REVISTA FACTO
...
Mai-Ago 2020 • ANO XIV • ISSN 2623-1177
2024
75 74
2023
73 72 71
2022
70 69 68
2021
67 66 65
2020
64 63 62
2019
61 60 59
2018
58 57 56 55
2017
54 53 52 51
2016
50 49 48 47
2015
46 45 44 43
2014
42 41 40 39
2013
38 37 36 35
2012
34 33 32
2011
31 30 29 28
2010
27 26 25 24 23
2009
22 21 20 19 18 17
2008
16 15 14 13 12 11
2007
10 9 8 7 6 5
2006
4 3 2 1 217 216 215 214
2005
213 212 211
O PAPEL DO ESTADO EM TEMPOS DE COVID-19
//Editorial

O PAPEL DO ESTADO EM TEMPOS DE COVID-19

Ao longo de toda esta edição da FACTO, as fontes ouvidas e os artigos assinados sustentam o mesmo argumento: é altamente necessária a ação do Estado para que o Brasil supere a crise econômica agravada pela covid-19. A história mostra que as políticas públicas cumprem esse papel. Para gerar empregos na crise de 1929, os Estados Unidos criaram o New Deal, programa sustentado pela ação direta do Estado. Mais tarde, o país financiou a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial por meio do Plano Marshall. E estamos falando da nação mais liberal do planeta.

Neste momento, a história se repete e os países desenvolvidos estudam pacotes de incentivo à recuperação econômica. Por aqui, assistimos à lentidão do governo em seguir esses passos. Na matéria política, especialistas enxergam um dilema a ser ultrapassado, que é a necessidade de contingenciamento dos gastos públicos, por um lado, e a urgência da ação estatal para incentivar a economia, por outro. 

Fato é que a retomada dos investimentos privados dependerá de um conjunto de estímulos por parte do governo para que as empresas resgatem a confiança e possam vislumbrar alguma segurança para operar no longo prazo. Uma das áreas que mais demandam papel ativo do Estado e com maior capacidade de nos lançar na rota do desenvolvimento econômico é a inovação, como aponta a entrevista com Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho de Administração da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e do Conselho de Administração da Ultrapar. 

No Especial Covid-19, fica evidente que as instituições de pesquisa e as empresas brasileiras têm capacidade de responder ao desafio da inovação quando criadas condições favoráveis. É assim que Bio-Manguinhos e Instituto Butantan participam de estudos internacionais para o desenvolvimento de uma vacina para a doença e se organizam para iniciar a produção. Já no Setorial Saúde, vemos a importância de uma estratégia de saúde pública com um olhar global para a sociedade, uma vez que a crise da covid-19 provocou outro efeito colateral, que foi reprimir a demanda no atendimento de pacientes portadores de câncer e de doenças raras e crônicas.

Apesar da hesitação do governo, é possível notar movimentos setorizados no sentido de se rascunhar políticas públicas. A ABIFINA, em conjunto com outras entidades, encontrou o canal de diálogo aberto para discutir propostas de incentivos para os segmentos farmoquímico e farmacêutico. 

ABIFINA, Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac) e Grupo FarmaBrasil formularam e entregaram ao governo o documento “Propostas da indústria brasileira de insumos farmacêuticos e medicamentos – Aprimorando caminhos e estratégias rumo ao adensamento da cadeia produtiva brasileira”. 

Mostramos nesta edição os detalhes desse movimento, que já provocou a criação do grupo de trabalho GT-Farma pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. O objetivo é formular uma proposta de política de desenvolvimento tecnológico e de incentivo à inovação para a área. 

A triste realidade que assola a população brasileira acabou por se transformar na oportunidade de ouro para o País estruturar seu parque fabril de química fina. Estamos aprendendo (ou admitindo) na dor que a autonomia na produção de itens básicos, especialmente na área da saúde, deve ser construída. O Brasil não pode prescindir de fabricar seus próprios insumos farmoquímicos, ficando à mercê dos fornecedores internacionais.

A mesma reflexão se instala no segmento agroquímico, como revela o artigo do deputado federal Paulo Ganime, vice-presidente da Frente Parlamentar Mista pela Inovação na Bioeconomia. Ele fala sobre a criação do Programa Nacional de Bioinsumos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O objetivo é aproveitar o potencial da biodiversidade brasileira para que empresas inovem em produtos nacionais. Com isso, será possível reduzir a dependência dos produtores rurais de insumos importados e ampliar a oferta de matéria-prima para o setor. 

Segundo o Ministério da Agricultura, a iniciativa atende a consumidores e produtores que buscam produtos de menor impacto econômico e ambiental. A cesta de bioinsumos inclui inoculantes, promotores de crescimento de plantas, biofertilizantes, extratos vegetais, defensivos feitos a partir de micro-organismos benéficos, produtos fitoterápicos ou tecnologias com ativos biológicos na composição.

Esse pode ser um caminho para sustentar o crescimento do agronegócio. Marcos Fava Neves, engenheiro agrônomo e conselheiro da Ourofino Agrociência, alerta em seu artigo que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estão preocupadas com a manutenção do abastecimento de alimentos no mundo durante a crise do coronavírus. Segundo maior produtor mundial de alimentos, o Brasil tem papel central nesse desafio. Mas, para isso, deve estruturar projetos para melhorar as variáveis de custos, diferenciação e ações coletivas. 

A sinalização positiva do governo para a indústria com esses projetos ainda incipientes não pode ser atravessada por ações no sentido contrário, como pode acontecer se o Brasil de fato aderir ao Acordo de Compras Governamentais da OMC. A coordenadora de Comércio Exterior e Cadeia Química da ABIFINA, Fernanda Costa, redigiu um artigo, com a colaboração de Bruna Oliveira, trainee da entidade, para explicar os prós e contras do acordo, que estabelece o tratamento igual a fornecedores nacionais e internacionais nas compras públicas. Ela alerta que, se o Brasil entrar no acordo sem excluir setores estratégicos, as políticas públicas estabelecidas, como a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), serão comprometidas. 

As incertezas do momento ainda são grandes, mas parece que, aos poucos e com grande persistência, demos alguns passos à frente. A ABIFINA segue em seu papel de cobrar a construção de políticas públicas capazes de reerguer o parque produtivo brasileiro da química fina. Deverão ser políticas baseadas em uma visão desenvolvimentista, tendo a liderança do Estado, apoiado pelo setor privado.

Antonio Carlos Bezerra
Antonio Carlos Bezerra
Presidente-executivo da ABIFINA
PROGRAMA NACIONAL DE BIOINSUMOS: MENOS DEPENDÊNCIA DE IMPORTADOS E MAIS MATÉRIA-PRIMA
Anterior

PROGRAMA NACIONAL DE BIOINSUMOS: MENOS DEPENDÊNCIA DE IMPORTADOS E MAIS MATÉRIA-PRIMA

Próxima

COMÉRCIO EXTERIOR