A cadeia produtiva farmacêutica brasileira importou em 2017 a expressiva soma de 8,906 bilhões de dólares FOB. O número é ainda mais representativo quando verificamos que este valor foi de US$ 6,009 bilhões em 2008 e de US$ 2,309 bilhões em 1998. Os dados de importação relativos a 2017 foram computados tomando como base os valores publicados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Frente a este significativo valor das importações da cadeia produtiva farmacêutica brasileira em 2017, vale formular a pergunta: qual a origem destas importações?
O quadro abaixo apresenta a resposta a este interessante questionamento. Quanto à origem dos produtos importados em 2017, US$ 785,5 milhões (8,8%) vieram da China, US$ 568,4 milhões (6,4%) vieram da Índia e US$ 1,736 bilhão (19,5%) são originários de países do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês), mercado integrado pelo Canadá, Estados Unidos e México. Ainda participaram destas importações brasileiras a União Europeia com US$ 4,330 bilhões (48,6%) e outros fornecedores (Mercosul, Suíça etc.) com US$ 1,486 bilhão (16,7%).
Quando analisamos, particularmente, a importação de medicamentos (que incluem as vacinas para uso humano e derivados do sangue), verificamos que, do total importado em 2017 (US$ 6,196 bilhões), apenas US$ 57,5 milhões vieram da China e US$ 302,6 milhões (4,9%) são de origem indiana. Significativamente, US$ 1,465 bilhão (23,7%) veio do Nafta e US$ 3,411 bilhões (55,01%) vieram da União Europeia, número este realmente surpreendente.
Quando falamos de farmoquímicos, cujas importações em 2017 alcançaram US$ 2,594 bilhões, a distribuição deste valor pela origem realmente se mostra curiosa. Senão, vejamos: US$ 714,5 milhões (27,5%) vieram da China, US$ 257,8 milhões (9,9%) são originários da Índia, US$ 230,0 milhões (8,9%) do Nafta e US$ 894,5 milhões (34,5%) da União Europeia e US$ 497,3 milhões (19,2%) foram provenientes de outros países (Suíça, países do Mercosul e outros).
Aqui é importante fazer um destaque. Com a globalização da economia, muitas empresas europeias, particularmente “brokers” passaram a fabricar alguns farmoquímicos na China, seja por contrato ou pela compra de empresas chinesas dedicadas à produção de princípios ativos farmacêuticos. Estas produções chinesas são exportadas para a Europa (particularmente a Alemanha) que, por sua vez, as reexportam para vários países do mundo, inclusive, é claro, o Brasil.
Acontece que aqui os registros das importações são feitos em função do país exportador e não do país produtor dos farmoquímicos. É por isso que, nos dados das importações de farmoquímicos da União Europeia (US$ 894,5 milhões), certamente estão incluídas várias produções de farmoquímicos fabricados no país asiático e não na Europa, que pode ter simplesmente triangulado as referidas substâncias para o Brasil.
Ainda a partir do total das importações da cadeia produtiva farmacêutica brasileira em 2017, podemos analisar as importações de adjuvantes farmacotécnicos (excipientes). Em 2017 foram importados US$ 115,6 milhões destes produtos, observando as seguintes origens: US$ 13,5 milhões (11,7%) vieram da China, US$ 8,0 milhões (6,9%) vieram da Índia, US$ 40,3 milhões (34,9%) são originários do Nafta, US$ 24,5 milhões (21,2%) da União Europeia e US$ 29,3 milhões (25,3%) vieram de outras áreas geográficas.
Estes são os números reais das importações brasileiras em 2017 de produtos constantes da cadeia produtiva farmacêutica brasileira. Se cruzarmos o valor total de US$ 8,906 bilhões com o valor referente às exportações brasileiras destes produtos no mesmo período, que atingiram US$ 1,759 bilhão, verificamos que estas exportações representam apenas 19,75% do que importamos na cadeia produtiva farmacêutica brasileira. O resultado é um déficit de US$ 7,147 bilhões (80,25%).
Estes números se prestam a várias interpretações. Uns dizem que este enorme déficit é normal em um mundo altamente globalizado. Outros, como eu, entendem que, tendo o Brasil um enorme mercado interno, este déficit deveria ser atenuado com maior participação da indústria nacional na produção de princípios ativos, que são de alta relevância para a sociedade brasileira.
De qualquer forma, considerando as importações em 2017, podemos fazer os seguintes destaques:
- 55,0% das importações de medicamentos (que incluem vacinas e derivados do sangue) são oriundos da União Europeia (US$ 3,411 bilhões).
- 27,5% de farmoquímicos são oriundos da China (US$ 714,5 milhões) e outros 34,5% (US$ 894,5 milhões) chegaram da União Europeia. Este fato pode sugerir que produções chinesas de farmoquímicos entraram no Brasil em 2017 via União Europeia.
- Com 48,6%, mais precisamente US$ 4,330 bilhões, a União Europeia tem participação maciça nas importações.
São números muitos interessantes para uma avaliação mais longa sobre o tema.