Alexandre Padilha, Ministro da Saúde: biotecnológicos são a nova fronteira dos medicamentos e tratamentos mais modernos
Junto à abertura da economia na década de 90 vieram oportunidades para o setor industrial brasileiro. Os segmentos farmacêutico e de equipamentos médicos, por exemplo, não souberam aproveitar a brecha em favor do desenvolvimento. E, agora, colhem os frutos da falta de visão com a ausência de cultura de inovação e de Pesquisa & Desenvolvimento. É o que conta o superintendente corporativo do Hospital Sírio-Libanês, Gonzalo Vecina Neto.
“Poucos ministros encararam a saúde como provedor de valor e de geração de empregos. O Temporão (José Gomes Temporão, ministro da Saúde de 2007 a 2010) foi o que mais priorizou a indústria, e o Padilha tem continuado, mas isso é muito recente”, disse o executivo durante debate sobre modelos de desenvolvimento para a área da Saúde, promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares (Abimed), na Feira Hospitalar.
Diante da estabilidade econômica conquistada pelo País nos últimos anos, do aumento nas taxas de emprego, dos juros controlados e envelhecimento da população, outro momento decisivo escancara suas oportunidades, e a biotecnologia está entre elas.
Atualmente, os produtos biotecnológicos consomem 35% do orçamento do Ministério da Saúde para a compra de medicamentos, entretanto, representam apenas 5% do uso. “Os medicamentos biotecnológicos são a nova fronteira dos medicamentos e tratamentos mais modernos, tanto na parte de prevenção, com vacinas, quanto em tratamentos de cânceres e doenças crônicas. Eles são um desafio para o Brasil em termos tecnológicos, de inovação, pesquisa e abrangência”, enfatiza o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
A criação das duas “superfarmacêuticas” nacionais (BioNovis: Aché, EMS, Hypermarcas e União Química; e Superlaboratório: Eurofarma, Cristália, Biolab e Libbs) contempla as ações do governo em apoiar o desenvolvimento do complexo industrial da saúde por meio do programa Profarma, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES). O banco disponibilizará R$ 5 bilhões até 2016 para financiar projetos de inovação e expansão das farmacêuticas instaladas no País.
“Queremos trazer também parceiros internacionais para produzirem aqui”, afirma Padilha. De acordo com o ministro, a Fiocruz será o terceiro elo no desenvolvimento da biotecnologia no Brasil, por meio da produção de insulinas. Para Vecina, o estímulo da produção nacional está diretamente relacionada ao acesso à assistência médica e geração de emprego, “aspecto vital para a sociedade”.
“Os genéricos são um bom exemplo de políticas que deram certo. Hoje está entre as dez maiores indústrias na área de medicamentos, e representam 60% do mercado brasileiro”, diz o superintendente do Sírio-Libanês.
Equipamentos
Não apenas as farmacêuticas, mas as empresas de equipamentos e insumos hospitalares também se preparam para a inovação nacional. Philips, Siemens, Toshiba e GE Healthcare, por exemplo, investem em suas fábricas para a produção local de aparelhos de imagens. No entanto, grande parte dos produtos ainda é montado no País, mas não fabricado.
“Uma das áreas mais atrasadas na assistência à saúde refere-se ao tratamento do câncer com radioterapia. Temos máquinas antigas que utilizam cobalto-60. Temos que substituí-las por aceleradores lineares”, ressalta Vecina.
Com investimentos de R$ 500 milhões, o governo promete instalar 80 novos centros de radioterapia, com aceleradores lineares, no Norte, Nordeste e interior do Centro-Oeste, Sul e Sudeste, até 2014. “A única forma de fazer isso é atrair, com o poder de compra do ministério da Saúde, a indústria de equipamentos lineares para o Brasil”, diz Padilha.
A concessão de margem de preferência para a compra de produtos nacionais, em que o governo pode colocar até 35% a mais no preço, é uma das estratégias da presidente Dilma Roussef no fomento da produção local. Segundo o ministro, outra estratégia fica a cargo das parcerias público privadas (PPPs).
De acordo com o ministro, a regulamentação da margem de preferência para equipamentos deve ser concluída no segundo semestre deste ano.
O estreitamento da relação da indústria com as universidades é outro movimento que contribui para que o Brasil não perca a “locomotiva” mais uma vez. “As universidades precisam escapar da burocracia”, alerta Vecina, que defende a radicalização da democracia como único instrumento capaz de derrotar os entraves que impedem o Brasil de tornar-se referência em inovação e Pesquisa & Desenvolvimento.
Fonte: Saúde Business Web
(04/07/12)