REVISTA FACTO
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Jan-Mai 2024 • ANO XVIII • ISSN 2623-1177
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Por um ambiente de negócios menos hostil
//Entrevista Ricardo Alban

Por um ambiente de negócios menos hostil

Com o mundo cada vez mais voltado para a sustentabilidade, o Brasil tem uma grande oportunidade para se destacar entre os líderes da economia atual. Nesse sentido, a nova política industrial representa um avanço importante, mas é preciso ir além, enfrentando aspectos do chamado Custo Brasil, que tornam o ambiente de negócios hostil e retiram R$ 1,7 trilhão por ano das empresas. Entre os problemas estão as altas taxas de juros, o sistema tributário, as carências de infraestrutura e o excesso de burocracia.

Foi o que afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, em entrevista para a FACTO.

O dirigente ressaltou ainda o potencial da inteligência artificial (IA) para impulsionar a indústria brasileira, em especial o setor químico-farmacêutico, com ganhos na eficiência da produção, redução de desperdícios e melhoria na qualidade dos produtos. Porém, é preciso superar desafios como os custos da implementação de novas tecnologias e a falta de uma regulamentação específica para o uso de IA na saúde. Entre as estratégias a serem adotadas, Alban destacou a importância de fomentar a colaboração envolvendo empresas, universidades e governos para gerar um ecossistema favorável à inovação.

Como avalia as ações que estão sendo implementadas na nova política industrial?

A nova política industrial brasileira está alinhada às experiências internacionais ao dar ênfase ao desenvolvimento de soluções verdes, inovação, aumento das exportações e ganhos de produtividade. A Nova Indústria Brasil prevê uma série de reformas regulatórias, colaborando com a diminuição do Custo Brasil e com um ambiente mais propício aos negócios. As iniciativas estão de acordo com as tendências globais de fomento ao setor produtivo.

O Plano Mais Produção dá um passo importante, pois confere isonomia ao financiar a neoindustrialização e conceder à indústria tratamento equivalente ao setor agropecuário, que conta com o Plano Safra. O sucesso da política também depende de um ambiente de negócios competitivo e, nesse campo, nossa situação é difícil.

Sofremos com um Custo Brasil que retira R$ 1,7 trilhão ao ano das empresas e com um spread bancário de 27,4% diante de uma média mundial de 7,3%. A Nova Indústria Brasil é um bom começo e acerta ao combinar as políticas de incentivo direcionadas aos mesmos eixos dinâmicos de desenvolvimento do mundo com as medidas que reduzem o Custo Brasil e as políticas de melhoria regulatória e de ambiente de negócios.

Para superar os gargalos que a indústria enfrentou nos últimos anos, quais são as prioridades no contexto macroeconômico?

Apesar de avanços recentes, um conjunto de fatores foi minando a competitividade dos produtos industriais brasileiros. É o Custo Brasil. São entraves, dificuldades e custos há muito tempo superados em outros países, mas que ainda atrapalham o dia a dia dos negócios no Brasil. Isso impede que a indústria nacional possa competir de igual para igual com seus concorrentes no mercado doméstico e em outros países.

Dos vários elementos do Custo Brasil, é preciso destacar o papel das taxas de juros elevadas na perda de participação da indústria no PIB ao longo dos anos. A manutenção de taxas de juros excessivamente elevadas por longos períodos manteve o custo de financiamento elevado e desincentivou investimentos.

O sistema tributário é outro aspecto que prejudica a indústria pesadamente. A indústria é onerada por uma série de características do sistema tributário, dentre as quais a cumulatividade de impostos e as regras complexas e controversas, que retiram competitividade e geram incertezas. O sistema gera distorções na economia e é pouco transparente.

O Custo Brasil também implica ausência de segurança jurídica, indisponibilidade de uma infraestrutura adequada, excesso de burocracia, baixa qualidade de serviços públicos, limitações à inovação, custos elevados de insumos básicos como energia elétrica e gás natural e falta de recursos humanos qualificados.

Precisamos de medidas de política industrial que, ao promoverem um ambiente de negócios menos hostil, coloquem a indústria de volta ao seu papel de motor do crescimento.

Assim, vamos poder nos adequar às megatendências internacionais como a digitalização, a descarbonização da economia e a transição energética. Também vamos poder avançar no processo de integração internacional, aproveitando oportunidades para o aumento da produção e das exportações brasileiras e para a inserção competitiva de nossas empresas em cadeias globais de valor.

Como a temática da política industrial tem sido abordada no cenário internacional?

As políticas industriais ganharam força mundo afora, principalmente no período pós-pandemia e por iniciativa, principalmente, das economias avançadas. O mundo está em uma corrida global para responder às grandes transformações em curso e construir as novas bases da indústria mundial. São 2,5 mil medidas de política industrial sendo implementadas globalmente. Em 2023, as economias emergentes responderam por 29,1% das medidas, enquanto as economias avançadas foram responsáveis por 70,9%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional.

O subsídio à produção doméstica foi a principal estratégia utilizada. Planos, programas e estratégias da Alemanha, China, Coreia, EUA, Japão, Reino Unido e União Europeia contam com pelo menos US$ 12 trilhões. As principais economias do mundo, ao lançar planos ambiciosos sucessivos, buscam ampliar suas estruturas produtivas e movê-las em direção à descarbonização. O Brasil, que detém um imenso potencial para a produção de energia limpa, entre outras vantagens, pode se beneficiar do powershoring e se tornar líder dessa megatendência global.

