemplo, existem apenas dois medicamentos. “Ambos foram desenvolvidos há mais de 40 anos. E só agora foi lançada a versão pediátrica. Até então, tínhamos que quebrar o comprimido em partes muito pequenas para dar às crianças”, diz. “É bom frisar, no entanto, que apesar disso, MSF sempre manteve seu compromisso em promover acesso ao tratamento dessas pessoas. Não dá para cruzar os braços e esperar o medicamento ideal”.
Dez anos atrás, pesquisadores mostraram que, entre 1975 e 1999, foram desenvolvidos apenas 1,1% de novos fármacos e medicamentos voltados para doenças tropicais negligenciadas e tuberculose, apesar de essas doenças responderem por 12% do total global de doenças. Na época, estabeleceram-se várias novas colaborações internacionais, muitas vezes entre parceiros públicos e privados, a fim de preencher essa lacuna. Fazendo um balanço dessas iniciativas, MSF e DNDi compartilharão agora os resultados de uma nova análise de todos os novos medicamentos e vacinas aprovados para as doenças negligenciadas de 2000 a 2011, bem como uma análise de potenciais novos tratamentos atualmente em desenvolvimento. “Para melhorar a vida dos pacientes mais pobres e negligenciados e ter um impacto genuíno na saúde pública, não devemos deter nossos esforços nos primeiros sucessos conquistados ao longo dos últimos dez anos”, disse Bernard Pecoul, diretor executivo da DNDi. “Ainda existe um desequilíbrio fatal entre pesquisa e desenvolvimento de medicamentos e as necessidades globais de saúde. Precisamos de uma forma sustentável de responder a esse desequilíbrio”.
A conferência reunirá uma ampla gama de pesquisadores, médicos, especialistas em saúde global, formuladores de políticas, especialistas em biotecnologia e farmácia, doadores, ativistas, defensores de pacientes, jornalistas e editores da área biomédica, bem como representantes de países endêmicos (como Brasil, Índia, Nigéria, África do Sul, Uzbequistão e Venezuela), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Banco Mundial. Mesas redondas com discussões de alto nível focarão em questões como “O progresso e as deficiências da década passada para P&D para pacientes negligenciados”, “Novas ferramentas e o panorama de P&D”, “Definindo prioridades para a saúde global para garantir inovação e acesso”, e “Mecanismos para facilitar o financiamento e a coordenação”.
“Preencher a inadmissível lacuna na saúde global requer colaboração em todos os níveis”, disse Philip Landrigan, reitor de Saúde Global da Faculdade de Medicina Mount Sinai. “Estamos honrados por ter a oportunidade de reunir os principais líderes e atores da saúde pública mundial na Mount Sinai para refletir sobre o trabalho da última década e agrupar todas as lições aprendidas para efetivamente traçar nossos passos futuros para enfrentar os desafios atuais de saúde”. Dado o aumento da tuberculose resistente a medicamentos, da doença de Chagas, e de infecções que podem ser prevenidas com vacinas, as sessões técnicas sobre cada tema se concentrarão em como acelerar o desenvolvimento e a utilização de novas ferramentas para o controle dessas doenças mortais negligenciadas.
Médicos Sem Fronteiras/Médecins Sans Frontières (MSF)
MSF é uma organização médico-humanitária internacional independente que proporciona ajuda às pessoas afetadas por conflitos armados, epidemias, desnutrição, catástrofes naturais e exclusão dos cuidados de saúde em mais de 65 países. Todos os dias, mais de 33 mil pessoas de diversas nacionalidades oferecem assistência aos que mais precisam de ajuda ao redor do mundo. São médicos, enfermeiros, especialistas em logística, administradores, epidemiologistas, técnicos de laboratório, profissionais de saúde mental, e muitos outros, que trabalham juntos, em concordância com os princípios de MSF para ações humanitárias e ética médica. Médicos Sem Fronteiras recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1999.
DNDi
A iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) é uma organização de pesquisa e desenvolvimento sem fins lucrativos que trabalha com a finalidade de oferecer novos tratamentos para doenças negligenciadas, em particular, para a doença do sono (tripanossomíase humana africana), doença de Chagas, leishmaniose, infecções por helmintos específicos (filariais), malária e HIV pediátrico. Desde a sua criação em 2003, a DNDi disponibilizou seis tratamentos: dois antimaláricos de dose fixa (ASAQ e ASMQ), a terapia combinada de nifurtimox e eflornitina (NECT) para a fase avançada da doença do sono, a terapia combinada à base de estibogluconato de sódio e paromomicina (SSG & PM) para a leishmaniose visceral na África, um conjunto de terapias de combinação para a leishmaniose visceral na Ásia e uma dosagem pediátrica do benznidazol para a doença de Chagas. A DNDi tem ajudado a estabelecer três plataformas de pesquisa clínica: a Plataforma para a Leishmaniose na África Oriental (LEAP), no Quênia, na Etiópia, no Sudão e em Uganda; a Plataforma HAT na África, para a doença do sono, e a Plataforma de Pesquisa Clínica em Chagas, na América Latina.
Programa de Saúde Global da Faculdade de Medicina Mount Sinai
O Programa de Saúde Global da Mount Sinai é um novo programa institucional interdisciplinar da Faculdade de Medicina Mount Sinai. O programa trabalha para melhorar a saúde das pessoas em todo o mundo por meio da construção de parcerias globais voltadas para pesquisa, educação e cuidado com pacientes. Para isso, foi criado um fórum para promover a colaboração entre os alunos da faculdade, médicos, cientistas e estagiários interessados e envolvidos com a saúde global.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias | Publicado em 11/12/2012.