O biotério tem a missão de estudar e desenvolver o manejo e reprodução das cobras-corais
No dia 30 de julho, o Instituto Vital Brazil inaugurou o primeiro biotério especializado para a criação de micrurus no Brasil. O objetivo é obter condições para o desenvolvimento e manejo adequado da cobra-coral para produção de veneno, fabricação do soro e reprodução do gênero.
“Atualmente o Vital Brazil não produz o soro contra a picada de cobra-coral por falta do veneno dessa espécie”, disse Carlos Corrêa Neto, pesquisador do instituto e coordenador do projeto. Acidentes com micrurus são raros, porém perigosos. O instituto recebeu R$ 40 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para financiar o projeto.
As serpentes do gênero micrurus, chamadas de cobra-coral, são serpentes pequenas e de colorido intenso disposto em anéis, das cores vermelho, preto, branco e amarelo. A espécie possui uma peçonha neurotóxica, ou seja, atinge o sistema nervoso, com dormência na área da picada, problemas respiratórios e caimento das pálpebras, o que pode levar uma pessoa adulta a óbito em poucas horas. De acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde, acidentes com corais correspondem a 0,7% dos 26.905 casos registrados no Brasil (incidência de acidentes ofídicos registrados no Brasil, 2008).
Segundo o pesquisador, “o ponto principal é a criação de um ambiente climatizado que propicie a sobrevida das espécies, que ainda é muito baixa no País. O insucesso em criar essas espécies pode estar muito mais relacionado à falta de um ambiente favorável para mantê-las com umidade e temperatura controladas”. Segundo ele, as variações térmicas no Rio de Janeiro são muito altas quando comparadas com as da Costa Rica (onde se consegue manter a cobra-coral por longos períodos em cativeiros). Lá em quase todo ano a temperatura se mantém próxima a 27º C e parece ser o ponto chave para a criação dessas espécies em cativeiro.
Além da reprodução, espera-se construir um plantel de serpentes do gênero micrurus representativo da região Sudeste do Brasil. Esses animais serão usados para a produção de veneno, que deverá suprir outros novos projetos no campo da toxinologia e também como material científico para estudos da biologia geral dessa serpente.
Sobre as corais
A espécie têm hábitos noturnos. Vive sob folhas, galhos, pedras, buracos ou dentro de troncos em decomposição. Alimenta-se, principalmente, de outras serpentes e anfisbenídeos (cobras-cegas). Os reduzidos tamanhos das presas (por onde sai o veneno) e a pequena abertura bucal podem explicar o baixo número de acidentes registrados por esse gênero.
O Instituto Vital Brazil (www.vitalbrazil.rj.gov.br) é uma empresa de ciência e tecnologia do Governo do Estado do Rio de Janeiro ligada à Secretaria de Estado de Saúde. É um dos 21 laboratórios ofi- ciais brasileiros, um dos quatro fornecedores de soros contra o veneno de animais peçonhentos e um produtor de medicamentos estratégicos para o Ministério da Saúde.