A química fina está vivenciando transformações profundas, exercendo um papel crucial para o desenvolvimento sustentável global, com foco no uso de matérias-primas renováveis. Além disso, a busca pela circularidade está impulsionando a inovação em processos de reciclagem e upcycling para produtos da química fina. Isso inclui o desenvolvimento de novos métodos para a recuperação de materiais valiosos de resíduos e sua reutilização em novas aplicações.
Com a finalidade de garantir processos mais seguros e eficientes, reduzindo a geração de resíduos e promovendo o desenvolvimento de solventes e catalisadores ecologicamente corretos, os princípios de química verde ganharam relevância. Essa abordagem contribui para minimizar o impacto ambiental, aumentar a segurança e assegurar a conformidade com padrões regulatórios. Grandes empresas globais produtoras de produtos da química fina estão investindo em soluções sustentáveis, como intermediários com uma pegada de carbono significativamente menor em comparação à média do mercado global.
No contexto da economia circular, os produtos químicos frequentemente são utilizados em combinações complexas, o que limita a viabilidade de ciclos discretos, restritos a alguns materiais específicos, como vidro, metais e certos plásticos. Além disso, à medida que esses produtos circulam na economia, surgem misturas e contaminações adicionais, tornando a separação praticamente inviável, mesmo quando os materiais são física e quimicamente distinguíveis. Nesses casos, a solução mais eficaz pode ser a quebra dessas substâncias em produtos químicos mais simples, que possam servir como matéria-prima para novos usos.
No campo da saúde, a ascensão da medicina de precisão está impulsionando a demanda por produtos da química fina altamente especializados e personalizados. Algumas empresas já oferecem uma ampla gama de tecnologias e soluções para todas as fases de desenvolvimento de medicamentos, enfrentando desafios complexos, como biodisponibilidade, solubilidade e permeabilidade. Nesse contexto, uma abordagem colaborativa baseada em dados contendo informações físico-químicas, farmacocinéticas, considerações dos pacientes e seleção da forma de dosagem e manufatura será cada vez mais utilizada para determinar a forma ideal de administração de medicamentos.
Outras tecnologias que estão revolucionando o setor de produtos da química fina incluem a nanotecnologia, que permite a criação de novos materiais para aplicações específicas e com propriedades aprimoradas; os produtos químicos de base biológica; e as ferramentas de inteligência artificial, que desempenham um papel crescente na otimização de processos, analisando vastos conjuntos de dados, identificando padrões e sugerindo novas rotas sintéticas para produtos da química fina.
Escalar a produção de novas tecnologias e processos exige investimentos e experiência significativos. Na química fina, especialmente na indústria farmacêutica, a tecnologia de fluxo contínuo e microrreatores oferece uma alternativa atraente aos reatores de batelada. Os processos contínuos apresentam várias vantagens bem estabelecidas e têm o potencial de reduzir custos de produção, aumentar o rendimento
e a consistência do produto, além de fortalecer a robustez do processo. Entretanto, a seleção da tecnologia de reator ideal nessas aplicações não é trivial e requer uma compreensão completa da cinética da reação, dos padrões de fluxo e das fases envolvidas.
As tendências indicam que a química fina tem um impacto direto no perfil do trabalhador necessário para atuar em setores industriais relacionados à fabricação de produtos químicos, farmoquímicos e farmacêuticos. De acordo com as projeções do Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027, tais setores devem empregar cerca de 460 mil trabalhadores em 2027, gerando pelo menos 20 mil novas vagas em comparação a 2024.
O Mapa estima a necessidade de formação de 36,5 mil novos trabalhadores para preencher novas vagas no mercado e substituir trabalhadores que se tornam inativos ou inadequados para as funções. Desse total, 7,7 mil serão destinados à produção de farmoquímicos e farmacêuticos, enquanto 28,8 mil ocuparão postos na produção de químicos.
Além disso, as mudanças do setor exigem um processo de aperfeiçoamento contínuo dos trabalhadores já empregados. As projeções mostram que pelo menos 300 mil trabalhadores desses setores deverão passar por algum tipo de treinamento e desenvolvimento (T&D) entre 2025 e 2027. Isso significa que pelo menos 2/3 dos trabalhadores em setores diretamente impactados pela química fina precisarão se atualizar nos próximos anos.
As transformações da química fina afetam não apenas os trabalhadores diretamente ligados à área, como farmacêuticos e operadores da indústria química, mas também profissionais que atuam em toda a cadeia, como os alimentadores de linha de produção e técnicos de controle da produção (ver quadro abaixo).
Para acompanhar as transformações na área de química fina e garantir o sucesso na adoção de novas tecnologias e tendências, será essencial investir na qualificação de profissionais do setor. Capacitar a força de trabalho para lidar com processos inovadores, como química verde, nanotecnologia, inteligência artificial e tecnologias de fluxo contínuo, será um diferencial estratégico. Essa preparação deve incluir desde a formação técnica até o desenvolvimento de competências relacionadas à sustentabilidade e conformidade regulatória, assegurando que a indústria de química fina esteja pronta para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades desse novo cenário.