Recursos devem chegar a R$ 516 bilhões até 2026; confira os projetos de associados da ABIFINA aprovados nesse cenário.
Desde o seu lançamento pelo Governo Federal, em janeiro de 2024, a Nova Indústria Brasil (NIB) está movimentando os investimentos no setor industrial brasileiro, especialmente nos segmentos de química fina, biotecnologia e suas especialidades. Com taxas de juros atrativas e recordes nos valores disponíveis para financiamento, de R$ 516 bilhões até 2026, e a participação de diversos bancos e instituições públicas de fomento, vários projetos estão saindo do papel.
Nesse contexto, a FACTO apresenta o panorama dos investimentos públicos e privados, bem como as principais iniciativas de associados da ABIFINA, que fazem parte dos debates sobre as ações necessárias ao desenvolvimento do setor produtivo brasileiro no âmbito da política industrial.

“Esse é um momento de convergência na discussão sobre a temática da saúde. Com a inclusão de uma missão específica na NIB, trazemos ao debate temas como a produção de insumos farmacêuticos ativos (IFAs) e como o Governo está se organizando para atender às demandas do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS)”, resumiu o presidente do Conselho Administrativo da ABIFINA, Odilon Costa, durante o evento que marcou os 39 anos da associação, realizado em junho (confira a cobertura completa nesta edição da FACTO).
Novos parceiros e mais apoio
Antes de abordar os projetos das empresas, é preciso entender melhor a dimensão dos investimentos envolvidos no Plano Mais Produção, que concentra as ações de financiamento da NIB. Originalmente, a nova política industrial previa cerca de R$ 300 bilhões para apoiar projetos de neoindustrialização até 2026, divididos em seis missões (uma delas para a saúde), por meio do BNDES, Finep e Embrapii – o que já seria expressivo.
Após o aumento do orçamento de crédito da Finep no segundo semestre do ano passado, outros bancos entraram no Plano, como a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste e o Banco da Amazônia. Com isso, o volume de recursos para financiamento saltou para R$ 516 bilhões até 2026. Principal agente financeiro do Plano Mais Produção, só o BNDES terá R$ 300 bilhões no período, para operações nos eixos de inovação, digitalização, exportação, verde e produtividade.
Os montantes são recordes para diversos setores e finalidades. No apoio à inovação, por exemplo, o BNDES aprovou, entre janeiro de 2023 e junho de 2025, financiamentos de R$ 21,9 bilhões, o que supera a soma dos oito anos anteriores. O setor de saúde também teve recorde nos desembolsos do BNDES: foram R$ 4,8 bilhões aprovados em 2024, o maior valor da série histórica do Banco iniciada em 1995. Desde o início de 2023, os novos financiamentos nesse segmento chegaram a R$ 6,9 bilhões, com destaque para projetos de inovação em fármacos.
“Esse apoio visa ao desenvolvimento de mais de 590 medicamentos e vacinas”, revelou a chefe do Departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do BNDES, Carla Reis, referindo-se às ações de crédito do Banco para a indústria nacional de saúde em 2024, durante palestra no evento dos 39 anos da ABIFINA.

“Tivemos uma evolução importante no ecossistema brasileiro nos últimos 20 anos e temos muito potencial para ocupar espaços no cenário mundial”, concluiu a representante do Banco.
Mais inovação
Para superar os desafios do contexto econômico e geopolítico atual, e aproveitar as oportunidades que estão surgindo, a Finep investiu, no CEIS, entre o início de 2023 e o primeiro trimestre de 2025, cerca de R$ 5,7 bilhões. Como operadora do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), via oferta de crédito (recursos reembolsáveis) e subvenções econômicas (recursos não reembolsáveis), a Financiadora já realizou investimentos de R$ 30 bilhões nas seis missões da NIB, incluindo 1.325 projetos no âmbito do Programa Mais Inovação (que está relacionado ao Plano Mais Produção), muitos deles envolvendo micro e pequenas empresas.
Entre as prioridades nas ações da instituição, encontram-se temáticas como vacinas, biofármacos, tecnologias envolvendo RNA mensageiro, desenvolvimento de IFAs, abordagem de doenças negligenciadas e uso de inteligência artificial na saúde.

