REVISTA FACTO
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Jan-Fev 2019 • ANO XIII • ISSN 2623-1177
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Caio Megale
//Entrevista Caio Megale

Caio Megale

Formado em economia pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado na PUC-Rio, Caio Megale foi secretário municipal da Fazenda de São Paulo entre 2017 e 2018, período em que foi vice-presidente da Associação Brasileira de Secretários de Finanças das Capitais (Abrasf). Entre 2011 e 2016, ele foi associado do Itaú Unibanco e um dos responsáveis pela equipe de economistas do banco. Anteriormente, foi economista do Lloyds Asset Management, Máxima Asset Management e Gávea Investimentos. Em 2005 participou da fundação da Mauá Investimentos, da qual foi sócio e economista-chefe até 2010. Megale foi professor de economia na PUC -Rio e no IBMEC SP, e tem artigos publicados nos principais jornais do País.

Não lhe parece que a abertura comercial planejada para ser implantada pelo novo governo deva considerar a existência local de indústrias?

A atividade industrial brasileira é um dos pilares da economia, portanto, todas as medidas da equipe econômica consideram os impactos no setor e os meios para que a indústria nacional se torne cada vez mais forte e produtiva. Isso inclui a melhoria do ambiente de negócios, a revisão de entraves legais para comercialização de produtos, o incentivo à inovação tecnológica, a capacitação para os trabalhadores e a redução de impostos. Esse é o principal e primeiro objetivo da Secretaria de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec).

Nesse cenário, não deveríamos considerar a importância de investimentos locais em segmentos estratégicos para o país?

Para que o País volte a fazer investimentos, é preciso antes intensificar a retomada do crescimento econômico e a redução da crise fiscal que nos assola há anos. Para isso, o governo precisa aprovar as reformas – principalmente a reforma da Previdência –, além de reduzir a dívida pública e os gastos do próprio Estado. Vários setores estratégicos precisam de investimentos e, neste contexto, as parcerias com a iniciativa privada tornam-se ainda mais urgentes.

Não deveríamos fazer como o mundo que considera dentre tais ativos estratégicos o complexo industrial da química fina? Nesse cenário, qual é sua opinião sobre a importância do complexo industrial para a saúde?

A tendência mundial é sim de trabalhar cada vez mais com produtos transformados. Somente com tecnologia e inovação, as dezenas de complexos industriais de que o País dispõe poderão voltar a crescer, gerar empregos e competir em mercados internacionais.

Considera relevante para o crescimento econômico e social do país a manutenção da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) para o Complexo Industrial da Saúde (CIES)?

A Política é de 2008 – e não gostaria de comentar políticas de outros governos. O que considero importante destacar é que o governo, em especial o Ministério da Economia, por meio da Sepec, entende o papel fundamental da indústria para o desenvolvimento. Acreditamos que é preciso ampliar a produtividade. Isso gera empregos, fortalece a economia e promove crescimento sustentável de longo prazo. Esse patamar, no entanto, só será obtido se aprovarmos as reformas fiscais, reduzirmos o gasto público, ampliarmos o acesso ao crédito, mantivermos os juros e a inflação sob controle e reduzirmos a carga tributária brasileira.

Há meses a inflação medida pelo IPCA vem se apresentando abaixo do centro da meta fixada pelo Banco Central. Considerando-se que taxa de juros é fator importante na competitividade da indústria, não seria o caso de reduzir o centro da meta e baixar a taxa de juros SELIC?

As avaliações, oscilações e medidas sobre as taxas de juros cabem ao Banco Central, que faz uma análise periódica, séria, contextualizando a atividade econômica, os contextos internacionais e diversos outros fatores. Claro que vamos atuar para que os juros sempre sejam e se mantenham baixos, já que isso impacta na atividade não só industrial, mas de vários setores econômicos. O direcionamento é o mesmo para a inflação, embora valha lembrar que tudo isso possui legislação específica e, por isso, a tarefa árdua do governo, passada essa etapa inicial de diagnósticos da crise e aprovação de reformas, é rever meios para que a inflação se mantenha baixa por longos períodos. Isso incentiva o consumo e dá segurança para que os investimentos privados voltem a surgir.

Uma das ações aventadas para inclusão na tão necessária reforma tributária é a redução do imposto de renda pago pelas empresas e a fixação de uma alíquota incidente sobre os dividendos. Quando o governo pensa em iniciar as medidas para alterar a estrutura da tributação no País (considerando a importância dela para a competitividade das indústrias e que muitas das possíveis alternativas não exigem reforma da Constituição nem aprovação do Congresso)?

Questões de arrecadação e impostos devem ser tratadas com o Tesouro Nacional ou com a Receita Federal.

Caio Megale
Caio Megale
Secretário de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do Ministério da Economia.
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