Sergio José Frangioni é o novo 1º vice-presidente da ABIFINA, que é o segundo cargo na linha de comando da entidade, responsável por substituir o presidente durante eventuais afastamentos. Engenheiro civil graduado pela Universidade Mackenzie e pós-graduado no ISE/Iese Business School, trabalha no setor químico desde os anos 1980, tendo passado pelas áreas financeira e comercial, até sua atual posição de presidente da Diretoria Colegiada da Blanver. Com sua larga experiência em gestão de negócios e seu conhecimento sobre o setor, Frangioni aponta os caminhos que a ABIFINA deve trilhar nos próximos anos.
Qual deve ser o papel da ABIFINA neste cenário de grandes e constantes mudanças econômicas e tecnológicas?
A ABIFINA precisa caminhar no sentido da globalização. Ela fez um bom trabalho com relação ao mercado interno, com as Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), e agora precisa trabalhar questões modernas como qualidade, competitividade e formação de parcerias. Hoje existe uma grande dificuldade entre os próprios laboratórios nacionais de buscarem um fornecedor brasileiro. A primeira ação é procurar lá fora para depois ver o que tem aqui. Aí fica difícil para as farmoquímicas exportarem se não tiverem mercado no Brasil. A integração só foi possível com ações como as PDPs, que incluem todas as etapas de fabricação de um medicamento. Não fosse isso, as empresas buscariam o melhor preço no exterior.
Por que essa falta de integração na cadeia produtiva?
A indústria farmoquímica como um todo não tem como fazer investimento [em qualidade, competitividade etc.] a fundo perdido se não tiver um parceiro com o qual possa contar. Isso acontece lá fora porque existem recursos, financiamento… A situação é bem diferente. A estruturação da indústria no Brasil deveria passar pela tentativa de se buscar parcerias.
A ABIFINA poderia atuar nesse gap e colocar as empresas frente a frente?
Sim, porque a entidade reúne os produtores e os fornecedores. Seria o caso de buscar uma pauta comum e desenvolver uma fórmula que satisfaça às duas pontas. Se conseguirmos fazer isso, a indústria farmoquímica poderá sobreviver e a farmacêutica ficaria menos dependente de China e Índia. Já percebemos que a China vem tomando decisões de parar de produzir e isso tem um impacto muito grande na saúde pública do País. Claro que não vamos conseguir substituir todos os insumos. De qualquer forma, além das ações de governo, nós, empresas brasileiras, devemos tentar chegar a um acordo comum entre as próprias empresas.
Muito se discute sobre as tecnologias portadoras de futuro e a indústria 4.0. Essa agenda deve ser incorporada pela ABIFINA?
Para começarmos a correr, precisamos primeiro andar. Devemos ter uma indústria ainda mais sólida para, gradativamente, passar para outra etapa. Precisamos primeiro ser mais competitivos no mercado nacional. Para isso, outra questão precisa ser resolvida. Os insumos importados entram no País com menos exigências sanitárias do que os nacionais. Precisamos ter as mesmas condições para o produto daqui e o importado, submetendo-os às mesmas regras sanitárias e exigências de qualificação. A indústria deve brigar por isso.
Em seus 30 anos, a ABIFINA se diferenciou pela atuação em propriedade intelectual. Qual deve ser o posicionamento da entidade para os próximos anos? Existe algum espaço que mereça uma atuação mais intensa?
A ABIFINA é líder nesse tema e tem um excelente trabalho que deve ser mantido. A ABIFINA vem entrando em várias ações como amicus curiae, o que é muito importante. O atraso de patentes ainda é grande, o direito do titular fica estendido e isto prejudica o acesso a diversos medicamentos no País.
Que outros assuntos devem ser encampadospela ABIFINA?
A ABIFINA deve manter o foco nas PDPs porque elas estão mantendo a maioria das empresas, dando um fôlego extra. Percebemos que as nacionais têm reinvestido, usando as parcerias como oportunidade de crescimento. Por outro lado, o governo federal tem tido importantes vantagens, ganhando economia de escala e ampliando o acesso da população à saúde. Mas é importante não só depender dessa ação, mas fazer as empresas se relacionarem novamente.
Além disso, vejo na área de excipientes a mesma questão enfrentada pelos princípios ativos. É preciso integrar a cadeia e, se não houver uma equalização sanitária, você poderá importar qualquer produto de qualquer país fabricando com qualidade suspeita. Enquanto no Brasil os requisitos e custos são bem superiores, o que leva à perda de competitividade. Assim não faz sentido manter uma indústria no País. Só com o mercado nacional a indústria de excipientes não sobrevive. Ela precisa do mercado externo para ter ganho de escala.
Como o senhor descreveria a ABIFINA do futuro?
Entendo como caminho natural reforçar a parceria e a unificação das associações. Não existem no País empresas suficientes para existirem tantas entidades da área química e farmacêutica. A gente deveria tentar unificar as associações e agrupar as ações, fortalecê-las. Até porque a maioria das empresas faz parte de mais de uma associação. Nosso tempo é cada vez mais reduzido. Não dá para participar de todas as reuniões. Não é pela questão de custo, pois as associações são muito enxutas, mas de ter uma única entidade que cuide de todos os assuntos da indústria farmoquímica e farmacêutica. Antes, a ABIFINA era voltada para as indústrias nacionais. Mas hoje você tem muita nacional com capital estrangeiro. São os mesmos associados. Além disso, a gente deveria trazer para a ABIFINA uma auditoria externa para seguir nas boas práticas de governança, no compliance, que são práticas empresariais que oferecem garantias até para os dirigentes da entidade. Pretendo colocar esses temas nas reuniões do Conselho Administrativo.