“O foco da Finep é o impulsionamento da inovação a partir do apoio a projetos com inovação disruptiva e inovações incrementais e de processos, buscando o desenvolvimento sustentável e autônomo. Nesse contexto, tem se buscado apoiar projetos estratégicos, ao mesmo tempo em que se pretende superar assimetrias regionais”, destacou a chefe do escritório da Finep em Brasília e assessora da presidência para o CEIS, Julieta Palmeira.
Projetos de alto impacto
A Embrapii, por sua vez, já investiu R$ 520 milhões em mais de 180 projetos nas missões da NIB destinadas ao fortalecimento da cadeia agroindustrial e do CEIS. O investimento total nas seis missões da política chega a R$ 2,2 bilhões desde 2023, com a perspectiva de alcançar R$ 4,6 bilhões aplicados em 2 mil projetos até o fim do próximo ano.
As ações prioritárias para a Embrapii, demandadas pelas empresas da área da saúde, envolvem temáticas como a produção nacional de IFAs, o desenvolvimento de fármacos a partir da biodiversidade brasileira e a criação de terapias avançadas para o tratamento de câncer, doenças autoimunes e negligenciadas, entre outras.
E não para por aí. Nos próximos meses, a empresa credenciará um novo Centro de Competência para atuar com tecnologias de RNA mensageiro. A chamada para esse credenciamento prevê investimentos de R$ 60 milhões da Embrapii, além de captações com empresas associadas e outros parceiros.
A empresa também lançou chamada para credenciar até seis novas Unidades Embrapii com atuação em saúde. Dessa forma, será ampliada a rede que conta atualmente com 91 unidades e mais de 17 mil pesquisadores e colaboradores em todo o Brasil, contemplando as seis missões da NIB.
Outra iniciativa importante da instituição são os Projetos de Alto Impacto em Saúde, que têm o objetivo de incentivar empresas e Unidades Embrapii a investir em propostas mais complexas e que atendam a demandas prioritárias do SUS. A previsão é destinar até R$ 60 milhões para os projetos selecionados.

“Com essas iniciativas, a Embrapii reforça ainda mais a sua atuação no fomento à inovação nas empresas brasileiras, com especial alinhamento à política industrial e às prioridades do País no desenvolvimento de tecnologias para o setor de saúde”, frisou o diretor de Inovação e Relações Institucionais da Embrapii, Igor Nazareth.
R$ 23 bilhões para a saúde
Somando todos os parceiros envolvidos, os investimentos já aprovados da NIB para a indústria brasileira de saúde chegam a R$ 23,3 bilhões em 2.737 projetos no âmbito do Plano Mais Produção, de acordo com dados de julho deste ano, disponibilizados em painel do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). No total das seis missões, os R$ 516 bilhões em recursos vão abranger mais de 258 mil projetos nos mais diversos segmentos industriais.

“No âmbito da missão 2 (saúde) da NIB, a gama de instrumentos de apoio à indústria já lançados é bastante relevante”, comentou o secretário adjunto de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do MDIC, Luís Felipe Giesteira, ressaltando que o Ministério também atua em outras frentes para incentivar o setor produtivo nacional, como as margens de preferência para medicamentos, IFAs e equipamentos médicos, além da regulação do mercado de medicamentos.
Em complemento aos recursos públicos, os investimentos privados também estão em alta para buscar os objetivos definidos pela NIB. Somente na missão relacionada ao setor de saúde, o Governo Federal previa, em fevereiro deste ano, cerca de R$ 39,5 bilhões em recursos privados no balanço de um ano da política industrial.
Prioridades e objetivos
Tais recursos serão destinados às cadeias produtivas consideradas prioritárias no âmbito da NIB a partir da Matriz de Desafios Produtivos e Tecnológicos do SUS, elaborada pelo Ministério da Saúde e que inclui tópicos como: medicamentos e princípios ativos biológicos; vacinas, hemoderivados e terapias avançadas; e dispositivos médicos. Para os próximos meses, uma das prioridades da NIB será concluir os Planos de Ação das cadeias prioritárias.
Na missão voltada ao fortalecimento da indústria nacional de saúde e à redução da dependência externa no setor, para diminuição das vulnerabilidades do SUS e ampliação do acesso da população brasileira à saúde, o objetivo da política industrial é produzir no País, até 2026, 50% das necessidades nacionais em medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos, materiais e outros insumos e tecnologias em saúde. Ainda de acordo com as metas da NIB, esse percentual deve chegar a 70% até 2033.
O Governo Federal também está impulsionando o Programa de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) e o Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL), com foco no fortalecimento do CEIS. Atualmente, as PDPs em curso envolvem 64 projetos, 14 instituições e R$ 29,4 bilhões em valor total de aquisição.
Em maio deste ano, o Ministério da Saúde aprovou mais sete projetos de PDPs, que vão movimentar cerca de R$ 2 bilhões por ano com a produção local de medicamentos, e 22 projetos do PDIL, envolvendo investimentos de R$ 378 milhões para o desenvolvimento de produtos inovadores nas áreas de saúde digital, vacinas, equipamentos médicos e testes diagnósticos.

