As exportações e a internacionalização da cadeia farmacêutica humana e veterinária atraem o interesse de empresas brasileiras produtoras de insumos e medicamentos há pelo menos quatro décadas. Desde então, as principais tarefas têm sido a adequação de unidades produtivas locais, a aquisição de empresas estrangeiras e o empreendedorismo na formação de profissionais especialmente dedicados à difícil tarefa de conquistar novos mercados. A convite da Abifina, o fundador e primeiro presidente da entidade prestou o seguinte depoimento sobre as atividades da Abiquifi, entidade coirmã, que atualmente preside.
Embora existam as mais diversas iniciativas no sentido da internacionalização tanto na área de insumos como na produção de medicamentos, é desta última que se espera o maior incremento de valor da cadeia produtiva e, por consequência, a maior contribuição para a nossa balança comercial.
Fora a questão financeira, sempre abordada quando o tema é internacionalização das empresas nacionais, há uma perspectiva mais importante que raramente é objeto de estudo mais acurado. Trata-se da influência do movimento rumo à globalização no desenvolvimento tecnológico das empresas, que passam a competir em um ambiente novo, muitas vezes em mercados com intensa participação de empresas com capital estrangeiro. As condições, no mais das vezes, são mais inóspitas do que as enfrentadas no país-sede. No nosso caso, o Brasil.
Ao longo do processo de internacionalização, as empresas se defrontam com sistemas operacionais, mercadológicos, financeiros e tributários muito diferentes dos aqui praticados. Certamente há nuances favoráveis em alguns aspectos. Mas, em outros, as condições são tremendamente desfavoráveis. Seja no campo cultural, financeiro ou regulatório, a inserção destas empresas está repleta de desafios a serem vencidos.
Uma das dificuldades está na questão da promoção das marcas. O portfólio de produtos é peça fundamental para a promoção e comercialização de medicamentos. Só que nem sempre os métodos promocionais praticados no Brasil, como a visitação médica, se coadunam com os praticados neste ou naquele país. Além disso, a sinergia médico-promotor pode comprometer o bom desempenho e performance da equipe de vendas.
Ter no portfólio produtos diferenciados em relação aos ofertados no mercado local, com características que os distingam como produtos mais modernos, eficazes e de fácil aderência por pacientes, abre portas junto aos prescritores, o que facilita muito a distinção da empresa como tecnologicamente diferenciada.
Em vários países, o receituário médico local é mais avançado do que o disponível no Brasil. Sistemas regulatórios mais rápidos – ou menos exigentes – disponibilizam ao mercado produtos com registros recentes nos países líderes no lançamento de novos medicamentos. Nestes casos, os produtos são lançados por empresas locais licenciadas ou com produção própria, o que torna a dinâmica de promoção e distribuição muito mais rápida do que no Brasil.
Daí a necessidade de os laboratórios que pretendam ser protagonistas em novos mercados terem um portfólio de produtos desenvolvidos endogenamente, com uma visão global de patenteamento, promoção, licenciamento e comercialização.
Não é coincidência que justamente os laboratórios nacionais líderes em desenvolvimento local venham aumentando sua presença no mercado internacional. A cada ano, eles enriquecem seus portfólios com produtos desenvolvidos em parceria ou com pesquisa própria, que são patenteados e têm lançamento simultâneo em vários países.
Os produtos novos dão apoio à promoção junto à classe médica e conferem prestígio e distinção ao corpo de promotores e aos laboratórios, de forma que a aceitação destes últimos seja ampla nos competitivos mercados externos.
Assim, o esforço para desenvolver e registrar um produto no Brasil se transforma numa vantagem competitiva em todos os mercados nos quais a empresa atua, seja com distribuição por licenciamento, seja com promoção pelas subsidiárias das próprias empresas.
A dinâmica da internacionalização, com ou sem unidades produtivas próprias locais, impõe a necessidade de um portfólio de produtos novos que apoie os demais medicamentos comercializados. Este movimento cria um círculo virtuoso em que o esforço econômico no desenvolvimento é repartido pelas afiliadas, facilitando a absorção de custos e difundindo melhor o produto e a marca correspondente.
Em tantos anos de observação, constatamos que, embora o mercado local seja uma prioridade das empresas, aquelas que perseveram na busca da internacionalização são as mais estimuladas a pesquisar, desenvolver, patentear e registrar seus produtos no maior número de países. Estes novos produtos, por sua vez, impulsionam negociações mais abrangentes com distribuidores, licenciados e, finalmente, contribuem para que a empresa tenha prestígio e respeito nos novos mercados.
Com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), Ministério das Relações Exteriores (MRE), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da totalidade das entidades representativas do setor, a Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica e de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi) trabalha desde sua fundação, quando era chamada de Farmexport, no tema da internacionalização da cadeia farmacêutica. Gestora do Projeto Setorial Integrado da Cadeia Farmacêutica, a entidade desenvolve vários projetos nacionais e internacionais que visam incentivar esse movimento na indústria brasileira que esperamos que cresça cada vez mais.