REVISTA FACTO
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Out-Dez 2013 • ANO VII • ISSN 2623-1177
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INCENTIVO AO POTENCIAL DA QUÍMICA FINA BRASILEIRA
//Entrevista Luciano Coutinho

INCENTIVO AO POTENCIAL DA QUÍMICA FINA BRASILEIRA

Historicamente, o BNDES tem sido uma das agências governamentais  que mais apoiam a reestruturação da indústria da  química fina. Exemplo clássico nesse sentido foi a criação do  programa de fomento Profarma, em 2004. A partir do intenso  diálogo com o setor produtivo, o banco busca outras soluções  para os gargalos do setor. O presidente Luciano Coutinho avalia  a seguir a situação atual da estrutura produtiva brasileira e as  possibilidades de suporte por parte do BNDES, como o estudo a  ser lançado em 2014 sobre as oportunidades de diversificação e  atração de novos investimentos nas diversas cadeias produtivas  da indústria química.

Como o senhor vê a possibilidade de recuperação da indústria de  química fina brasileira, considerando o pouco espaço para os insumos  farmacêuticos ativos nacionais no mercado interno?

Houve, de fato, uma desmobilização da cadeia produtiva farmoquímica  e farmacêutica na década de 1990, por uma conjugação  de fatores conjunturais e estruturais. A despeito desseprocesso, grande parte dos produtos de química fina foramobjeto de forte commoditização no mercado internacionalcom a ascensão de China e Índia nos últimos 20 anos. Assim,  do ponto de vista estrutural, a indústria farmoquímica efarmacêutica brasileira só poderá se fortalecer no País se ampliar  seus esforços de inovação, dedicando-se seletivamenteaos itens de maior valor agreagado e desmarcando-se da concorrência  internacional da maior parte dos produtos, baseadaprincipalmente em preço. Essa percepção tem guiado a atuação  do Banco desde a criação do BNDES Profarma, em 2004.

Nesse sentido, as políticas públicas de saúde têm buscado fortalecer  a indústria de química fina utilizando especialmenteduas principais políticas, o forte incentivo à inovação tecnológica  e a utilização das compras públicas em saúde comoelemento indutor do desenvolvimento industrial brasileiro.  Em primeiro lugar, há que se incentivar a ampliação dos esforços  de pesquisa e desenvolvimento no País, como forma deampliar gradativamente as competências fundamentais paraque a indústria seja competitiva no longo prazo. A ação doBNDES Profarma busca ampliar esse processo. Por sua vez, as Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), realizadas  entre laboratórios públicos e privados, têm sido uminstrumento importante de estímulo à produção de medicamentos  e insumos farmacêuticos considerados estratégicospara a Política Nacional de Saúde.

Como perspectiva, acredito que o desenvolvimento da indústria  farmacêutica no Brasil em direção a produtos de maiorvalor agregado tende a demandar insumos de maior conteúdotecnológico, em que a escala não é fator crucial. As empresasfarmoquímicas devem estar atentas para ocupar esses espaços  competitivos. Essa me parece ser a estratégia mais viávele adequada para criar as condições de recuperação de nossaindústria farmoquímica.


A indústria de defensivos agrícolas passa por um momento ainda  pior que a farmoquímica. A fabricação nacional de princípios ativos  foi paralisada, assim como a formulação dessas substâncias. O que  fazer para que o segmento retome a produção local?

O mercado brasileiro de defensivos agrícolas alcançou em2012 vendas de aproximadamente US$ 8 bilhões em um mercado  global de US$ 47 bilhões. Ou seja, o Brasil representacerca de 17% desse mercado mundial. Entretanto, temos umelevado e crescente déficit com a balança comercial no segmento,  que alcançou US$ 5,5 bilhões em 2012.

Tais números refletem a existência de um mercado grande, sofisticado e promissor, como o agronegócio brasileiro, e anecessidade de incentivar a produção local.

Um importante esforço do governo foi efetuado em 2012, com a revisão da legislação sobre preços de transferência, por  meio da Medida Provisória 563/2012, que foi convertida emlei no mesmo ano. Uma segunda frente de trabalho se localiza  na questão da velocidade de obtenção de registros deprodutos no país, o que seria importante para incentivar investimentos  produtivos locais. Esse tema pertence à agendado Conselho de Competitividade da Indústria Química, doPlano Brasil Maior, e já está sendo discutido no governo pelaCasa Civil, com o apoio do MDIC, da Anvisa, do Ibama e doMinistério da Agricultura.


“SERÁ NECESSÁRIO DESENVOLVER  EMPRESAS BRASILEIRAS  CAPACITADAS E COMPETITIVAS  PARA OCUPAR O GRANDE  MERCADO DA NDÚSTRIA QUÍMICA.  SE CRIADAS CONDIÇÕES SETORIAIS  DE INCENTIVO E RENTABILIDADE, O  BANCO APOIARÁ”


Finalmente, o BNDES contratou um estudo destinado a avaliar  oportunidades de diversificação e atração de novos investimentos  nas diversas cadeias produtivas que compõem aindústria química, a fim de avaliar aquelas em que o Brasiltem as melhores condições competitivas para se tornar umplayer global relevante. Entre esses segmentos, estão os dequímica fina, seus insumos e produtos formulados. O estudo  ficará pronto até junho de 2014. Além dos instrumentosclássicos de defesa comercial e da produção local, que já vêmsendo aplicados pelo governo – tarifas, investigações antidumping  etc -, o estudo também deverá indicar outras políticas  públicas que incentivem ainda mais a produção local. Será necessário, sem dúvida, desenvolver empresas brasileirascapacitadas e competitivas para ocupar esse grande mercado. Se criadas condições setoriais de incentivo e rentabilidade, oBanco apoiará.


Quais as medidas na área de fármacos e químicos desenvolvidas  pelo BNDES sob sua Presidência que V.Sa. destacaria como as mais  importantes de sua gestão ?

Destacaria todo o esforço que o BNDES vem empreendendode fortalecimento do Complexo Industrial da Saúde em estreita  parceria estratégica com o Ministério da Saúde e com aAnvisa. Desde 2007, o BNDES Profarma foi ampliado duasvezes, contanto agora com orçamento de R$ 5 bilhões e focoespecial nos medicamentos biotecnológicos. Enxergamosnessa rota uma grande oportunidade e temos nos empenhado  em induzir estratégias inovadoras por parte das empresasbrasileiras.

Luciano Coutinho
Luciano Coutinho
Doutor em Economia pela Universidade de Cornell (EUA) e professor convidado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
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