Pesquisas avançadas conduzidas por empresas internacionais prometem impulsionar o mercado de pilocarpina, insumo farmacêutico ativo (IFA) cuja matéria-prima – o jaborandi – é encontrada principalmente no Brasil. Novos usos do IFA estão sendo aprovados para o tratamento da presbiopia (vista cansada), problema ocular que afeta 1,8 bilhão de pessoas no mundo, e da hiperidrose (suor excessivo). O Grupo Centroflora já fornece dois terços da pilocarpina processada pelas farmacêuticas no mundo e está pronta para o desafio não apenas de ampliar a produção, mas fazê-lo de maneira sustentável, alinhada às práticas e valores ESG – sigla em inglês para o conjunto de boas práticas corporativas nas áreas ambiental, social e de governança.
Com tecnologias já patenteadas, as inovações poderão dobrar a demanda global pelo insumo, que atualmente é de 3 toneladas/ano. A produção atual de pilocarpina pelo Centroflora atende à fabricação de medicamentos para duas indicações farmacêuticas, o glaucoma (aumento da pressão intraocular) e a xerostomia (boca seca).
O Grupo consegue abastecer o mercado global por meio da sólida estratégia mantida no Programa de Valorização do Jaborandi, que envolve capacitação comunitária, conscientização ambiental e manejo da floresta em pé para reverter a exploração predatória da planta. Há mais de 20 anos o Centroflora colhe de forma sustentável as folhas de jaborandi nos estados do Piauí, Maranhão e Pará.
Além do manejo florestal, a empresa tem projetos na cidade de Parnaíba, no Piauí, onde cultiva o jaborandi com grandes investimentos em tecnologia agronômica, com o objetivo de expandir a produção de massa vegetal ao mesmo tempo em que conserva o meio ambiente. A unidade garante a segurança para o fornecimento de matéria-prima e tem sido empregada para pesquisa de modernas técnicas agrícolas. Além disso, o Centroflora está na fase final de entrega de uma área agrícola de 60 hectares de cultivo de jaborandi.
Transformação social
A atuação responsável do Centroflora na cadeia do jaborandi permitirá aproveitar uma janela de oportunidade que trará retorno econômico não apenas para a empresa, como para as comunidades coletoras, conforme explica o CEO do Grupo, Peter Andersen.
“O nível de demanda pela pilocarpina tem se mantido nos últimos 15 anos, com ligeira redução para o tratamento de glaucoma (uso original do IFA) e ligeira alta para xerostomia, o que trouxe estabilidade de ganhos para as comunidades coletoras. O uso potencial da pilocarpina para presbiopia e hiperidrose poderá exigir um grande aumento na produção, o que impactará de forma muito positiva os milhares de brasileiros que sobrevivem da colheita sustentável do jaborandi. Para essas comunidades, é de fundamental importância que a renda da colheita seja estável por um longo período e os esforços do Centroflora caminham nessa direção”, conta Andersen.
Todo o trabalho em torno do jaborandi começou com o mapeamento das regiões onde existia essa espécie nativa brasileira. Buscou-se o fortalecimento da comunidade, cujo primeiro passo foi a reorganização da cadeia produtiva, eliminando-se os atravessadores para alcançar melhor remuneração para os coletores.
Cerca de 30 mil pessoas estão envolvidas na coleta de jaborandi para o Centroflora, número que deve crescer substancialmente diante do aumento projetado para a demanda global de pilocarpina.
O Grupo promove treinamentos sobre o manejo adequado, orientando a comunidade sobre o tamanho certo da planta para a coleta, a quantidade de folhas que pode ser extraída, a época do ano para isso e como preservar as sementes. Questões de conservação ambiental também são abordadas, como tratamento do lixo e prevenção a queimadas. Essa capacitação acontece na operação diária da cadeia, com apoio dos parceiros locais.
Envolvidos em um projeto que beneficia sua comunidade, os coletores relatam não apenas melhoria de ganhos financeiros e de qualidade de vida, mas também maior autoestima e orgulho de trabalhar com a coleta de jaborandi, atividade antes estigmatizada.
Preservação ambiental
A conscientização e o treinamento dos coletores realizados pelo Programa de Valorização do Jaborandi também contribuem de maneira efetiva para a preservação ambiental por meio das técnicas de manejo da floresta em pé, sem derrubada da mata nativa ou outras agressões ao ecossistema.
O modelo adotado pelo Centroflora significou uma mudança de paradigma frente à antiga prática em que os pés de jaborandi eram totalmente cortados. A planta chegou a ser incluída na lista de espécies ameaçadas de extinção.
“O extrativismo de jaborandi no modelo Centroflora tem alto impacto social positivo e valoriza a floresta”, explica Priscylla Moro, gerente geral de Parcerias da Brazbio, empresa do Grupo responsável pela aplicação de arranjos sustentáveis nas cadeias de abastecimento de ingredientes naturais e fitoterápicos.
O manejo florestal exige monitoramento constante. Isso é feito por meio de parceria com a Brazbio e a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), que realizam os inventários de plantas e medem a real regeneração da espécie em determinadas áreas. Tudo conta com autorização expedida anualmente pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.
O Programa de Valorização do Jaborandi recebeu reconhecimentos por sua importância: o 1° Prêmio Nacional da Biodiversidade, do Ministério do Meio Ambiente; a classificação como tecnologia social pela Fundação Banco do Brasil; e a menção como Iniciativa Empresarial de Uso Sustentável da Biodiversidade pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Insumo de qualidade
O compromisso do Grupo Centroflora se estende à qualidade do insumo desde o campo até a fábrica. O maior diferencial oferecido para as farmacêuticas é a rastreabilidade da planta coletada, prática até então inexistente no mercado brasileiro. O Centroflora conta com parceiros locais para realizar a tarefa.
Para citar alguns exemplos, a Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu (Campax) e a Cooperativa dos Extrativistas da Floresta Nacional de Carajás (Coex), no Pará, têm forte rastreabilidade da folha, sinalizando em cada lote as respectivas regiões de extração. No Piauí, o assentamento Cutias informa, para cada folheiro, o volume e região.
Além disso, técnicos das cooperativas ajudam no controle de qualidade, pois vão a campo para verificar como o trabalho está sendo feito e garantir a reprodução da planta no ano seguinte.
A garantia do Grupo Centroflora está também na alta qualidade da fabricação industrial, que ocorre em uma unidade (CentroPhyto) localizada no Piauí, sendo uma das poucas plantas brasileiras de IFAs certificadas pelas agências sanitárias norte-americana (FDA) e europeia (EDQM). A pilocarpina do Grupo apresenta Drug Master File (DMF) ativo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e tem 97% da sua produção exportada para mais de 30 países.