A inovação farmacêutica como estratégia da política de desenvolvimento industrial do País foi tema da abertura do 8º Encontro Nacional de Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed), que aconteceu nesta segunda-feira (08/09), em São Paulo. A sessão de abertura do evento contou com a participação de Julio Ramundo, diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele falou sobre o papel do banco no desenvolvimento tecnológico do Brasil e reafirmou a importância de uma agenda política que tenha a área de saúde como prioridade.

De acordo com Ramundo, a escolha do Brasil pela universalização dos serviços de saúde coloca o País em outro patamar no que diz respeito à qualidade dos serviços de saúde para a população e, por isso, o modelo de desenvolvimento industrial deve acompanhar essa estratégia. “É inexorável que a saúde faça parte da agenda e seja um tema central na agenda de desenvolvimento do País”, disse.

 

Para o diretor, a inovação no Complexo Industrial da Saúde (CIS) precisa ter um posicionamento estratégico na política de desenvolvimento econômico em razão das aspirações do País já que a transição epidemiológica, com o aumento das doenças degenerativas e o envelhecimento da população, deve aumentar o gasto em saúde, que hoje é de 9% do Produto Interno Brasileiro (PIB). “O BNDES e o Governo consideram que a inovação na área de saúde terá um papel central na agenda de desenvolvimento nos próximos anos no Brasil”, ressaltou.

Segundo Ramundo, o aumento dos gastos em saúde evidencia a necessidade de ampliação da cadeia produtiva farmacêutica do País para atender a demanda interna por produtos de alto conteúdo tecnológico como os biológicos. Para isso, ele destaca que o banco e o governo tem promovido uma agenda forte de financiamentos à indústria de saúde em prol da construção de uma indústria de biotecnologia no País. “Existe hoje na indústria da saúde uma articulação de governo bastante particular, onde a política de compras públicas tem uma importância muito grande como fator indutor de desenvolvimento de inovações e tecnologia”, destacou.

 

Pesquisa pré-clínica

A respeito das ações do Governo para apoiar a ampliação da pesquisa pré-clínica no País, que hoje é um dos principais gargalos da inovação farmacêutica, Luiz Henrique Canto, coordenador geral de Biotecnologia e Saúde do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), destacou a priorização da inovação em fármacos e medicamentos para o ministério e falou das ações que estão sendo conduzidas para apoiar a inovação no setor. Sobre as parcerias para o desenvolvimento tecnológico, Canto falou das ações realizadas com o Ministério da Saúde que englobam desde a rede de ensaios pré-clínicos até a pesquisa clínica.

Segundo ele, a pesquisa pré-clínica no País deve ser alavancada com a Rede Nacional de Métodos Alternativos, que já registra bons avanços quanto à incorporação de alternativas ao modelo animal. A iniciativa pretende avançar na validação de novos ensaios para as etapas iniciais de desenvolvimento de novos compostos na indústria farmacêutica, de agrotóxicos e de cosméticos, higiene e perfumaria. “O Ministério tem feito um grande esforço para a indução da inovação nessa área. Entendemos que a iniciativa pode acelerar o desenvolvimento de novos produtos e, principalmente, reduzir os custos de desenvolvimento por meio de ensaios em sílico e in vitro. Por isso, estamos trabalhando com a Anvisa para a aceitação desses métodos validados e isso já está avançando rapidamente”, contou.

 

Recursos humanos

Os programas para a formação de recursos humanos em P&D na área farmacêutica foram lembrados pelo presidente da Capes, Jorge Guimarães. Ele destacou o trabalho da instituição na aproximação dos pesquisadores e a indústria. “Praticamente todos os nossos editais estimulam a interação do setor acadêmico com o setor industrial, apesar de a entidade não fomentar diretamente a inovação industrial”, explicou.

O presidente ainda falou sobre o papel do programa Ciência Sem Fronteiras na capacitação dos profissionais destinados ao setor. Guimarães contou que o programa tem focado, especialmente, na área de biotecnologia para a produção de medicamentos e agricultura. A previsão da instituição é que até o final do ano o número de bolsistas enviados ao exterior chegue a 100 mil, com a maioria em atuação nas áreas biológicas, médica, de engenharia e biotecnologia. “As grandes empresas da área farmacêutica internacional perceberam a importância desses profissionais e oferecem muitas oportunidades de estágio durante as férias, não apenas na área farmacêutica, mas em todas as áreas que envolvem tecnologia”, completou.

 

Diálogo

Em complemento, Dante Alario, presidente do Conselho Deliberativo do IPD-Farma e da Biolab, ressaltou a importância do ENIFarMed para os avanços do setor. Para ele, o Encontro tem como diferencial a capacidade de reunir academia, indústria e órgãos do governo, desde entidades que financiam o setor até instituições de pesquisa e regulatórias. “Todos que necessitariam de alguma forma participar do processo estão presentes aqui”, afirmou.

(Fonte: Jessica Gama para Notícias Protec – 11/09/2014)

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