Quais são as oportunidades que a inteligência artificial traz para as indústrias do Complexo Econômico-Industrial da Saúde responderem aos desafios de saúde pública brasileira? A nova política industrial prevê as ações necessárias para que essa indústria se desenvolva na área de inteligência artificial (IA)?

A evolução das tecnologias digitais impulsionou o uso de algoritmos de inteligência artificial na indústria. Vemos várias oportunidades na cadeia de valor da saúde, com aplicações diversas, desde exames e diagnósticos a tratamentos e prevenção de doenças.

Para prever doenças de forma cada vez mais precoce, precisamos de máquinas mais avançadas, com circuitos eletrônicos refinados e softwares sofisticados. É necessário alavancar empresas nacionais nos setores de hardware, circuitos integrados e inteligentes, eletrônica, Internet das coisas, baterias, algoritmos de precisão e no próprio setor de saúde.

Para tratamentos personalizados, é preciso que a IA possa analisar os dados de cada paciente e fornecer as melhores alternativas, acelerando a recuperação. Podemos também monitorar pacientes de forma remota e em tempo real por meio de dispositivos conectados. Verificamos com isso se o tratamento está sendo eficaz.

Outra frente com grande potencial é a prevenção. Com a análise de padrões em dados de saúde populacionais, a inteligência artificial pode ajudar a identificar surtos de doenças antes que eles se tornem epidemias, além de contribuir para programas de saúde preventiva. Podemos cruzar esses dados com dados da agricultura, ajudando no rastreio da alimentação de um paciente e revelando seus efeitos no tratamento e na prevenção de doenças.

A missão 4 da Nova Indústria Brasil diz respeito à transformação digital, auxiliando no cumprimento da missão 2 do complexo industrial da saúde.

Como a IA pode contribuir para o alcance das metas da política industrial em especial no que se refere à químico-farmacêutica? Quais são os maiores desafios nessa área?

A IA pode ajudar a alcançar as metas da política industrial no setor químico-farmacêutico, aumentando a eficiência da produção, reduzindo desperdícios e melhorando a qualidade dos produtos farmacêuticos. Algoritmos de IA podem ajustar os parâmetros de produção em tempo real para garantir a consistência e a conformidade com as regulamentações.

A inteligência artificial deve contribuir para a personalização dos tratamentos, baseando-se no perfil genético e biomarcadores dos pacientes, potencializando a eficácia terapêutica e minimizando os efeitos colaterais. A melhoria na cadeia de suprimentos, através de sistemas inteligentes que preveem a demanda, otimizam o estoque e gerenciam a distribuição, ajuda a reduzir custos e a melhorar o acesso a medicamentos.

A pesquisa, o desenvolvimento e a inovação com foco em IA podem acelerar a descoberta de novos medicamentos, analisando grandes conjuntos de dados para prever a eficácia e a segurança de potenciais compostos medicinais. Isso pode reduzir significativamente o tempo e o custo de desenvolvimento de novos medicamentos, além de melhorar a eficácia desses compostos.

Contudo, existem alguns desafios em tecnologia e infraestrutura de dados. Os investimentos ainda são desiguais e há necessidade de maior colaboração entre as empresas, universidades e governos para criar um ecossistema robusto que favoreça a inovação. Um desses desafios é a ausência de uma regulamentação clara e específica para o uso de IA na saúde. Não podemos esquecer os custos de tudo isso. A implementação de soluções de IA pode ser cara, em especial para pequenas empresas. Incentivos fiscais e apoio financeiro são necessários para democratizar o acesso às tecnologias.

O Brasil possui grande capacidade de pesquisa nas universidades, mas isso ainda não alcança as empresas. O que deve ser feito para estimular essa relação universidade-empresa?

A ligação entre universidades e empresas pode ser reforçada por meio de diferentes estratégias, visando à transferência de conhecimento e tecnologia. Isso é crucial para transformar a capacidade de pesquisa acadêmica em inovações aplicadas no mercado.

O estabelecimento de Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e de redes de financiamento para pesquisas básica e aplicada pode trazer as soluções o mais rápido possível para a população. Muito disso está sendo feito, inclusive pela CNI. O desenvolvimento de 27 Institutos SENAI de Inovação (ISIs) desde 2012 ajuda a indústria brasileira a chegar a novos níveis de produtos, serviços e processos, aumentando a competitividade.

Em conjunto com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), aceleramos as pesquisas com foco na indústria. Também temos a utilização do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT), tanto por empresas quanto por universidades e centros de pesquisa nacionais.

Podemos considerar a criação de parques tecnológicos e incubadoras, com intuito de desenvolver espaços físicos que reúnam startups, empresas de tecnologia e instituições acadêmicas, facilitando o acesso a recursos de pesquisa e desenvolvimento e estimulando a interação entre acadêmicos e empresários. Somem-se a isso incentivos fiscais e subsídios, tendo o governo um papel vital de fomentar projetos de inovação. Esses incentivos ajudam a reduzir o risco financeiro para as empresas.

Ricardo Alban
Ricardo Alban
Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
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