A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) ocupa papel central na execução da Nova Indústria Brasil (NIB), sendo responsável por monitorar e avaliar seus resultados em apoio ao ente gestor da política, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). Nesta entrevista, o presidente da ABDI, Ricardo Cappelli, explica de que forma a agência cumprirá essa tarefa e comenta os novos programas para incentivar a produtividade, a sustentabilidade e a inovação em diferentes setores, inclusive no Complexo Econômico-Industrial da Saúde.
Qual é o papel da ABDI na Nova Indústria Brasil (NIB)?
Promover e apresentar dados, caminhos de investimentos e parcerias. Sem dúvida, o objetivo central é promover a execução de políticas de desenvolvimento industrial, de inovação, de transformação digital e de difusão de tecnologias, especialmente as que contribuam para a geração de empregos. Considerando que a Nova Indústria Brasil vai estimular o desenvolvimento do País por meio do apoio à inovação, à tecnologia e à sustentabilidade em áreas estratégicas para investimento, a Agência está de volta com a sua atribuição original. Foram anos sem política industrial no Brasil e agora a temos, o que reforça nosso papel.
A ABDI é parceira do CNDI para monitorar a execução da NIB. Como isso será feito?
Totalmente em sintonia com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o CNDI. Nossa Agência desenvolve atualmente ferramentas que permitirão o acompanhamento dos desembolsos envolvidos na NIB relacionados às iniciativas do BNDES, Finep e Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Vamos chamar de Monitoramento da NIB, que terá uma plataforma online exclusiva para mapear esses dados.
A agência está trabalhando em novos serviços e projetos relacionados à NIB?
Sim, além do apoio ao CNDI e do monitoramento e avaliação da NIB, a ABDI tem diversos projetos alinhados com as missões da Política, como o Agro 4.0 para aumentar a produtividade no campo e a sustentabilidade ambiental na agroindústria; o Saúde 4.0 com testes de tecnologias que promovam a inovação disruptiva na cadeia de saúde; o BIM – Modelagem de Informação da Construção com foco nos gestores públicos, dada a prioridade de sua utilização nas compras públicas; o Recircula Brasil em consonância com a Estratégia Nacional de Economia Circular, com ações para redução de resíduos, reutilização de recursos e reciclagem de materiais e mitigação de impactos ambientais; e por fim, o Complexo Industrial da Defesa, que visa ao fortalecimento dessa cadeia produtiva.
Também estamos no Brasil Mais Produtivo, cujo apoio técnico e operacional são de responsabilidade da Agência. O objetivo é levar a transformação digital às indústrias para aumentar sua competitividade e produtividade. Atuamos também nos Projetos da Plataforma de Disseminação de Boas Práticas e Melhoria Regulatória e de Regionalização do Comércio Eletrônico, contribuindo assim com o ambiente de negócios do País para alcance das metas aspiracionais da NIB.
O senhor mencionou em uma entrevista que a ABDI busca promover o equilíbrio no binômio “risco-recompensa” para incentivar as empresas a investirem mais em inovação. Por favor, detalhe essa ideia.
Para haver desenvolvimento tecnológico e o consequente aumento de produtividade, é preciso que o Estado atue no sentido de assumir parte do risco da pesquisa e do desenvolvimento. Nenhum país líder tecnológico atingiu esse posto sem que o Estado tenha apoiado fortemente a inovação privada. A forma mais contundente de assumir riscos tecnológicos se dá através do uso das encomendas tecnológicas, instrumentos de compra pública na qual o Estado paga para que o privado tente encontrar a solução para um problema social relevante.
Por meio de seu escritório de apoio às encomendas, a ABDI quer destravar o apagão das canetas e permitir que o governo federal e as empresas de economia mista usem suas demandas concretas para “puxar” a inovação privada.
O senhor também diz que é preciso tirar do papel a Lei de Inovação, especialmente no que toca ao governo. Quais recursos da Lei precisam ser usados ou reforçados? Como a ABDI vai ajudar nessa tarefa?
A Lei de Inovação criou diferentes instrumentos de fomento à inovação. Entre os menos utilizados, porém mais robustos, encontram-se as compras públicas de inovação. Esse instrumento usa o poder de compra do Estado para puxar a inovação privada e resolver desafios sociais nas áreas de saúde, educação, mobilidade etc. Acontece que existe muito receio em comprar inovação e assumir riscos. Por isso, a ABDI criou a plataforma Inova CPIN, que busca estabelecer uma comunidade de prática na área, bem como disponibilizar templates, minutas, orientações gerais e assessoria específica para os órgãos públicos que querem comprar inovação. A iniciativa foi em conjunto com o Tribunal de Contas da União (TCU), a Advocacia-Geral da União (AGU), a Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e o MDIC. No final das contas, queremos ajudar o Estado a apoiar e preferir fornecedores que investem em inovação.
