A biodiversidade é conhecida mundialmente por sua riqueza de fauna e da flora; mas, além disso, há um patrimônio invisível e igualmente valioso: a biodiversidade microbiana. Explorar de forma sustentável esse recurso representa não apenas uma oportunidade científica, mas também uma estratégia para impulsionar a bioeconomia e gerar impacto positivo na saúde animal.
É nesse contexto que atua a Sante Science, startup de biotecnologia fundada no Brasil que vem se consolidando como referência na aplicação de microrganismos para o desenvolvimento de ingredientes naturais com aplicação oncológica veterinária. Esses ingredientes apresentam potencial terapêutico e nutricional, com aplicações promissoras em oncologia veterinária, nutrição funcional e magistral veterinária. Essa abordagem representa uma nova fronteira da bioeconomia: a valorização de microrganismos como ferramenta de acesso à biodiversidade funcional, sem comprometer habitats ou recorrer à bioprospecção predatória.
A Sante Science é uma das poucas empresas latino-americanas a enxergar, nesse universo invisível, uma fonte renovável de inovação para a saúde. Sua inovação é resultado da união entre pesquisa acadêmica robusta, visão empreendedora e compromisso com a sustentabilidade.
Da vivência pessoal à inovação científica
A história da Sante Science começou com a inquietação da Dra. Marcela Rodrigues de Camargo, bióloga e pesquisadora com cerca de 20 anos dedicados ao estudo da imunopatologia tumoral, em instituições de excelência no Brasil e no exterior. Após vivenciar o impacto do câncer em sua própria família, Marcela decidiu transformar conhecimento científico em soluções concretas para melhorar a qualidade de vida de pacientes oncológicos.
Ao lado de Pedro Vannini, administrador e também biólogo, especializado em sustentabilidade e finanças, a Sante Science construiu um modelo de negócio que une ciência de ponta, valorização da sustentabilidade e desenvolvimento de ingredientes funcionais de alto valor agregado. A empresa teve início com apoio de universidades públicas brasileiras e aceleradoras científicas nacionais e internacionais, posicionando-se como uma das promissoras deep techs latino-americanas focadas em saúde animal.
O ingrediente pós-biótico e seu potencial oncológico
A biotecnologia desenvolvida pela Sante Science utiliza um subproduto resultante da produção de cerveja como substrato de uma fermentação por microrganismos. O processo gera um ingrediente pós-biótico rico em proteínas, fibras, antioxidantes e metabólitos bioativos com propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, imunomoduladoras e antitumorais.
No contexto oncológico, esses compostos têm potencial para auxiliar animais em tratamento, contribuindo para a modulação do sistema imunológico, a saúde intestinal, o controle da inflamação e a manutenção do estado nutricional – fatores essenciais para a resposta terapêutica e a qualidade de vida.
Além disso, cada tonelada do subproduto cervejeiro reaproveitado evita a emissão de mais de 500kg de CO2, transformando impacto ambiental em insumo de alto valor para a saúde animal, alinhado aos princípios da economia circular.
O desafio e a oportunidade na oncologia veterinária
O câncer é hoje uma das principais causas de morte entre cães e gatos, especialmente em populações urbanas e longevas. Apesar dos avanços na oncologia veterinária, a maior parte dos protocolos é adaptada da medicina humana e nem sempre oferece resultados satisfatórios ou acessíveis. Isso abre espaço para soluções complementares baseadas em ciência sólida e eficácia – exatamente no que a proposta da Sante Science se insere.
O objetivo não é substituir a medicina tradicional, mas apoiar o organismo do animal durante o tratamento, reduzindo inflamações, protegendo o intestino e melhorando apetite e qualidade de vida.
O setor pet global movimenta cerca de US$ 250 bilhões anuais, e o Brasil representa aproximadamente 5% desse mercado. Dentro desse cenário, cresce a demanda por produtos naturais, funcionais e sustentáveis, reforçando a relevância de iniciativas que unem inovação tecnológica e uso responsável da biodiversidade.
Parcerias estratégicas e reconhecimento
A Sante Science acredita que o avanço da biotecnologia na saúde animal depende de colaboração entre diferentes atores. É nesse sentido que parcerias com empresas de saúde e nutrição animal ganham destaque. Esse tipo de colaboração potencializa o alcance e a relevância do ingrediente no mercado, além de reforçar a importância de alinhar inovação científica aos objetivos estratégicos do setor pet brasileiro.
A startup já iniciou provas de conceito com empresas e conta com o interesse de grandes varejistas do setor. Reconhecida em programas nacionais e internacionais, a Sante Science também já esteve presente em ecossistemas de inovação na Suíça, em Portugal e nos Estados Unidos, ganhando prêmios e participando de eventos importantes. O próximo passo é aumentar a escala de produção, estabelecer mais parcerias estratégicas e explorar novas aplicações dos microrganismos – sempre com o mesmo compromisso: unir ciência, segurança e sustentabilidade.
Uma nova bioeconomia é possível
A trajetória da Sante Science mostra que a biodiversidade – inclusive a microbiana – pode ser um motor de inovação e desenvolvimento produtivo quando explorada com responsabilidade. Ao biotransformar um subproduto em um aliado no cuidado oncológico de pets, a empresa exemplifica como é possível criar soluções que conciliam ciência, sustentabilidade e competitividade de mercado.
Mais do que um ingrediente, o que Marcela e Pedro criaram é um exemplo de como a ciência pode gerar benefícios concretos para a vida dos animais, dos tutores e de toda a cadeia envolvida na saúde animal. A valorização de subprodutos, aliada à fermentação, aponta caminhos para uma biotecnologia regenerativa, capaz de gerar valor sem impacto negativo. Mais do que uma empresa, a Sante representa um movimento: o de empreendedores-cientistas que acreditam na força da colaboração, da ciência aplicada e da inovação com propósito.

