A página dedicada às Pioneiras da Ciência no Brasil já está disponível no site do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Entre as informações, estão a redação completa do livro dedicado às 19 pesquisadoras que contribuíram de forma significativa para a evolução da ciência no Brasil e os históricos sintetizados de cada uma delas. O lançamento foi realizado nesta quinta-feira (7) e integra a semana dedicada às comemorações do Dia das Mulheres.
“É uma satisfação homenagear estas grandes mulheres, representativas na ciência brasileira. A partir desta iniciativa, queremos aprofundar as ações com a secretaria destinada a todas as mulheres do país”, ponderou o diretor de Engenharias, Ciências Exatas, Humanas e Sociais do CNPq, Guilherme Sales Melo.
As publicações foram idealizadas pelas historiadoras Hildete Pereira de Melo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Ligia M. C. S. Rodrigues, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Para a inclusão das pesquisadoras mencionadas foi utilizado como critério uma série de avaliações, como o auxílio da pesquisadora na difusão da ciência no país, sua representatividade na área de atuação, destaque efetivo durante período de execução dos trabalhos e ter concluído uma pós-graduação na área dos saberes da ciência até a década de 40.
O chefe do Serviço de Documentação e Acervo do Centro de Memória do CNPq, Roberto Muniz, informou que em breve será possível incluir outras mulheres na página, já que recentemente foi iniciado um levantamento no arquivo histórico do CNPq, que estará disponível para a sociedade. Segundo Roberto, através do levantamento, já é possível constatar que 259 pesquisadoras foram apoiadas pelo CNPq, entre as décadas de 50 e 60.
“Esta instituição é importante no contexto histórico da ciência brasileira, afinal, representou uma mudança de paradigma da visão do estado com o tema na época e a sua construção consolidou este processo”.
A coordenadora geral do Programa de Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do CNPq, Ângela Cunico, foi a responsável pela condução do evento e apresentou a página dedicada às pioneiras, informando sobre a decisão de incluir o livro completo na página.
Apresentação – Hildete Pereira de Melo apresentou durante o evento, algumas das histórias detalhadas pela pesquisa histórica. Ao citar Maria Jose Matilde Durocher, obstetra da família real na época do império, lembrou sobre as limitações impostas às mulheres desde o período colonial. “Na primeira metade do século 19, mulher não podia frequentar faculdade de medicina, mas sua competência já era extremamente reconhecida”.
Outra mencionada, Sonja Ashauer é um sinônimo de perseverança e coragem para a historiadora. “Ela atravessou o Atlântico na época da 2° guerra mundial para cursar física em Cambridge. Defendeu sua tese durante o mês de fevereiro de 1948”, informou. “Ela viveu no período em que o ensino superior ainda estava começando no país e teve a coragem de ir para a Europa estudar o tema pelo qual era apaixonada”.
Segundo Hildete, muitas dessas mulheres relacionadas ajudaram a construir o CNPq, o CBPF e outros institutos de pesquisa que integram o sistema brasileiro hoje. “A ciência é um espaço de poder importantíssimo. Agora, sempre que são citadas personalidades do meio, ninguém cita uma mulher que tenha contribuído significativamente. Até parece que a evolução da ciência se deu através de uma separação de gêneros”, criticou.
Ela recordou que Marta Vannucci, por exemplo, deu início aos projetos de pesquisa do país na Antártica. Segundo Hildete, foi ela a responsável pela negociação que ratificou a aquisição do primeiro navio oceanográfico brasileiro. “A ciência no Brasil é muito nova. As faculdades começaram tarde. A elite sempre foi muito irresponsável com a educação. Porém, temos representatividade na ciência”, ressaltou a historiadora, ao lembrar que nem todas as áreas possuem mulheres relacionadas. “Na engenharia ainda não temos alguém que se encaixe neste perfil”.
Em seguida, mencionou a participação decisiva de Johanna Döbereiner na evolução da cultura agrônoma no Centro-Oeste do país. “Seu trabalho ajudou na evolução do processo de cultivo de soja. Sem ela não haveria plantio de soja e algodão no Cerrado”, ressaltou Hildete. “Ela é uma das estrelas deste plantel, mas se perguntarem para qualquer agrônomo quem foi e o que fez Döbereiner, nenhum saberá responder”, acredita.
Hildete finalizou dizendo que, normalmente, por questões culturais, o perfil das mulheres admiradas no Brasil é de dona de casa, pelo fato de colaborar ativamente na organização da casa e por proporcionar harmonia às famílias, mas que é necessário resgatar as personalidades femininas para equiparar a importância com o homem e demonstrar exemplos às futuras gerações. “Para se criar igualdade é necessário identificar mulheres representativas, afinal, elas podem servir de espelho e ser referência para as meninas mais novas”.
Assessoria de Comunicação Social do CNPq
Fonte: CNPq