O ministro Alckmin menciona que o baixo investimento e a baixa produtividade são dois desafios importantes para a indústria. Quais são as ações da ABDI para endereçar essas necessidades?
A principal ação da ABDI diz respeito à prestação de apoio técnico e operacional ao Programa Brasil Mais Produtivo, como mencionei. Ele é coordenado pelo MDIC e executado com parceria do Senai, Sebrae, BNDES, Finep e Embrapii. O Programa deverá atender a mais de 90 mil micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) industriais até 2026, com consultorias para promover a manufatura enxuta, a eficiência energética e a transformação digital, bem como a adoção de melhores práticas de produtividade e digitalização da gestão do negócio.
O Programa também conta com investimentos da ordem de R$ 2 bilhões disponibilizados pelas três maiores instituições nacionais de fomento à indústria e à inovação (BNDES, Finep e Embrapii) que serão disponibilizados para que MPMEs implementem planos de transformação digital e para que seja realizada pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias nacionais para apoiar a produtividade e a transformação digital das empresas. Com isso, a expectativa é de que o Brasil Mais Produtivo se consolide como o maior e mais impactante programa de produtividade para MPMEs industriais já implantado no País.
A ABDI possui projetos ou ações para a incorporação da inteligência artificial pela indústria nacional? Os projetos MetaIndústria e Agro 4.0 vão nesse sentido?
Certamente. A ABDI tem desenvolvido ações de adoção e de difusão de tecnologias digitais no setor produtivo, que inclui soluções suportadas por inteligência artificial por meio de projetos de cooperação e chamamentos orientados para a indústria nacional. Para viabilizar a adoção ampla dessa tecnologia, a Agência tem apoiado provas de conceito e estimulado as empresas a validarem as tecnologias e escalarem as soluções que apresentarem resultados atrativos. A ABDI já teve edital para soluções de inteligência artificial com resultados relevantes na produtividade das empresas e também na capacitação de seus trabalhadores.
A ABDI tem apoiado provas de conceito e estimulado as empresas a validarem as tecnologias e escalarem as soluções que apresentarem resultados atrativos.
O Metaindústria, por exemplo, é um projeto de estímulo à adoção de tecnologias da indústria 4.0, entre elas a conectividade e inteligência artificial, mas que além disso suporta a empresa participante pela capacitação de recursos humanos, mitigação de riscos de investimento na adoção de tecnologias e elaboração de novos modelos de negócio.
Já o Agro 4.0 visa fomentar a adoção e a difusão de tecnologias digitais no campo, com foco em produtividade, eficiência e sustentabilidade. O Programa foi iniciado em 2020, em parceria com o Ministério da Agricultura, Ministério da Ciência e MDIC, e possui produtos como editais para a realização de projetos pioneiros no setor, eventos e demais materiais de suporte à implementação de tecnologias e de ações estratégicas para a cadeia.
A ABDI possui projetos ou ações voltados para estimular a produção e a inovação no Complexo Econômico-Industrial da Saúde?
Temos muitas ações de estímulo à produção e à inovação no Complexo Econômico-Industrial da Saúde. A ABDI, por exemplo, possui uma parceria com o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) para o desenvolvimento de soluções tecnológicas voltadas para a ampliação do atendimento hospitalar. É onde tecnologias digitais são incorporadas ao processo operacional do serviço de saúde, impactando o funcionamento por meio da otimização operacional e a qualidade de vida dos pacientes.
Um dos projetos desenvolvidos visa melhorar a capacidade de realização de exames de diagnóstico por imagem, auxiliando o médico na escolha do exame mais adequado segundo protocolos clínicos, disponibilidade de equipamentos, estado clínico, histórico do paciente e dados demográficos, além de organizar a fila de espera para reduzir o absenteísmo. A diminuição do número de absenteísmo tem uma relação direta com a garantia do acesso à saúde, visto que a etapa do diagnóstico é a fase decisiva para o início do tratamento. Nesse sentido, a diminuição de 5% no absenteísmo representa um impacto no tratamento de mais de 925 pacientes por mês. A estimativa é que esse projeto possa gerar uma economia de até R$ 21 milhões por ano.