Após anos sem se ouvir falar em políticas públicas para a industrialização e a inovação no Brasil, é fundamental que o tema retorne às mesas de conversas, mas que não se estagne somente em palavras e sim que evolua para atos.
Em toda e qualquer política industrial e de inovação elaborada com o objetivo de trazer mais desenvolvimento para o País é obrigatória a presença de pelo menos três participantes: o Estado, a indústria e a universidade. As políticas que obtiveram os melhores resultados nos últimos dois séculos – não são anos, são séculos mesmo – contaram com esses três componentes principais.
Falaremos inicialmente sobre a importância de uma maior aproximação entre a indústria e a universidade para que se obtenha maior sucesso no desenvolvimento de novos produtos inovadores. Aquelas dificuldades tão decantadas pelas duas partes, indústria e universidade, começam a se dissipar e excelentes oportunidades surgem para ambas.
A indústria farmacêutica nacional já entendeu que é preciso inovar para crescer e posicionar-se melhor nos mercados interno e externo. Isso porque, quando se inova, abre-se a possibilidade de se explorar o mercado mundial – cerca de vinte vezes maior que o mercado brasileiro. Ou seja, a inovação possibilita às indústrias alcançar outros mercados, pois não se inova somente para o Brasil, mas para o mundo.
Neste momento de forte desenvolvimento do setor farmacêutica nacional, em que inúmeras indústrias já se estruturaram para praticar a inovação, essa aproximação com a universidade se faz necessária e deve ser feita de forma significativa.
Ambas as partes ainda estão em fase de mútuo conhecimento e aprendizado. E aí surge imediatamente a pergunta: por que não trabalhar juntos? Há áreas de excelência nas nossas universidades com as quais nós da indústria poderíamos trabalhar com boas possibilidades de sucesso. Então mãos à obra!
Para que os resultados dessa parceria sejam ainda melhores, alguns aspectos dessa relação necessitam ser corretamente entendidos pelas partes. Iniciamos fornecendo um dado do mercado farmacêutico: cerca de 60% dos produtos inovadores colocados no mercado foram obtidos com alguma inovação incremental. Esse número por si só demonstra a importância desse tipo de inovação.
No entanto, alguns setores relevantes da universidade veem a inovação incremental como algo secundário. Não o é! Os números mostram. Há que se entender que esse incremento atende a uma necessidade a que o produto original não responde e de cuja lacuna os médicos se ressentem. Portanto, atende a uma necessidade médica e consequentemente dos pacientes.
Não afirmamos que a inovação radical deva ser abandonada, apenas que há um tempo certo para ingressarmos nela, pois precisamos ganhar maturidade dentro da incremental. Esse é um tema que deve ser aclarado entre as partes para não criarmos expectativas frustradas por não atingirmos o objetivo.
Outro aspecto importante a ser equalizado refere-se ao tempo de execução do projeto que não deve ser confundido com o tempo necessário para a conclusão de um doutorado, por exemplo. O relógio da indústria é sempre menor do que o tamanho do relógio da universidade. Há que se compatibilizar os prazos. E isso é possível com a boa vontade das partes.
Defendemos que haja, desde o início, um estreitamento entre os profissionais da universidade com os da indústria, sem preconceitos, para que se somem os diferentes conhecimentos e experiências de cada um. Assim, ao ser concluído o projeto, estará praticamente pronto para entrar em escala industrial, havendo a necessidade somente de pequenos ajustes.
Esses entendimentos e outros entre as partes são necessários para facilitar a aproximação dos parceiros. Várias outras considerações deveriam ser feitas, mas como a proposta é de trabalho em conjunto, deixaremos que essas conversas sejam conduzidas entre a indústria e seus parceiros acadêmicos.
Como este texto é sobre a parceria entre academia e indústria com vistas à inovação, não discorremos sobre o papel do Estado que, como já mencionado, faz parte dessa tríplice aliança. No entanto, não podemos deixar de mencioná-lo como o fator ligante e indispensável dessa parceria.