Os novos titulares para o comando das principais áreas econômicas estão definidos, e as anunciadas medidas de ajustes da economia deverão ser tomadas muito rapidamente. Não tenhamos dúvidas de que elas irão atingir, em maior ou menor grau, vários setores de nossa economia, entre eles o que integra as empresas nacionais que atuam na cadeia produtiva de medicamentos para uso humano.
Para uma boa compreensão da importância dessas empresas e suas principais dificuldades, recomendo a leitura da revista FACTO, publicação oficial da ABIFINA, em seu número 40, e cujo conteúdo pode ser encontrado na Internet. O Editorial assinado pela Direção da entidade e o artigo cuja chamada encontra-se na capa (Insumos ativos e intermediários químicos: o elo frágil das cadeias de produtivas da química fina) podem, inclusive, servir como alertas nas análises de possíveis desdobramentos das medidas que serão tomadas e, se possível, com assessoramento de equipe do Ministério da Saúde, somada, idealmente, a membros que representam o setor produtivo no Gecis.
O primeiro dos sinais para as dificuldades que surgirão pode ser notado na rápida desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar. No período de 01/07/2014 a 15/12/2014, a variação (pelo valor de compra) foi de 21,90%, e espera-se que, nos primeiros meses do ano, o valor de venda da moeda americana possa estar entre R$ 2,70 e R$ 2,75. As consequências para importadores de insumos críticos serão logo notadas, independentemente dos impactos em outros elementos de custos que compõem a cadeia produtiva de medicamentos. Vale lembrar que as empresas nacionais são fortemente dependentes dos denominados Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), a maioria produzidos no exterior e, para as poucas indústrias farmoquímicas nacionais, as dificuldades estarão na importação de intermediários químicos para a produção de, ainda poucos, IFAs.
A situação que nos parece também grave é a que certamente afetará o Ministério da Saúde, já que a importação de alguns tipos de medicamentos, necessários às muitas atividades de assistência farmacêutica no âmbito do SUS, são de sua responsabilidade, seja por compras centralizadas, ou apoiando as descentralizadas, subsidiando as realizadas por estados e municípios. Entre esses medicamentos, encontram-se, principalmente, alguns de última geração, denominados genericamente de biológicos, produzidos por modernos processos biotecnológicos e com alto valor unitário.
Também deve ser objeto de atenção o possível contingenciamento de recursos destinados à inovação nesses setores, o que contribuirá para aumentar nossa defasagem tecnológica, com perda de eventuais oportunidades para diminuirmos nossa dependência externa.
Por último, é importante que não ocorram retrocessos em políticas sociais que contribuam para a saúde da população, como as voltadas para as assistências farmacêutica e alimentar.