Os possíveis impactos do atual quadro econômico no setor produtivo brasileiro, especialmente para as empresas que atuam em química fina, a exemplo das empresas farmoquímica e farmacêuticas nacionais, foi tema de apresentação de João Furtado, doutor em Economia e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), na primeira reunião do Conselho Administrativo da ABIFINA em 2015. Na reunião, parte importante da palestra e das discussões ocorridas abordaram aspectos relacionados com Política Industrial.
Segundo ele, historicamente o Brasil sempre desenhou políticas industriais defensivas, ou seja, com instrumentos mais voltados para a proteção de mercado interno, o que não deu certo. Chamou a atenção, em especial, quanto ao uso do termo “setor estratégico”, que precisa ser claramente definido, para que a sociedade compreenda e valide os argumentos para sua escolha na inclusão de prioridade do País. Perguntado se há política industrial no Brasil, respondeu que há políticas isoladas, e que os problemas apresentados não decorreram tanto das consequências na implantação das medidas, e sim de um problema maior, que foi resultante do “desaprender” de elaborar política industrial – antes das atuais, a última foi elaborada ainda no período 1974-1979. Só recentemente, a partir dos últimos 12 anos, é que a prioridade do tema passou a fazer parte da agenda governamental, mesmo assim, com alguns problemas.
A primeira, denominada Política Industrial, Tecnológica e de Comercio Exterior (PITCE), foi desenhada em 2003, não tendo sido bem aceita por alguns setores do governo, porque suas características diferiam das apresentadas no programa do PT. A segunda, chamada Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), de 2008, teve como foco o combate à crise econômica global. E a terceira, batizada de Plano Brasil Maior (PBM), procurou ajustar aspectos das duas anteriores. No entendimento do palestrante, nenhuma das três teve as adequadas características de política industrial.
O cenário para 2015, de acordo com Furtado, é preocupante. Ações que não prometam e/ou consigam resultados rápidos, tenderão a ficar de fora dos planos do governo, e o setor da química fina é um dos que devem estar vigilantes quanto a isso. Especificamente na questão da política de acesso a medicamentos, o alerta é de que os bons resultados já alcançados pelas ações específicas para essa questão nas três políticas industriais precisam de melhor divulgação. Ele acredita que a sociedade não vem sendo devidamente informada quanto à economia já alcançada, e é ela que pode efetivamente validar o uso de recursos públicos nessa ação da política industrial, não sendo suficientes apenas os argumentos quanto à economia futura, por maior que seja a possibilidade de ser alcançada.