A indústria brasileira de química fina entra em 2014 com perspectivas animadoras, mas em alerta. Em um ano eleitoral, a expectativa é que o próximo governo preze pela manutenção da maior conquista das últimas décadas: a implantação de políticas públicas voltadas para o estímulo à produção local e à inovação tecnológica. É diante deste quadro que a nova diretoria da ABIFINA, eleita em março, assume a entidade, mantendo o presidente Ogari Pacheco. A prioridade para o biênio 2014-2016 é seguir trabalhando com transparência, ética e compromisso com o desenvolvimento econômico nacional, mas intensificando o olhar para a inovação e a biotecnologia.
A composição atual da diretoria reflete a bem-sucedida estratégia histórica da ABIFINA em articular o setor com o governo. Tendo no currículo diferentes posições assumidas no Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães ocupa o recém-criado cargo de 2º vice-presidente da entidade. Akira Homma, ex-diretor de Bio-Manguinhos e ex-vice-presidente de Tecnologia da Fiocruz, assume o também novo posto de vice-presidente de Biotecnologia. Os dois são parceiros de longa data da ABIFINA na busca de soluções para reestruturar a indústria nacional de química fina, esforço do qual resultam, por exemplo, as Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs).
O modo de articulação com o governo é um grande capital da entidade que, mais uma vez, está sendo reforçado com a nova direção, mas vai além dela. Tanto que fazem parte do quadro de associados empresas privadas e laboratórios públicos, o que intensifica o diálogo entre as duas esferas.
Outro ponto é que, mais que negociar com lideranças políticas, a entidade conta com a participação ativa de analistas de governo em seus cinco comitês técnicos (Grupo de Apoio Jurídico, Farmoquímico-Farmacêutico, Biotecnologia, Propriedade Intelectual e Agro), nos quais podem expor uma visão realista dos limites e das possibilidades da estrutura governamental. Os comitês se consolidaram, portanto, como espaços de debate sobre temas críticos e de estabelecimento de posições dos associados para o governo.
Ao reassumir a Presidência na cerimônia realizada na sede da ABIFINA, no Rio de Janeiro, dia 27 de março, Pacheco destacou as conquistas da entidade, resultantes dessa linha de atuação. Mas ressaltou: ainda há muito a ser feito. “Demos os primeiros passos para alcançar a independência da indústria, mas ainda precisamos avançar para sedimentar, por exemplo, o setor farmoquímico, que apesar de representativo ainda é altamente dependente. A biotecnologia, nossa aposta de futuro, precisa ser desenvolvida”, afirmou o presidente.
Mantido no cargo de 1º vice-presidente da ABIFINA, Nelson Brasil pontuou a necessidade de se manter um diálogo próximo e aberto com o governo, para que as políticas públicas voltadas para o setor sejam continuadas no longo prazo. “A ABIFINA tem um longo histórico de atuação junto ao governo e a nova diretoria se compromete a dar continuidade às ações já iniciadas, prática rara num país que tem por hábito criar programas a cada nova gestão”, defendeu.
Nelson Brasil também comemorou a formação plural da diretoria do biênio 2014-2016, integrada por nomes representativos de todos os setores associados. Defendeu ainda a criação do núcleo de biotecnologia e a chegada de Akira Homma. “Akira figura entre os nomes internacionais de maior importância na biotecnologia. A nossa expectativa com sua chegada é desenvolver e estimular empresas nascentes brasileiras nessa área e desenvolver a biotecnologia no País”, afirmou o 1º vice–presidente. “Estou muito honrado de assumir esse cargo e vou trabalhar para atender às expectativas”, complementou Homma.
O novo 2º vice-presidente, Reinaldo Guimarães, aproveitou a ocasião para apresentar a proposta da Fiocruz de realizar parceria com a ABIFINA para fortalecer a produção de antibióticos no Brasil, e também falou de suas expectativas quanto à nova gestão. “A ABIFINA é a principal entidade representativa do setor farmo no Brasil. Além de sua tradicional inserção no subsetor farmoquímico, conta hoje com muito significativa participação nos subsetores farmacêutico e biotecnológico em saúde. A P&D e a biotecnologia são os novos desafios para o desenvolvimento da química fina no País e me empenharei para ajudar a indústria a superar esses desafios”, declarou.
Na mesma cerimônia, foram apresentados os resultados do biênio 2012-2014 e os planos para a próxima gestão. Entre os eixos estratégicos, estão o apoio a empresas nascentes (especialmente no campo da biotecnologia), a proximidade com o governo, o acompanhamento de decisões no Congresso Nacional e a continuidade do apoio e fortalecimento das PDPs.