Nas últimas décadas, o Brasil desenvolveu, de modo notável e único, a capacidade de produzir, sustentável e competitivamente, alimentos, fibras, bioenergia e serviços ecossistêmicos em regiões tropicais. A agricultura e pecuária são historicamente responsáveis por um quarto do PIB e um terço dos empregos brasileiros, além de constituírem a principal fonte de superávit comercial para nosso país. No período de 2006 a 2018, a agricultura brasileira produziu um superávit comercial de US$ 905 bilhões, enquanto todos os demais setores de nossa economia, considerados conjuntamente, apresentaram déficit de US$ 510 bilhões.
As perspectivas futuras para a produção de alimentos também são extremamente favoráveis. Atualmente os estoques mundiais de cereais são suficientes para apenas três meses de consumo. Haverá a necessidade de aumentar a produção atual de alimentos em mais de 60% até 2050, enquanto a área cultivada crescerá apenas 2% no período. O aumento da produção dependerá do aumento de produtividade, com adaptação das culturas vegetais e animais aos estresses ambientais futuros. Merece destaque a escassez crescente de água em um cenário de aquecimento global. Segundo a ONU, cerca de 70% da água consumida no planeta é destinado à agricultura, consumo esse que deverá aumentar 19% até 2050.
O Brasil é o único país que dispõe de tecnologias para a produção agrícola e pecuária, além de grandes áreas de terra que podem ser destinadas ao aumento de produção desses setores, sem a necessidade de novos desmatamentos. Possuímos o melhor pacote tecnológico para a produção agrícola e pecuária em regiões tropicais. Algumas das tecnologias aqui desenvolvidas têm garantido grandes vantagens em termos de produtividade, preservação ambiental, consumo de insumos e custos de produção. Graças a essas tecnologias, a bioenergia, as fibras e os alimentos brasileiros são competitivos internacionalmente, mesmo com os elevados custos de transporte e armazenamento pagos pelo setor decorrentes de nossa infraestrutura precária e insuficiente.
Aumentar sustentavelmente a produção de alimentos, fibras e bioenergia no Brasil é uma grande oportunidade, mas será também um grande desafio, não podendo ser alcançado pela simples ampliação da área cultivada. Precisaremos aumentar em cerca de 60% a produtividade de todas as nossas principais culturas até 2050. Para que isso seja possível, precisaremos de todos os tipos de inovação. O Brasil precisará desenvolver e incorporar inovações em seus processos de produção em um ritmo muito superior ao observado nas últimas décadas. Não há nada de novo nessa afirmação. A capacidade de inovar já assume papel central na definição do sucesso ou insucesso de empresas, instituições ou nações. Inovar é gerar, produzir e explorar, economicamente e com sucesso, novas ideias e conceitos. As inovações em produtos e processos, de organização ou de comunicação são diferenciais estratégicos fundamentais em todas as áreas do conhecimento e ramos de atividade.
A inovação não se limita à inovação tecnológica. Um dos maiores desafios para o mundo e, principalmente, para o Brasil, é a produção de inovações organizacionais e de comunicação. Em termos de agricultura, inovações em comunicação são essenciais e urgentes para informar melhor a nossa população sobre os benefícios ambientais, econômicos e sociais promovidos pela produção sustentável e comercialização de alimentos, fibras e bioenergia. É claro que precisaremos, além disso, de todo tipo de inovação tecnológica. Vivemos um momento sem precedentes em termos de capacidade de produzir informações e conhecimento. Os avanços ligados à manipulação da matéria em escala atômica ou molecular (Nanotecnologia), aos genes (Genética e Biotecnologia), aos bits (Tecnologias de Informação) e aos neurônios (Ciências Cognitivas) – as chamadas tecnologias convergentes ou NBIC – tornam-se progressivamente mais rápidos e capazes de contribuir para o nosso conhecimento e influenciar nossas atividades.
A produção de novas tecnologias acelera a cada dia, ao mesmo tempo em que a avaliação da utilidade e segurança das mesmas torna-se progressivamente mais complexa, onerosa e extensa. Tão importante quanto proibir ou postergar o uso de tecnologias que podem causar danos ou riscos é permitir o acesso rápido às tecnologias que, à luz da ciência, sejam consideradas úteis e seguras. Compatibilizar esses dois objetivos tem sido um grande desafio para o Brasil e para a humanidade. Nossas leis no assunto precisarão ser constantemente aprimoradas e harmonizadas com as normas internacionalmente vigentes.
Produzir sustentavelmente mais alimentos, fibras e bioenergia para atender ao aumento das necessidades globais não é uma obrigação, mas uma oportunidade. Para responder a esse desafio, precisaremos ser altamente eficientes em inovar. A minha visão pessoal é otimista. Ampliaremos a nossa produção e, ao mesmo tempo, aumentaremos tanto a preservação quanto a recuperação ambiental.