“Precisamos deter competências produtivas e tecnológicas para fazer frente às crises de abastecimento e sanitárias, especialmente num mundo mais complexo como o que vivemos hoje. A covid mostrou isso e todos os países estão tentando fazer políticas para conseguir sua maior autonomia tecnológica”, afirmou a secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, do Ministério da Saúde, Fernanda De Negri, durante palestra no evento dos 39 anos da ABIFINA.
Projetos dos associados
Os reflexos das ações de fomento realizadas no âmbito da NIB, com destaque para os mecanismos de financiamento, podem ser observados nos novos projetos dos associados da ABIFINA.
EMS
A EMS, por exemplo, registrou avanços significativos no campo da pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) com os novos recursos. Considerando as iniciativas já aprovadas ou em fase avançada de negociação, a empresa totalizou cerca de R$ 1,3 bilhão em recursos captados por meio da NIB, viabilizando a contratação de mais de 350 colaboradores e reforçando sua atuação no setor de saúde, de acordo com a diretora de Relações Institucionais da empresa, Juliana Megid.
Em 2024, a EMS recebeu a aprovação de R$ 900 milhões em duas operações junto ao BNDES e à Finep, por meio do Programa Mais Inovação. Os recursos vão permitir o desenvolvimento de 54 medicamentos em diversas classes terapêuticas, como oncológicos, antidiabéticos, analgésicos, anti-hipertensivos e oftálmicos, além de viabilizar a contratação de serviços especializados de Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) e universidades brasileiras, fortalecendo todo o sistema nacional de inovação.
Já em 2025, a empresa protocolou duas solicitações de apoio financeiro ao BNDES e à Finep. A primeira, submetida ao Programa Mais Inovação do Banco, prevê a expansão do centro de PD&I da EMS – um dos maiores da América Latina. A expectativa é duplicar a capacidade produtiva da unidade. A segunda iniciativa, apresentada no âmbito da ação conjunta BNDES-Finep, contempla a ampliação do centro de PD&I da RBBL, um dos braços mais inovadores do grupo. Juntas, as ações somam um investimento direto de R$ 340 milhões até o ano que vem.
Além disso, a EMS possui duas operações aprovadas no formato de subvenção econômica pela Finep. Esse modelo de apoio financeiro é fundamental para fomentar iniciativas de inovação incremental ou disruptiva, especialmente aquelas com alto risco tecnológico. A primeira subvenção envolve o tratamento de pacientes com esquizofrenia, em parceria com ICTs. A segunda propõe a construção de uma plataforma para o desenvolvimento de peptídeos sintéticos miméticos de anticorpos, com alto grau de inovação e potencial para reduzir significativamente os custos de produtos biológicos. As duas iniciativas representam um investimento total de R$ 50 milhões.
Eurofarma
Por sua vez, a Eurofarma obteve, em 2024, a aprovação de um financiamento de R$ 500 milhões do BNDES, por meio do Programa Mais Inovação. O aporte já está sendo utilizado para o desenvolvimento de cerca de 200 projetos de pesquisa no Eurolab, maior centro de pesquisa farmacêutica da América Latina, localizado no complexo da empresa em Itapevi (SP). Desse total, 60 projetos são exclusivos, com foco em inovações radicais, melhorias incrementais e no desenvolvimento de novos genéricos e biossimilares.
Com esse apoio, a Eurofarma investiu R$ 755 milhões em pesquisa e desenvolvimento em 2024, valor que supera em quase 23% o investimento do ano anterior, segundo o vice-presidente de Inovação da empresa, João Siffert. Com mais de 750 pesquisadores e presença em 24 países, a empresa se destaca em medicamentos para sistema nervoso central, saúde da mulher e antibióticos. Também se prepara para avançar em tratamentos para dor, doenças metabólicas e endócrinas, como diabetes, e saúde cardiovascular.
Blanver
Igualmente em crescimento, a Blanver captou R$ 420 milhões com o BNDES e a Finep, para compor um ciclo de R$ 592 milhões de investimentos ao longo dos próximos quatro anos. O objetivo é ampliar e modernizar seu parque fabril e diversificar seu portfólio de medicamentos, com expansão nos segmentos de oncologia e doenças raras. Dessa forma, a empresa planeja dobrar sua capacidade de produção, passando de 2 para 4 bilhões de unidades por ano, considerando sólidos e líquidos.
Grande parte desses investimentos será realizada em projetos de desenvolvimento e transferência de tecnologia de medicamentos que atendem ao SUS. A Blanver tem uma longa história de parcerias com laboratórios públicos, que resultaram em seis PDPs, mais de R$ 9 bilhões de economia aos cofres públicos e mais de 600 mil pacientes atendidos com seus medicamentos, segundo a própria empresa.
Com o advento da NIB, a Blanver firmou novas parcerias com diversos laboratórios públicos e submeteu 19 pleitos de projetos para novas PDPs. A empresa investe ainda grande parte dos recursos em sua fábrica de IFAs. Para o CEO da empresa, Sergio Frangioni, a política industrial está atenta às necessidades do setor produtivo e impulsionará o fortalecimento da indústria nacional.
Libbs
No caso da Libbs, os recursos obtidos das fontes públicas de financiamento chegam a R$ 562 milhões. O objetivo é impulsionar o desenvolvimento de novos produtos e expandir a capacidade produtiva e tecnológica da empresa, visando ampliar o acesso dos pacientes a tecnologias inovadoras.
Atualmente, a empresa está atuando no desenvolvimento de biomoléculas, escalonamento de bioprocessos e produção de material clínico para estudo por meio de parcerias, entre outras atividades voltadas à inovação. Seja por meio de créditos ou parcerias, as ações em andamento representam passos importantes para o fortalecimento da indústria nacional de química fina. Agora, o momento é de trabalhar pelos resultados esperados.