A indústria de química fina desempenha um papel de suma importância no cenário brasileiro, especialmente no que tange ao fomento da inovação. Dentro desse setor, destaca-se a produção de insumos farmacêuticos ativos (IFAs) pelas indústrias farmoquímicas, que desempenham um papel crucial na fabricação de medicamentos, constituindo um elo vital na cadeia de valor do segmento farmacêutico. A capacidade de produção local de insumos químicos e IFAs exerce uma influência direta na capacidade de inovação da indústria farmacêutica nacional, impactando sua autonomia, agilidade e segurança no desenvolvimento de novos medicamentos, como foi evidenciado durante a pandemia de COVID-19.
Entre os anos 1970 e 1990, os investimentos resultaram em um significativo crescimento do setor químico e petroquímico. O consumo de produtos químicos aumentou consideravelmente, com a produção nacional respondendo por uma parcela majoritária. Mesmo durante a década de 1980, marcada por estagnação econômica, o setor químico apresentou resultados positivos, impulsionado por subsídios governamentais para exportações. O setor farmacêutico, por exemplo, teve sua produção nacional atendendo a 63% do mercado interno.
Entretanto, a década de 1990 trouxe mudanças profundas no cenário nacional e internacional, afetando negativamente o setor químico brasileiro. Apesar desse cenário, aquelas que persistiram têm se esforçado para desenvolver tecnologias e promover a inovação, apesar das adversidades enfrentadas.
Para impulsionar a inovação e reduzir a dependência das importações no mercado nacional, é imperativo fortalecer a indústria de química fina, em especial a farmoquímica, incentivando investimentos em pesquisa e desenvolvimento de IFAs, tanto aqueles destinados ao mercado interno quanto os inovadores. A promoção de parcerias público-privadas, o estímulo à produção local de IFAs e a implementação de políticas de fomento à inovação emergem como estratégias essenciais para fortalecer a indústria de química fina e farmoquímica, impulsionando a inovação e reduzindo a dependência do mercado externo no setor farmacêutico brasileiro.
O financiamento da inovação em química fina, especialmente no setor farmoquímico, apresenta desafios específicos, devido à alta complexidade tecnológica, às barreiras regulatórias e à natureza intrínseca de riscos e incertezas no processo de pesquisa e desenvolvimento, demandando capital de longo prazo. Para superar tais desafios, é crucial promover políticas públicas, criar linhas de crédito específicas e incentivos que estimulem o financiamento da inovação.
O estabelecimento de parcerias estratégicas entre empresas e universidades pode desempenhar um papel fundamental no processo de inovação, fornecendo acesso a conhecimento especializado, colaboração em pesquisa, recursos tecnológicos, capacitação de talentos e fortalecimento do ecossistema de inovação.
Essa interação entre academia e indústria é fundamental para impulsionar o desenvolvimento de novos produtos, processos e tecnologias que contribuam para o avanço do setor de química fina/farmoquímico e para a melhoria da saúde e qualidade de vida da população.
Uma estratégia subutilizada atualmente é o envolvimento de startups no ecossistema de inovação das empresas do setor de química fina. Esse envolvimento pode trazer benefícios significativos, tais como agilidade e maior capacidade para gerar inovações disruptivas, impulsionando o desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços que contribuam para o avanço do setor.
Tal movimento de internalização e inovação da indústria de química fina nacional está diretamente de acordo com os objetivos da Agenda 2030, um esforço conjunto no qual o setor privado desempenha um papel essencial como detentor do poder econômico, impulsionador de inovações e tecnologias, influenciador e engajador de diversos públicos, incluindo governos, fornecedores, colaboradores e consumidores. Entre os 17 objetivos delineados, o objetivo 9 – Indústria, Inovação e Infraestrutura – está alinhado com essa estratégia, enfocando a construção de infraestruturas resilientes, a promoção da industrialização inclusiva e sustentável, e o fomento à inovação naquela que é considerada a “indústria das indústrias”, e constitui a base da cadeia produtiva de diversos setores da economia.
Por fim, há a necessidade de se envolver a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nas discussões, pois ela desempenha um papel importante na internalização da produção de medicamentos no Brasil. Por meio da regulamentação e fiscalização das indústrias farmacêuticas, a agência busca garantir que os medicamentos fabricados no país atendam aos padrões de qualidade exigidos, contribuindo para o fortalecimento da indústria nacional e para a redução da dependência de medicamentos importados. No entanto, é urgente também agilizar o processo de registro e licenciamento desses produtos, além de discutir entraves regulatórios que atrasam e desestimulam o processo de inovação dentro das indústrias nacionais.